quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Dilma e a Democracia à espera

do veredito do Senado

Se confirmada a tendência pela cassação da presidenta afastada, o PMDB retornará ao poder pela terceira vez de forma indireta...
Rodrigo Martins //  Renan Truffi       Carta Capital 
(com Ag. Deutsche Welle)


Resultado de imagem para fotos de dilma no senadoReeleita(AQUI) em 2014 com 54 milhões de votos, Dilma Rousseff enfrentará, nesta quarta-feira 31, o veredito do Senado. A petista tem ciência do que a espera. O número de senadores que já declararam, em algum momento, voto favorável ao impeachment é suficiente para a cassação do seu mandato, com a consequente perda dos direitos políticos por oito anos.
Se os parlamentares mantiverem a posição anunciada anteriormente, Dilma será a primeira presidente a deixar o cargo desta forma. Em 1992, Fernando Collor de Mello renunciou antes da votação final – algo que a petista, ex-militante da luta armada contra a ditadura, sempre se negou a fazer.
Na coordenação do julgamento do impeachment, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski permitiu que os pronunciamentos de senadores avançassem pela madrugada, de forma a assegurar uma decisão hoje.
O início da sessão está previsto para às 11 horas. O voto será nominal e aberto, computado pelo painel eletrônico, onde o placar será divulgado. Assim, é improvável a repetição do circo montado na Câmara em 17 de abril, quando deputados assumiram o microfone para dedicar votos a parentes, vilarejos e até mesmo torturadores.
Ciente de que o processo de impeachment chegara à reta final praticamente definido,Dilma adotou um discurso(AQUI) bem mais incisivo ao depor no Senado, na segunda-feira 29. "Estamos a um passo de um verdadeiro golpe de Estado", afirmou na ocasião. Ao longo de pronunciamento de cerca de 40 minutos, Dilma acusou a oposição ao seu governo de não respeitar o resultado das urnas e de semear a crise.
“Os partidos que apoiavam o candidato derrotado nas eleições fizeram de tudo para impedir a posse e estabilidade do meu governo. Pediram auditoria nas urnas, impugnaram minhas contas eleitorais e após a posse buscaram de forma desmedida quaisquer fatos que pudesse justificar um processo de impeachment”, afirmou Dilma. "As provas produzidas deixam claro que as acusações contra mim dirigidas são meros pretextos. São apenas pretextos para derrubar um governo legítimo, escolhido em eleição direta. São pretextos para viabilizar um golpe na Constituição”.
Iniciado na quinta 25, o julgamento no Senado expôs, uma vez mais, a fragilidade da base jurídica do impeachment. Formalmente, a presidenta é acusada de violar a Lei de Responsabilidade Fiscal ao editar decretos de crédito suplementar sem autorização do Congresso, além de atrasar repasse de 3,5 bilhões de reais do Tesouro Nacional ao Banco de Brasil para pagamento do Plano Safra, programa de crédito agrícola. Para acusadores, tal prática configura um irregular empréstimo cedido por um banco estatal à União.
Esses são os atos pelos quais Dilma é julgada, mas no debate legislativo são pouco lembrados. Até mesmo os advogados que assinaram o pedido de impeachment recorrem, com frequência, a bravatas políticas. Na terça 30, Miguel Reale Jr. aproveitou o espaço aberto à acusação no Senado para atacar os governos petistas, tanto de Dilma quanto de Lula. "É uma administração pública não baseada no mérito, mas na sinecura, na difusão de que o que importa é ser malandro. O País não quer mais isso".
Janaína PaschoalJanaína Paschoal(foto), por sua vez, lançou mão de mais um discurso inflamado, apresentando-se "como uma defensora do Brasil". A advogada classificou as ações do governo Dilma como um "estelionato eleitoral" e afirmou que a falta de cortes de gastos em 2014 levou à crise econômica. "Tudo isso foi muito bom para o povo ver como é o modo PT de ser. É a enganação. É o PT que não pede desculpas”.

Não é tudo. Paschoal atribuiu a Deus a inspiração que levou tantas pessoas a se articularem o impeachment. Para completar a teatralizada preleção, pediu desculpas a Dilma pelo sofrimento imposto pelo desgastante processo. "Peço que ela um dia entenda que eu fiz isso pensando também nos netos dela", emendou, com os olhos marejados.
Defensor de Dilma no processo, o advogado José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça e da Advocacia-Geral da União, ironizou a fala de Paschoal. “Dilma foi torturada. É possível que, naquele momento, alguns de seus acusadores, tomados por uma crise de sentimentalismo, tenham dito: ‘Menina, nós estamos te prendendo pelo bem do País, nós estamos pensando em seus filhos e netos’.”
Cardozo descartou, ainda, a tese de que Dilma cometeu crime de responsabilidade fiscal, além de acusar parlamentares de distorcerem provas. “A Constituição permite que leis autorizem decretos que fazem suplementação de crédito", disse. “Os decretos podem ser baixados se houver compatibilização com as metas orçamentárias”. Segundo ele, a oposição usa “pretextos jurídicos” para promover um golpe. E alertou: a punição “pelo conjunto da obra” não cabe ao Senado, e sim ao povo.
A despeito do abrasado debate jurídico, os parlamentares não demonstraram a menor disposição de rever as posições anunciadas anteriormente. “É um julgamento(AQUI)de cartas marcadas”, observa Marcello Lavenère, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil e um dos signatários do pedido de impeachment de Collor, em 1992.
A situação de Dilma, avalia Lavenère, é radicalmente distinta daquela de 24 anos atrás. “Até os próprios senadores que afirmam, da boca para fora, que é crime de responsabilidade sabem que não existe nenhum crime”, diz. “O que hoje se discute, pedaladas e Plano Safra, são absolutamente irrelevantes para se constituir crime de responsabilidade com a gravidade de se tomar o mandato do presidente da República”.
O processo teve início em dezembro de 2015, quando o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acolheu o pedido de impeachment dos advogados Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Jr. A decisão foi tomada logo após a bancada do PT anunciar apoio à cassação do mandato do peemedebista no Conselho de Ética da Casa.
Michel TemerDe lá para cá, ocorreram ao menos quatro deliberações sobre o tema
 no Congresso. Primeiro, a Comissão Especial do Impeachment na Câmara aprovou o parecer do relator Jovair Arantes, do PTB, favorável à abertura do processo. O plenário da Casa Legislativa referendou o relatório em 17 de abril, quando 367 deputados entenderam que havia motivos suficientes para dar seguimento ao impeachment de Dilma.

No Senado, o tucano Antonio Anastasia, assumiu a relatoria do caso. Como previsto, apresentou parecer favorável à destituição da presidenta petista. O texto foi aprovado tanto na comissão especial do Senado dedicada ao tema, quanto no Plenário da Casa.
Essa última votação no plenário do Senado, em 10 de agosto, terminou com 59 votos favoráveis a levar Dilma a julgamento – prenúncio da forte tendência de aprovação do impeachment. São necessários 54 votos entre os 81 senadores para que a petista seja afastada definitivamente.
O interino Michel Temer tem pressa. Pretende viajar ainda hoje para o encontro do G20 (grupo das maiores economias do mundo) na China. Outro que não esconde a ansiedade é o senador tucano Aécio Neves, derrotado por Dilma nas eleições de 2014. Ao discursar no Senado na terça-feira 30, fez questão que acenar para a gestão do peemedebista: "O Brasil precisa de um conjunto de reformas que demandarão coragem, ousadia e determinação do novo governo e estaremos do seu lado para construir um tempo de esperança e confiança".
Se confirmado o impedimento de Dilma, o PMDB retornará ao poder pela terceira vez de forma indireta. A primeira ocorreu em 1985, quando o então vice José Sarney assumiu o governo após a morte do presidente Tancredo Neves, antes mesmo de tomar posse. A segunda aconteceu em 1992, com a renúncia de Collor. Eleito vice-presidente pelo PRN, Itamar Franco filiou-se ao PMDB pouco antes do episódio.

Defesa de Dilma: ação no STF

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BRASÍLIA - A defesa da presidente afastada Dilma Rousseff prepara um recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso o afastamento definitivo Chefe do Executivo seja confirmado no Senado. O ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e a sua equipe de advogados estão com estudos adiantados e devem apresentar um mandado de segurança.  
Dilma demonstrou disposição para questionar uma decisão desfavorável no Senado. “Não recorro ao Supremo Tribunal Federal porque não esgotei esta instância, não terminei aqui. Vim aqui porque respeito esta instituição. Mas, se (o Senado) der este passo, estará compactuando com golpe”, afirmou Dilma, ao responder ao senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que questionou por que ela não recorreu ao STF contra o que chama de “golpe”.
Os recursos propostos pela defesa de Dilma à Corte, até agora, ficaram circunscritos a questões de procedimento. Os ministros têm mostrado resistência à ideia de reverter uma decisão do Legislativo. Dias antes da votação sobre a admissibilidade do processo na Câmara, em abril, o plenário do STF impôs uma série de derrotas à presidente e manteve a votação.
O ministro Teori Zavascki, em maio, negou um pedido para suspender a decisão da Câmara. O argumento usado pela defesa da presidente – que ainda não havia sido afastada – era de que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) conduziu o impeachment apenas para se defender de seu processo de cassação. Teori, porém, entendeu que a questão invadia o mérito do processo, o que, para ele, não é uma análise que deve ser feita pelo Judiciário.
A decisão de Teori, para a defesa de Dilma, é um dos sinais de que o STF pode evitar se debruçar sobre a principal discussão em torno do impeachment: se ocorreu de fato crime de responsabilidade.
Estratégia. Os advogados estudam a melhor estratégia para propor um recurso que entre no mérito da discussão, mas sem ultrapassar os “limites” estabelecidos pelo STF. A defesa deve usar o argumento de que, no impeachment do ex-presidente Fernando Collor, a maioria do Supremo foi contra voto do ministro Paulo Brossard, para quem a Corte não deveria analisar a decisão do Legislativo sobre processo de impeachment.
O recurso deverá ser abrangente e o eixo central será a ausência de justa causa para processar a presidente. Dentro deste pressuposto, serão incluídos todos os atos que a defesa vê como “contaminados”.

Um dos pontos que têm sido questionados por Cardozo é o impedimento dos senadores. Apesar de ter o dever de atuar como juízes, boa parte dos parlamentares declarou como seria o voto antes mesmo do início do julgamento. Outro ponto que deve ser abordado é a declaração de suspeição, feita pelo presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, do procurador do Ministério Público junto ao TCU Julio Marcelo de Oliveira. Cardozo tem alegado que, pela Constituição, nenhuma lesão a direito pode ficar sem análise do Judiciário.

Minha  Casa,  Minha Moura ! Centrão(do Cunha)  controla 

programas sociais

moura
Na Folha de S. Paulo, os novos tempos republicanos do Governo Temer, capitaneados por André Moura, o braço direito de Eduardo Cunha transformado(AQUI) em líder do governo Temer:
No discurso de campanha da mulher, Lara Moura (PSC), o deputado afirmou que a distribuição das casas no estado será uma atribuição exclusiva dele, e não do Executivo. Ela é candidata a prefeita de Japaratuba (SE).
– Nós vamos agora construir, o governo federal, o presidente da República do qual eu sou o líder, vai construir 70 mil casas populares no Brasil. Destas 70 mil, 4 mil vão ser para Sergipe. E sabe quem é o único cara de Sergipe, no meio de 2 milhões de sergipanos que existem, o único que vai distribuir aonde vão ser construídas essas 4 mil casas? André Moura. Fazer o quê? Doa a quem doer — disse o líder de Temer.
O comício ocorreu no último fim de semana, no povoado de São José, que integra Japaratuba. O líder afirmou aos eleitores presentes que “quem pode é André Moura”.
— Agora eu sou líder do governo e quem pode fazer sou eu. Sabe quem tem prestígio em Brasília, quem tem poder para liberar recursos federais em Brasília? Não tem deputado federal, não tem senador, não tem governador, só tem André Moura, doa a quem doer, essa é a verdade. Então vamos construir essas casas populares, vamos atender Ilha das Flores, vamos atender outros municípios, vamos resolver o problema de quem não tem casa em São José e Japaratuba, porque quem pode é André Moura.
Quem pode é André Moura.  Viva a moralidade!

Senador do PSB/MA: promessa de diretoria no BNB para votar contra Dilma

no 'PAINEL'                       Resultado de imagem para Imagem da logo da Folha online
rocha

Fica, vai ter cargo O senador Roberto Rocha (PSB-MA) será contemplado com uma diretoria do Banco do Nordeste em troca de voto favorável ao impeachment.
Não se afobe, não A oferta veio após o congressista ser procurado por Lula. Assim que soube do encontro, Temer agiu para evitar que Rocha pulasse para o lado de Dilma Rousseff.

Cardoso repele baixaria de

Janaína  Pascoal  usando

neto de Dilma Rousseff

                    >>Assista ao vídeo<<

     protestocardoso
Publico, ainda que seja vomitivo o tema,  o protesto de José Eduardo Cardoso contra a indignidade de Janaína Pascoal, fingindo-se chorosa, dizer que “eu fiz isso [o impeachment de Dilma Rousseff] pensando também nos netos dela”.
Como disse antes, a o fato de ser uma mulher a protege do adjetivo que mereceria por esta sordidez.
Melhor ficar com o protesto, emocionado, do advogado de Dilma, abaixo...
                       

Como em 1964, apoiadores do golpe  podem  se   arrepender 




Valter Campanato/Agência Brasil: <p>Brasília - O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, o ex-presidente da Fernando Henrique Cardoso, e governadores tucanos em reunião na sede da Executiva Nacional do PSDB (Valter Campanato/Agência Brasil)</p>

Os historiadores de hoje qualificam de civil-militar o golpe   de 1964, pois não teria prosperado sem apoio de políticos de direita,  da Igreja conservadora e de todos os jornais,     exceto Última Hora.    Todos se arrependeram, foram golpeados,    pediram a  volta da     democracia e foram banidos da paisagem.       Arrependimento e vergonha   terão também os algozes da presidente Dilma, se consumarem hoje o golpe sem tanques,     em vestimentas    formais que     não lhe    mudam  a natureza.      Que ganharão eles além da pecha indelével de golpistas em suas biografias? Os favores de um governo que vem aprofundando a  crise  econômica  e  cindirá  perigosamente  o  Brasil,  ao  invé   de unificá-lo? As graças de Temer, um presidente impopular  e ilegítimo, que segundo a procuradora Ela Wiecko estará nas próximas  delações da Lava Jato?   As graças do empresariado    que já   não  pode   fazer doações eleitorais? Muito pouco para tão grande mácula. Muito pouco diante da ferida que será aberta e das consequências que virão.

No penúltimo capítulo deste drama, a sessão de ontem à noite, os senadores se revezaram na tribuna, falando cada um por dez minutos. Foram falas de dois mundos. Os aliados da presidente Dilma advertindo sobre o crime contra a democracia que sua deposição representará, num processo que retorceu as leis para forjar crimes e pretextos jurídicos que a defesa jogou por terra, inutilmente. Os golpistas, repetindo a algaravia de ressentimentos e preconceitos, tangenciando a acusação formal, as pedaladas e decretos ordinariamente praticados e nunca antes criminalizados. Mais uma vez, voltaram-se para o “conjunto da obra”, reduzindo o ciclo de governos petistas a uma terra arrasada pela incompetência e a corrupção, dela subtraindo todas as transformações ocorridas no Brasil nos últimos 13 anos e meio. “Eles não sabem nem tocar uma padaria”, disse o “profundo” senador Zezé Perrela, o homem do helicóptero. Depois dele, Lindberg Farias, dirigindo-se a Dilma com mais um discurso antológico, recordou tudo que eles, e as elites a que servem, nunca digeriram. Tudo que ruminaram na tribuna para justificar o voto a favor da violação da vontade popular: gasto público com políticas sociais, pobres em aviões, filhos de favelados em universidades, redução da desigualdade, domésticas com direitos trabalhistas, política externa ativa e altiva, zelosa da soberania e solidária com os emergentes e os povos mais pobres. Em 1964, seus similares também falaram muito em corrupção, incompetência e ingovernabilidade, além do perigo comunista representado por um governo que prometia reformas de base e reforma agrária.

A quartelada de 1964 venceu com o apoio de três governadores que, ambicionando a Presidência, queriam se livrar de Jango, que poderia tentar aprovar a emenda da reeleição, e de um candidato forte como Leonel Brizola. Que o primeiro fosse deposto e o segundo, cassado, calcularam. Eram eles Carlos Lacerda (GB), Magalhães Pinto (MG) e Adhemar de Barros (SP). Pouco tempo depois a ditadura acabou com as eleições diretas e os três foram cassados. Um dos jornais que pediu o golpe, o Correio da Manhã, logo se arrependeu. Arruinado pela ditadura, fechou. A Igreja que fez as marchas pedindo ou saudando o golpe viu padres serem perseguidos, presos e assassinados. Boa parte dos clérigos abraçou a Teologia da Libertação e a Igreja se reposicionou, em defesa da democracia e dos direitos humanos.

Os castigos que esperam os golpistas de hoje são outros, e as razões para arrependimento também. O que os espera não é apenas a responsabilização diante da História por um crime contra a democracia, não é só o desprezo das gerações futuras por mais uma violação da vontade popular. Volto aos historiadores lembrando José Honório Rodrigues, quando apontou a prática recorrente da “conciliação pelo alto”, por elites que fazem do povo ator secundário, “capado e sem voz, subjugado e sangrado”. O impeachment é mais uma “conciliação pelo alto”, entre os partidos que se juntaram a Temer e ao PMDB para tomar o poder, o empresariado, o mercado, as mídias e a aliança judicial-policial, afora os interesses externos. Os tempos são outros, porém. Se o golpe prevalecer, quando Temer tentar implementar sua agenda antipopular, não haverá silêncio nem passividade diante da perda de direitos, da devastação das condições de vida, do agravamento da situação econômica, da frustração com resultados levianamente prometidos, como se todas as dificuldades que os brasileiros hoje enfrentam fosse terminar com a remoção de Dilma e do PT. Talvez não consigam sequer “estancar a sangria da classe política” pela Lava Jato, plano revelado por Romero Jucá. Desafiada a provar que não veio apenas para servir ao impeachment, a Lava Jato pode avaçar agora sobre o PMDB e até sobre Temer. O que ganharão os golpistas embarcando neste “acordo por cima” que não tem chance de levar a tempos melhores?

O que ganhará o PSDB, que participou da construção democrática, ajudando a depor Dilma para entregar o governo a Temer? Já na interinidade andaram se estranhando. O que ganhará o PSDB, além da mácula, entregando o Estado brasileiro aos apetites fisiológicos do PMDB? O que ganhará a mídia, que escreveu e produziu as imagens que propiciaram as manifestações a favor do impeachment, criando a situação política complementada pelos pretextos jurídicos? As verbas publicitárias de Temer, que já investiu contra a comunicação pública e as mídias alternativas? Muito pouco diante da corrosão de credibilidade e do rasgão na fantasia de seus compromissos democráticos.

Hoje às 11 horas os senadores escrevem o último capítulo desta dramaturgia que terá final trágico com a condenação de Dilma. Absolvendo-a, fazendo justiça, devolveriam ao povo, através do plebiscito com que ela já se comprometeu, o direito de escolher a melhor saída para a crise, que só virá pelas urnas.

‘É  um  golpe’,  diz  'vice' 

do PGR Janot sobre

impeachment

Número dois de Rodrigo Janot, que participou de protesto anti-Temer, diz a VEJA que não gosta de ver o peemedebista como presidente do Brasil...

Para a vice-procuradora-geral da República, Ela Wiecko Volkmer de Castilho, o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, agora em fase final no Senado, é GOLPE. Número dois de Rodrigo Janot, Ela Wiecko participou em junho passado, em Portugal, de uma manifestação que pedia “Fora Temer” e denunciava o suposto golpe em curso no Brasil. A participação da procuradora no ato foi revelada nesta terça-feira pelo site de VEJA. Em entrevista por telefone, ela disse ter ido ao ato como cidadã, e não como procuradora. Em seguida, reforçou a crítica ao processo contra Dilma: “Eu acho que, do ponto de vista político, é um golpe, é um golpe benfeito, dentro daquelas regras”.

Recentemente, foi o marido de Ela Wiecko, Manoel Lauro Volkmer de Castilho, quem protagonizou outra polêmica. Ele era um dos principais assessores do ministro Teori Zavascki, relator dos processos do petrolão no Supremo Tribunal Federal, e acabou obrigado a pedir demissão após a descoberta de que assinara um manifesto em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

À VEJA, Ela Wiecko disse que não está satisfeita com a chegada de Michel Temer à Presidência da República. E, cometendo uma inconfidência, ela explica um dos motivos de sua resistência ao peemedebista: o fato de ele estar entre os alvos das delações premiadas em tramitação na Procuradoria-Geral da República. “Eu estou incomodada com essas coisas que estão acontecendo no Brasil. Acho que não foi da melhor forma possível. E pelas coisas que a gente sabe do Temer, não me agrada ter o Temer como presidente. Não me agrada mesmo. Ele não está sendo delatado? Eu sei que está. Eu não sei todas as coisas a respeito das delações, mas eu sei que tem delação contra ele”. A seguir, a entrevista.

>Em um vídeo a senhora aparece numa manifestação que chama o processo de impeachment de golpe. O que a senhora pode dizer a respeito?
>Eu estava de férias, em um curso como estudante. É isso.

>Há quem considere que é difícil dissociar a posição de vice-procuradora geral da República de uma situação como essa.
>Eu não posso falar nada? Não posso ter nenhuma liberdade de manifestação? (Isso) é um pouco exagerado, né? E eu fui discreta, eu estava junto (dos manifestantes), não tive nenhum protagonismo maior. Eu estava de férias. (Isso) é um patrulhamento que impede a pessoa de ser o que ela é, de pensar.

>A senhora partilha da opinião de que o processo de impeachment é um golpe?
>Eu acho que, do ponto de vista político, é um golpe, é um golpe benfeito, dentro daquelas regras. Isso a gente vê todo dia, é parte da política.

>Seria, então, um golpe com participação da Suprema Corte e da própria Procuradoria-Geral da República, da qual a senhora faz parte?
>Aí tem que ser uma conversa muito mais comprida.

>Mas a senhora vê irregularidades no processo?
>Você está me perguntando como procuradora da República ou como cidadã? Eu posso falar até claramente, mas não vou falar por telefone.

>A senhora se arrepende de ter participado do ato?
>Não, não me arrependo.

>Havia outras autoridades ali?
>Não. Eu estava ali como estudante, de férias. É um curso de verão, de sociologia jurídica, com o professor Boaventura. Tinha gente de outros países também.

>A ideia de fazer a manifestação surgiu na sala de aula?
>Eu não fui a organizadora.

>Como a senhora recebe a repercussão dessa situação? Isso a constrange dentro do Ministério Público?
>Tem muita gente que pensa como eu dentro da instituição. Eu estou incomodada com essas coisas que estão acontecendo no Brasil. Acho que não foi da melhor forma possível. E pelas coisas que a gente sabe do Temer, não me agrada ter o Temer como presidente. Não me agrada mesmo. Ele não está sendo delatado? Eu sei que está. Eu não sei todas as coisas a respeito das delações, mas eu sei que tem delação contra ele. Então, não quero. Mas as coisas estão indo.

>O que a senhora pensa do Temer exatamente?
>Eu vou cortar a conversa aqui. Se quiser conversar comigo, tem que conversar olho no olho. Não vou ficar falando por telefone.

SENADORES SERÃO SÓCIOS DE UM GOLPE FRACASSADO?


 :

Todos os senadores que, nesta quarta-feira(31), votarem a favor de um golpe bananeiro em pleno século 21, serão implacavelmente condenados pela História. Serão lembrados, como bem apontou o senador Roberto Requião, como Auro de Moura Andrade, a quem Tancredo Neves chamou de canalha depois de declarar vaga a presidência da República, em 1964, quando João Goulart ainda estava no Brasil.
Os "Auros" de hoje, apontados por Requião em seu discurso histórico de ontem (reveja aqui), são nomes como Antonio Anastasia (PSDB-MG), relator da farsa, Aécio Neves (PSDB-MG), o mau perdedor de 2014 que atirou o Brasil ao precipício com seu inconformismo, e muitos outros.
Se são "canalhas", como disse Tancredo no passado e Requião no presente, ligam menos para as próprias biografias do que para os próprios interesses. Ainda assim, mesmo para eles, o golpe de 2016, é um mau negócio. Um péssimo negócio.
A começar pela economia. Com Temer, a inflação não cedeu e, mesmo com a valorização cambial e a maior taxa de juros do mundo, analistas de mercado aumentaram a projeção da alta de preços, que, neste ano, ficará acima de 7,5%. A indústria segue encolhendo, o desemprego bateu recorde, chegando a 12 milhões de pessoas, e o resultado fiscal de julho, com um rombo de R$ 18 bilhões, foi o pior de todos os tempos (leia aqui). Aliás, a responsabilidade fiscal tem sido o pretexto para o golpe, mas Temer está conseguindo transformar o Brasil rapidamente numa Grécia, segundo as palavras do seu próprio ministro do Planejamento.
No mercado, os que se deixaram cegar pelo ódio ao PT e à presidente Dilma Rousseff, criaram a teoria de que as reformas prometidas, nos campos previdenciário e trabalhista, virão depois da interinidade, assim como o ajuste fiscal, como se fosse necessário engordar 100 quilos, para depois emagrecer dez. A verdade, porém, é outra. Aliados de Temer no Congresso já dizem que essas reformas ficarão para depois das eleições municipais – ou seja, para depois do Carnaval de 2017.
Se o governo provisório é um fracasso completo na economia, a situação não é diferente no que diz respeito à questão que mais preocupa a classe política: a Lava Jato. Ontem, a crise institucional brasileira subiu mais um degrau quando a subprocuradora-geral da República, Ela Wiecko, revelou que o interino Michel Temer também está sendo alvo de várias delações, para, em seguida, renunciar ao cargo. Ou seja: não será possível atender às expectativas de políticos como Romero Jucá (PMDB-RR), que defendiam o golpe para "estancar essa sangria" da Lava Jato. A menos que o chefe de Wiecko, Rodrigo Janot, tenha decidido se transformar de vez no 'engavetador-geral da República'.
O golpe de 2016, portanto, fracassou. 
Fracassou na economia e fracassou na prometida proteção penal aos parlamentares.
Diante disso, a grande questão é: vale a pena matar a democracia e arruinar a própria biografia por um projeto fracassado como o de Michel Temer?