terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Herdeiros  de  falidas  oligarquias  apagam História do Rádio em cidade multissecular    do interior alagoano


A autofágica intenção dos herdeiros de falidas oligarquias políticas de Penedo  em  apagar a História contemporânea da multissecular cidade, lenientes com sua progressiva degradação urbana, oficializa o desmonte  de  um marco  exponencial   da  comunicação  radiofônica  no estado de Alagoas.

Na postagem do site ‘aquiacontece.com.br’(AQUI), a concelebrada infâmia - com foros de judicializada politicalha, para justificar suposta ‘deterioração do imóvel que tem excelente localização e valor histórico inestimável...’ - configura-se com o propósito(não especificado) de transformar o casarão em sede de ‘atividades da Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Juventude (SEMCLEJ)’.

Medida pertinente se destinada, por exemplo, a um ponto de referência histórica sobre o Rádio alagoano, em parceria com a Capital e outras cidades do estado, a integrar a capilaridade da Comunicação que, além do convencional e ‘hertziano’ espectro eletromagnético,  majoritariamente em ‘frequência modulada’, hoje navega, via ‘aplicativos’, na rede mundial da internet.

Indigna-me, para além do discutível (des)propópsito de serventia do imóvel, a deletéria decisão do Executivo de Penedo, com a majoritária cumplicidade de vereadores, em disseminar ‘fake news’ para  entronizar o falecido ex-prefeito Hélio Lopes, pai do atual, como o ‘pioneiro’ do Rádio no interior de Alagoas, creditando-lhe, com fraude histórica(por ele jamais avocada, oportuno lembrar), o mérito na concessão radiofônica supostamente entregue, de mão beijada, à Mitra diocesana.

Deslavada e sórdida mentira! A Emissora Rio São Francisco Ltda, no ar, em  fase experimental, às 15 horas do sábado 25 de abril de 1959(este AMgóes, aos 16, estava lá, com outros pioneiros), foi um projeto idealizado pelo quarto bispo de Penedo, d. José Terceiro de Souza, assessorado pelo jovem Padre Hildebrando Veríssimo Guimarães, jornalista formado na PUC de Porto Alegre, único à época, na imprensa de Alagoas, com essa prerrogativa acadêmica,  concomitante com os estudos do presbiterato eclesial.  

D. José Terceiro, chegado a Penedo em 1957, procedera de Salvador, bispo-auxiliar de D. Augusto Álvaro da Silva, cardeal primaz da Bahia. Amigo pessoal do presidente Juscelino Kubitscheck, viabilizou, em curto prazo, a concessão de uma frequência de rádio, em ondas média(AM) e tropical(curta). Contrapartida:  a transmissão do programa ‘Escolas Radiofônicas’ para alfabetização(remota) de adultos, originário da Colômbia e implantado na Arquidiocese de Natal(RN) por d. Eugênio Sales, sob auspícios do Ministério da Educação. As ‘Escolas Radiofônicas’ foram  um sucesso, até sua desativação compulsória(e criminosa) pelo golpe de 1964, tidas como ‘nefasta propaganda comunista’, por estruturadas nas revolucionárias premissas socioeducativas de Paulo Freire, nosso laureado pedagogo nas mais renomadas universidades do planeta e patrono da Educação brasileira.

D. José Terceiro de Souza

A Emissora Rio São Francisco, sob o epíteto de ‘voz da unidade nacional’(alusivo ao ‘Velho Chico’), foi um divisor de águas nas seculares manifestações culturais de Penedo. Transmitimos tuuudo naqueles distantes tempos: missas, procissões, futebol, carnaval, jornais-falados, esquetes teatrais, política, cotidiano, uma miscelânea do caráter eclético e polidimensional de nossa neófita(e pretensiosa) programação. Através dos dois mais experientes  comunicadores de nosso ‘cast’, Haroldo Lessa e Andrade Filho, incorporo emocionada referência a todo o grupo de versáteis companheiros daqueles primórdios, fazedores, com engenho e arte,  de ‘coisas’(boas) das quais ‘até Deus duvida’.

Mons. Hildebrando
 Veríssimo Guimarães

Nas décadas subsequentes, já sem D. José Terceiro e Padre Guimarães(que seria pró-reitor na Universidade Federal de Alagoas), adveio recorrente inépcia gerencial dos prepostos da Diocese, com imersão da Emissora Rio São Francisco na areia movediça de fortuitos arrendamentos(ilegais, mas delituosamente usuais no Brasil, sob omissão fiscalizatória do poder concedente), até outras graves infringências que implicaram o fim da outorga.

Concessionário de uma rádio FM em Penedo, integrante de controverso grupo político dissociado das demandas locais, a exemplo de outros pretensos(e pranteados) ‘grandes líderes’ nativos, coincidentemente gestados nas sinecuras autoritárias, quase 60 anos atrás, o atual prefeito de Penedo quer reescrever a crônica citadina à luz de fugaz ideário cartorial dos ‘seus’, no rumo inverso à expectativa dos bolsões periféricos que o elegeram.

Todavia, dialeticamente predisposto a acreditar nos insondáveis bons propósitos dos circunstantes, compete-me a espera de salutar contraditório que afinal confira à Emissora Rio São Francisco, diluída pela insipiência dos que testemunharam seu  nascedouro e a deixaram soçobrar, uma póstuma e reconhecida lembrança de seus marcantes dias de glória, em patamar oposto às incongruências comportamentais de quem quer que seja.

(AMgóes)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

 Autocrítica: por que Lula e o PT , para se diferençarem da direita, não a fazem?


Em instigante conversa com apresentadores do podcast "Podpah'', de São Paulo, nessa quinta-feira(2), que 'bombou' nas redes sociais, o ex-presidente Lula descartou a 'autocrítica' como recurso de inflexão pessoal,  extensivo ao Partido dos Trabalhadores. 

O povo fica falando ‘você não tem autocrítica’. Por que eu mesmo iria me criticar? Deixa os adversários criticarem. Nunca vi ninguém pedir autocrítica pro FHC. Sabe por que não faço autocrítica? Porque quero que vocês me critiquem...” 

'Autocrítica' é um processo a que se submetem indivíduos ou instituições, 'por dentro' de si mesmos, à margem de obstinadas convicções ou dogmas comportamentais, sobre continuadas ou eventuais impropriedades no curso da História, na perspectiva de  pertinentes  correções e aprimoramentos.
 
Ainda que se nos apresente como repto meramente provocativo e desqualificante, o princípio do 'contraditório'  é salutar  na construção de uma sociedade democrática, levando-nos a imergir às profundezas viscerais para constatar percepções dogmáticas urdidas em arraigadas idiossincrasias. 

Recorrer, como regra,  ao juízo alheio pode soar como festejado atributo de modéstia e altruismo, mas  negaceia a admissão, gestada no subconsciente, de ocasionais incoerências em nossos atos.   

Aliás, ao concordar com  o 'rapper' e compositor Mano Brown, para quem 'o lugar do PT é na periferia', Lula, com sutileza, recomendou autocrítica a seu partido, sobre  recalcitrante autossuficiência no curso dos mandatos presidenciais, com efetivo retorno às bases de onde jamais deveria ter saído(AMgóes).