AMgóes >>>Na
terça-feira da semana passada, dia 6, o ex-presidente Lula, entrevistado pela
Rádio Metrópole/FM de Salvador, deixou bem claro que, apesar de reiteradas
sugestões que lhe fazem, não fugirá do Brasil caso seja decretada sua prisão,
confiando surrealmente, como frisou, ‘em nossas instituições republicanas e
democráticas, ora apodrecidas.
No
curso da tarde da mesma terça-feira, 6, o Superior Tribunal de Justiça, pelo voto
unânime de seu colegiado, negou o ‘habeas corpus’ contra sua eventual prisão ao
fim dos recursos impetrados na segunda instância, o TRF-4 de Porto Alegre, onde
sua pena de nove anos, decidida por Sérgio Moro, em Curitiba, foi elevada para
doze e um mês.
Tanto
na Rádio Metrópole da Bahia como na entrevista a Mônica Bérgamo, da Folha de S.
Paulo, na semana anterior, Lula foi
incisivo ao enfatizar que iria até as últimas consequências.
A
retórica do ex-presidente, inimigo número um da quadrilha golpista que se
apropriou do poder em 2016, de que ‘amo o Brasil e jamais deixarei este país’,
uma reformulação daquela marchinha de carnaval que dizia ‘daqui não saio, daqui
ninguém me tira’, deixa clara uma, digamos, recalcitrância conciliatória, pedra filosofal
majoritária do Partido dos Trabalhadores, que norteou os governos Lula e Dilma.
Malgrado, recordemos, a sucessão de porradas desferidas a partir do
famigerado ‘Mensalão’, processo instaurador, entre nós, da tal ‘teoria do
domínio do fato’, mecanismo jurídico adulterado pelos tribunais da Alemanha
nazista para condenar à morte supostos inimigos de Hitler.
A
vitória eleitoral em 2002 consolidou, nas instâncias domésticas do PT,
notadamente em seu núcleo centralizador das ações programáticas de inclusão
social, a ideia de que, a partir de 1º de janeiro de 2003, estaria ‘tudo dominado’ e, em consequência, a Globo enfim
seria ‘nossa’.
Mundo
afora, ato contínuo ao anúncio oficial do resultado das urnas, o candidato
vencedor e seu partido promovem entrevista coletiva de que participam e formulam
perguntas todos os órgãos de imprensa, nacional e estrangeira. Aqui
o ritual tem sido diferente, desde a ditadura
dos generais: no primeiro momento, o indefectível pronunciamento do vitorioso,
aboletado na sacada de um prédio
qualquer(a de Lula, em 2002, em meio ao ‘frisson’
da vitória, foi da varanda de seu apartamento em São Bernardo do Campo). No dia
seguinte, a suprema glória: entrevista exclusiva à Rede Globo, na bancada do
Jornal Nacional.
Daí
o cacoete, consolidado no comando petista, de que doravante tudo mesmo, inclusive
- e principalmente – as organizações Globo,
estava ‘dominado’, com os veículos
midiáticos conservadores ‘comendo em nossa
mão’.
O
primeiro grande golpe desferido contra o PT foi o desmonte de José Dirceu,
provável aspirante, segundo a ordem
natural do processo, à sucessão de Lula, oito anos depois. Afora penduricalhos
persecutórios de menor monta, incluídos como ‘pano de boca’ na relatoria do ministro
Joaquim Barbosa, no STF, que lhe
garantiram permanentes holofotes da Globo, o alvo mesmo era Dirceu, sem dúvida
o garantidor da ampliada aliança eleitoral responsável, depois de bater na
trave por três vezes consecutivas, desde os idos de 1989, pelo contagiante sucesso do projeto petista
nas urnas, um contraponto à desgastada e entreguista temporada demotucana de
FHC.
Sabe-se agora, por conta de
ferrenha pressão da Rede Globo, que a escorregadia presidente do Supremo, ministra
Cármen Lúcia, insiste em não pautar a análise das Ações Declaratórias de
Constitucionalidade, relativas ao tema controverso e mal-alinhavado da prisão
após condenação em segunda instância, apesar da anunciada disposição da maioria
de seus pares quanto à revisão do tema, motivo de reiterados recursos de
cidadãos sujeitos à referida excrescência constitucional.
Dessa forma, fecha-se o cerco e
Lula caminha estoicamente para as grades sem apelação, com a sentença do caso ‘triplex do Guarujá’, saída
da ‘convicção’ de um juizeco de primeira instância, ainda que sem qualquer
prova para subsidiá-la, pois, afinal, ‘prova’ não vem ao caso.
Por fim, uma perguntinha básica: quais mesmo as ‘últimas
consequências’ que Lula se declara decido a enfrentar? A ilusória resistência
cidadã de uma base social desmobilizada desde sua posse em 2003, quando se
achou que estava ‘tudo dominado’ indica que o ex-presidente, caudatário de
equivocada ‘conciliação de classes’, ruma em marcha batida para os umbrais da
Papuda em séquito de viaturas da Polícia Federal e profusão de estratégicas
câmeras da Globo, um espetáculo que visa a mostrar ao mundo a imagem de um ex-presidente corrupto, alcançado pelo
braço implacável da lei, enfim confinado à prisão.
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