sábado, 30 de abril de 2016

Banco dos Brics: a primeira pedra   que   Serra   vai desmanchar para os EUA

bricsusa
Fiquei penalizado, ontem, lendo o artigo do corretíssimo Paulo Nogueira Batista Jr. sobre os avanços do Banco dos Brics, integrado, além do Brasil, por Rússia, India, China e África do Sul. Batista é o diretor brasileiro, com mandato de dois anos, e Serra, a esta altura, deve estar analisando a possibilidade de substituí-lo ou de “renunciá-lo”.
Gente do calibre de John Craig Roberts, economista, colunista do The Wall Stret Journal e ex-dirigente da Secretaria do Tesouro americano não usa meias palavras(AQUI) para descrever o interesse americano nisso: Washington está se movendo para colocar no poder político de um partido de direita que Washington controle, a fim de encerrar as  crescentes relações do Brasil com a China e a Rússia.
A inviabilização do BANCO DOS BRICS é uma peça chave para a imposição da  política de “Aliança Transpacífico” dos Estados Unidos para manter seu controle sobre o comércio internacional e, acima de tudo, o poder incontrastável  do dólar no padrão monetário internacional.
Para quem não sabe, o fato de poder emitir sem gerar inflação interna – porque dois terços dos dólares circulam fora de suas fronteiras – e poder manter sua moeda sobrevalorizada – foi uma das chaves da hegemonia norte-americana desde o pós-guerra e qualquer pacto multinacional que trabalhe fora do padrão-dólar é perigoso a ele.
José Serra, portanto, fará o possível e o impossível para melar os Brics, com ou sem a prudência necessária para não criar um mal-estar. E melar a trajetória – ainda tímida – de sucesso, na nova instituição, que Nogueira Batista Jr. descreve abaixo, inicialmente focada na área de energia sustentável.

Um bom começoPaulo Nogueira Batista Jr.

O Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) estabelecido pelo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) está avançando em ritmo acelerado. Queria falar um pouco hoje sobre o que conseguimos alcançar nos primeiros meses de existência da instituição. Bem sei que, em meio às convulsões que vive nosso país, será difícil conectar o interesse do leitor com tema tão específico e distante, mas vou tentar mesmo assim.
Quando cheguei a Xangai, em julho de 2015, estávamos começando praticamente do zero. Tínhamos o Convênio Constitutivo, assinado em Fortaleza um ano antes, e um andar praticamente vazio de um prédio no distrito financeiro de Pudong. Agora, em abril de 2016, apenas dez meses depois, a diretoria do NBD aprovou a primeira leva de projetos do banco.
Confesso que tive dificuldade de acreditar quando o presidente do NBD, K.V. Kamath, definiu o objetivo de aprovar os primeiros projetos já no segundo trimestre de 2016. Mas conseguimos — à custa de muito trabalho e sacrifício de uma equipe ainda pequena e do apoio que tivemos dos governos dos países fundadores. No caso do projeto brasileiro, foi fundamental a parceria com o BNDES, um dos mais experientes bancos nacionais de desenvolvimento do mundo.
Foram aprovados quatro projetos, num total de US$ 811 milhões, a maior parte no campo da energia renovável, seguindo orientação recebida dos líderes do Brics por ocasião da sua última cúpula, em julho de 2015, na Rússia.
O projeto brasileiro é um empréstimo ao BNDES, de US$ 300 milhões, que será repassado a empreendimentos privados em áreas como energia eólica e solar. O projeto chinês, denominado em yuan e equivalente a US$ 81 milhões, é na área de energia solar. O sul-africano, de US$ 180 milhões, está direcionado ao financiamento de linhas de transmissão de energia elétrica. O projeto indiano é uma linha de crédito de US$ 250 milhões ao Banco Canara, destinada a projetos nas áreas solar, eólica, geotérmica e ao financiamento de pequenas hidrelétricas. Um quinto projeto, com a Rússia, está em fase avançada de negociação.
Do lado do funding, o NBD também está fazendo progresso. Em janeiro deste ano, os sócios fundadores fizeram o primeiro aporte de capital, conforme previsto no Convênio Constitutivo. A Rússia pagou adiantado a segunda parcela do seu aporte e, assim, o NBD conta com mais capital do que o previsto, num total de US$ 1 bilhão. Estamos preparando também a primeira emissão de bônus, que deve ocorrer em meados deste ano. Será um bônus verde, emitido em yuan no mercado chinês.
Assim, o NBD, em linha com o seu mandato, está se configurando como um banco “verde” tanto do lado do ativo quanto do lado do passivo. A questão da sustentabilidade dos projetos apoiados está sendo e continuará a ser um dos focos fundamentais do NBD.
Estamos apenas começando. Há uma tarefa imensa pela frente. Temos muito que aprender. Não subestimamos jamais o tamanho do desafio que este banco foi chamado a enfrentar.
Afinal, é a primeira vez que um banco que tem a aspiração de ser uma instituição de escopo global está sendo construído exclusivamente por países emergentes, sem a participação de países avançados.

Contra  o  golpe,  estudantes paralisam 100 universidades em  18  Estados                      

Cerca de 100 universidades em 18 Estados – mais de 70 cidades – do país participaram nessa última quinta-feira do Dia Nacional de Paralisação nas Universidades, convocado pela UNE contra o golpe na democracia em curso no país...
 Professores, alunos e educadores juntos, com mais de 20 mil, na Praça Tiradentes, em Curitiba

Os principais atos promovidos pela União Nacional dos Estudantes foram registrados em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Fortaleza e Belo Horizonte, cidades onde estudantes fecharam ruas, avenidas e promoveram debates sobre o processo que vai ser votado no Senado nesse  mês de maio.
Em Curitiba, a UNE segue na luta: é um dos movimentos sociais a integrar o protesto em favor dos professores da rede estadual paranaense, que lembram um ano do massacre que sofreram pela Polícia Militar do Estado no Centro Cívico, em 29 de abril do ano passado.
Na capital paulista, o ato dos estudantes de universidades como a UNIP e a UNINOVE fechou a Rua Vergueiro, na zona central da cidade, no início da noite. A via é um dos principais corredores universitários da cidade, por onde passam diariamente cerca de 100 mil estudantes. Os participantes gritaram palavras de ordem contra o golpe e estenderam faixas lembrando da ditadura militar.
Pela manhã, a aula pública do professor Reginaldo Nasser que acontecia no campus Memorial da UNINOVE, na Barra Funda, foi interrompida pela Polícia Militar.
“Foi um absurdo o que aconteceu, estávamos pacificamente em frente a universidade assistindo uma aula, e a PM sem mais nem menos chegou pedindo o RG do professor e dos estudantes. Essa é a PM que tem resquícios da ditadura militar sob o comando do governo do PSDB”, afirmou o diretor de Comunicação da UNE, Mateus Weber, que presenciou tudo.
RIO DE JANEIRO CONTRA A REDE GLOBO
           
No Rio, além das paralisações em universidades públicas e particulares, os estudantes migraram para a redação do jornal O Globo, no centro da cidade, para protestarem contra o apoio da organização ao golpe. Lideranças da UNE estiveram no encontro, que teve faixas lembrando do apoio do canal de televisão ao golpe militar de 1964 e bolas de tinta nas paredes do prédio, enquanto os estudantes gritavam: “O povo não é bobo. Abaixo a Rede Globo”. Em uma faixa, se podia ler: “A Rede Globo não fala por nós”.
UNB PARALISADA
Em Brasília, o ato – chamado de Assembleia Conjunta dos Cursos: Estudantes da UnB contra o golpe – teve a presença da presidenta da UNE, Carina Vitral, que chamou os estudantes a lutarem contra o golpe promovido por Cunha e Temer. Os estudantes passaram o dia reunidos em vários ambientes do campus realizando diversas atividades, como debates e oficinas de cartazes pela democracia. O corredor do Instituto Central de Ciências (ICC) da universidade, conhecido como Minhocão, foi trancado por algumas horas pelos manifestantes.
FORTALEZA E PERNAMBUCO TAMBÉM NA LUTA
            Estudantes fecham a esquina da Avenida 13 de Maio com a Avenida da Universidade, em Recife - Foto: Allan Taissuke
Em Fortaleza, no Ceará, os estudantes da Universidade Federal do Ceará (UFC), da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e da Universidade Estadual do Ceará (UECE) promoveram uma aula pública com os estudantes, um cortejo que caminhou por diversas ruas e avenidas da cidade e o trancamento da Avenida 13 de Maio, uma das vias mais importantes da capital cearense.
Flor Ribeiro, representante da UNE em Recife, conta que universitários de diversas faculdades do Estado se juntaram para protestarem contra o golpe em curso no Brasil e pedirem um posicionamento do governo estadual, de Paulo Câmara (PSB).
“Tivemos atos em Caruaru, Vitória e em Recife com universitários de vários lugares. Fizemos um ato de rua, chamado Juventude contra o golpe, que andou pelas ruas da capital e foi até o palácio do governador cobrar uma postura contra o golpe. Reivindicamos que não haja retrocessos aos nossos direitos”.
ESTUDANTES PARALISAM 12 CIDADES NO PARANÁ
No Paraná, Estado que reuniu o maior número de cidades para protestar contra o golpe, doze no total, os estudantes compareceram em peso a todos os eventos marcados. Fecharam ruas em municípios como Cascavel, Foz do Iguaçu, Francisco Beltrão, Pato Branco e União da Vitória.
Em Curitiba, todos se encontraram no pátio da reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), no centro da capital, para uma aula pública e um cortejo pelas ruas.
OCUPAÇÕES NO SUL E EM MINAS
Em Erechim (RS), no interior do Estado, estudantes ocuparam o prédio da Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS) em protesto contra o golpe. Eles colocaram correntes nas portas das salas e nos portões de entrada da faculdade.
A Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, também teve a reitoria ocupada pelos alunos em protesto ao processo de impeachment sem base legal.
A UNE ainda organizou atos em Manaus, no Amazonas; Belém, no Pará; Macapá, no Amapá; Rio Branco, no Acre; Natal, no Rio Grande do Norte; Teresina, no Piauí; em São Luiz, no Maranhão; em Florianópolis, Santa Catarina; Porto Alegre, no Rio Grande do Sul e em Cuiabá, no Mato Grosso.

O mercado está
dizendo NÃO
a Temer

                    

Carlos Fernandes                  

Quem quer este homem?
Quem quer este homem?
O malabarismo que a grande imprensa vem fazendo para camuflar a reação que o mercado começou a apresentar após a vergonha internacional que se transformou a votação do impeachment na Câmara realça ainda mais a parcialidade e a manipulação gritantes na forma como prestam as informações ao seu público.
As duas grandes pautas econômicas defendidas pela peculiar classe média brasileira para satisfazer os seus anseios – a baixa do preço do dólar para as viagens à Disney e o aumento na cotação das ações para ganharem na bolsa – se recusam a aderir ao “Plano Temer”.
Na última segunda, 25 de abril, todos os holofotes da mídia familiar se voltaram para a queda de 0,64% do dólar cotado a R$ 3,5468 como sendo um reflexo direto de um eventual governo do vice-presidente. Só esqueceram de mencionar que na sexta que antecedeu a votação esse mesmo dólar já estava cotado a R$ 3,5240.
Já o índice Bovespa sofreu a sua terceira queda consecutiva despencando quase 2%. Mas para isso a explicação é completamente diferente. O cenário externo é o único culpado. A instabilidade política nada influencia nas ações das empresas brasileiras. Tudo muito conveniente.
O fato é que os grandes investidores nacionais e estrangeiros se encontram cada vez mais receosos com o que pode vir a acontecer com a economia do Brasil se realmente atestarmos o quanto nossa democracia é imatura e irresponsável ao aceitarmos que uma quadrilha de bandidos e traidores instale um golpe de Estado.
A repercussão negativa estampada nas capas dos mais importantes jornais do planeta dando conta da desqualificação dos parlamentares que votaram “sim”, da inoperância de nossa Suprema Corte em permitir que um meliante da periculosidade de Eduardo Cunha conduzisse o processo, da postura conspiratória de Michel Temer e do apoio incondicional de uma imprensa que já havia dado todo o suporte à ditadura militar — tudo isso não deixa dúvidas para o mundo inteiro de que se trata unicamente de golpe.
Nem mesmo a política neoliberal, entreguista e recessiva defendida abertamente pelos golpistas e tão afeitas aos senhores do mercado está sendo suficiente para que o grande capital dê o seu aval a um governo ilegítimo.
Como se não bastasse, ainda temos a recente pesquisa Ibope revela dora de que, até para os mais entusiastas do impeachment,  Temer não só está longe de ser a solução de que precisamos, como é um dos grandes responsáveis pelo problema.
Tudo somado, está criada a fórmula perfeita para mergulharmos o país numa depressão econômica digna dos piores anos da era FHC. O arrocho fiscal, o aumento de impostos, o congelamento de salários e o corte abrupto nos benefícios sociais farão com que os avanços históricos que conseguimos na última década sejam completamente perdidos.
Um possível governo Temer agravará a já precária atividade dos agentes econômicos e nos levará à total falta de credibilidade junto às grandes democracias do mundo.
A Câmara dos Deputados nos deu a sua grande contribuição para voltarmos a ser os subalternos de outrora na economia mundial. Caberá agora ao Senado decidir se a nossa vocação eterna é a de sermos capachos do primeiro mundo ou se continuaremos no caminho onde o Brasil é exclusivamente dos brasileiros.

O jogo,  agora,  vai
ser fora do estádio

Jari da Rocha - especial para o  

A frustração, ao presenciar a derrota do grande plano de conciliação das classes, deve mesmo ter levado o ex-presidente Lula as lágrimas. Não por arrependimento.
Lula sabia que não poderia mexer com as grandes fortunas sem ser importunado. Manter os lucros exorbitantes entreteria os milionários enquanto os mais necessitados iam sendo puxados do buraco negro da miséria.
Atender a população carente de um lado e deixar a elite continuar a encher as burras de dinheiro.
Lula deve ter pensado. Ou é “o que der” ou não será nada.
Conseguiu varrer a miséria e é justamente esse o seu capital político. Capital político, aliás, internacional.
Esticar a corda com o segundo mandato de Dilma foi fatal. Não havia, como vemos, tanta gordura para queimar. Era um risco muito alto e a corda arrebentou.
Dilma não é Lula. Lula não é Dilma.
Cardozo é o sujeito que será lembrado pela apatia no período regulamentar e pelo gigantismo depois do apito final. Enquanto todos já vão para o chuveiro, Cardozo segue em campo com arrancadas sensacionais pela esquerda, cruza, cabeceia, dá de trivela e pode até fazer algum gol.
As luzes do estádio já começam a ser apagadas e a técnica ainda parece nutrir alguma esperança.
Lula sempre gostou de usar metáforas futebolísticas. O juiz roubou, mas o time também não se ajudou, diria.
Ministros patéticos se acotovelam no corredor. Não são culpados, ninguém deve lhes ter exigido competência em caso de incêndio.
Correm de um lado para o outro, atônitos. Outros, menos preocupados, mal sabem o que acontece. Há também quem faça sessão de fotos com alguma gostosona para mostrar para os netos.
À presidenta resta ainda o último gesto (quantas vezes se falou disso?).
Deve estar relutando porque isso seria admitir culpa ou que não seria uma jogada republicana.
Às favas com republicanismos. Ou ela luta por novas eleições agora ou espera, pacientemente, o inimigo enterrá-la viva.
Não há decência no Senado e o Supremo é caolho.
Em meio a todo medievalismo teocêntrico e bárbaro, quando não se espera mais nada dos bravos combatentes da legalidade, algumas vozes vão surgindo. Vozes juvenis.
Os jovens vêm surpreendendo a cada dia que passa. Superam-se a cada batalha, a cada dificuldade imposta pelos bandidos multimídia da nação.
Essa multidão de meninos e meninas está fazendo a diferença e nos dáo esperança no futuro. Eles têm brilho nos olhos.
(Não são os ‘brasileirinhos’ que a voz descontrolada e hipócrita – ausente nos tempos de penúria – pede para ser ouvida. Onde é que estava essa senhora quando se morria de fome no Brasil?)
Alento que contrapõe o histerismo pentecostal grandiloquente e a caduquice de velhos babões que pisoteiam na própria história.
Eles venceram, mas o sinal não está fechado para esses jovens.
Nem, tampouco, para quem não foge da luta.
Enquanto Lula enxuga as lágrimas, enquanto ministros se atropelam, enquanto Dilma (e Cardozo) está sentada, com a boca cheia de dentes, esperando o STF chegar e enquanto ratos vão se escondendo nos armários da transição (muitos já cooptados pelo novo chefe), um homem dá um passo a frente.
Ele vem de Lagoa Vermelha e tem na ponta da língua os nomes de todos os líderes dos movimentos sociais. Sabe de cor (de coração) quem é quem na luta pela verdadeira democracia e aponta o dedo na cara dos farsantes, dando nome aos bois que travam o país.
Acima dele está Lula, ninguém mais.
Resultado de imagem para Fotos de João pedro stédileJoão Pedro Stédile(foto) é o maior nome da luta e da resistência hoje. Isso é um fato e nem ele, nem Rui Falcão nem Lula esconde mais isso.
Ele chamou a briga pra si e não dá sinais de arredar pé.
Enquanto Cardozo avança, no escuro, pelo meio campo, Stédile já cercou o estádio.
A guerra só termina quando acaba.
E a guerra mal começou.
O salário mínimo é um
dos  alvos  do  golpe   
O pretenso ‘novo governo’ de Temer já  avalia que o mínimo é só um custo, e deve ser reduzido para que haja aumento da competitividade da economia...


João Sicsú                           Carta Capital

Carteira de Trabalho
No governo Lula, formalização aumentou enquanto
 o salário mínimo também aumentava
Frei Betto tem razão quando diz que faltariam ruas para protestos se os pobres soubessem quais são os planos da coligação que tenta tomar o governo pela via do golpe. Um dos alvos principais é o salário mínimo. As razões são variadas. Mas todas convergem: o mais importante será a redução do valor real do salário mínimo.
O salário mínimo foi criado no dia 1º de maio de 1940 por Getúlio Vargas. Desde a sua criação, o salário mínimo sofreu muitos ataques. São ataques contra o seu valor e ataques à sua existência.
Sempre foi mais difícil atacar a sua existência já que o principal argumento contrário é que salários deveriam ser negociados livremente entre patrões e empregados. Mas todos sabem que trabalhadores negociariam quase sempre com muita desvantagem.
Não será surpresa, contudo, que comecem a surgir propostas no sentido da eliminação da obrigatoriedade do pagamento de um valor mínimo para o salário no mercado de trabalho.
Eles irão propor que o salário mínimo seja um valor de referência para a negociação, mas não uma obrigatoriedade. Não é um absurdo pensar nessa possibilidade.
Afinal, o que é a proposta patrocinada por instituições envolvidas no golpe referente à área trabalhista que propõe que o “negociado deve prevalecer sobre o legislado”? Representa a base do fim dos direitos trabalhistas estabelecidos e seguros.
O golpe de 1964 também atacou e depreciou o valor do salário mínimo. João Goulart, o presidente que foi afastado, defendeu o salário mínimo concedendo aumentos necessários. Em março de 1964, o salário mínimo valia mais que 1,2 mil reais a preços de hoje. Ao final do regime ditatorial militar-empresarial, em 1985, o salário valia menos da metade do que valia no governo de Goulart.
Com o golpe de 1964, um novo modelo econômico foi imposto. O pacto militar-empresarial era pela promoção do crescimento econômico e a realização de investimentos públicos e privados. E assim foi feito. Mas foi um modelo concentrador de renda e de riqueza. A ideia que justificava esse modelo foi expressa pelo então ministro Delfim Netto, que dizia que era necessário, primeiro, fazer o bolo crescer para, depois, distribuí-lo. Cresceu, mas não foi distribuído.
Durante a ditadura, o setor privado fez grandes investimentos financiados pela folga financeira devido à redução de custos que representava a folha de pagamentos (arrocho salarial) – além de favores concedidos pelos militares a determinados setores empresariais.
O arrocho salarial não foi uma mera maldade de um governo que eliminou a democracia, extinguiu a liberdade, torturou e assassinou; a compressão salarial era parte importante do modelo de financiamento do crescimento econômico com concentração de renda e riqueza. 
No golpe que está em curso há também argumentos para justificar a compressão do valor real do salário mínimo. Alguns argumentos são similares. O modelo econômico de Michel Temer guarda semelhanças com o modelo econômico da ditadura: crescer com concentração de renda ou fazer o bolo crescer e jamais distribuí-lo.
O primeiro argumento dos defensores do golpe é que o salário mínimo é exclusivamente um custo e, portanto, deve ser reduzido para que haja aumento da competitividade da economia. Em outras palavras, o dinheiro que iria para os trabalhadores deve ir para as mãos dos empresários para que possam investir (ou aplicar no mercado financeiro).
Para aumentar a poupança privada, defendem que será necessário tirar o dinheiro de quem gasta tudo o que recebe para colocar nas mãos de quem não transforma em consumo ganhos adicionais.
Este primeiro argumento está absolutamente equivocado. Esquecem que salários baixos (tal como o mínimo) são, na verdade, gastos em sua totalidade pelos trabalhadores e suas famílias. O resultado é que a massa salarial de todos quem têm baixa renda (ou renda média) vai para o comércio de bens e mercadorias. Logo, o salário mínimo é muito mais um dinamizador da economia (ativando o comércio e a produção) do que uma trava na forma de custos.
O segundo argumento dos golpistas: consideram que quanto maior o valor do salário mínimo maior é a informalidade no mercado de trabalho. Documento do Ministério da Fazenda (de 22 de dezembro de 2000, disponível do site no Ministério), quando o ministro era Pedro Malan e o presidente era Fernando Henrique Cardoso, declarava que: “... o aumento no valor do salário mínimo pode vir acompanhado de um aumento da informalidade...”.
O raciocínio tucano do período FHC, que está de volta, é básico: se, de um lado, houve aumento de custos empresarias via reajuste do salário mínimo, isso gerará informalidade (ou seja, carteira de trabalho não assinada) para que haja redução de custos, de outro lado. Então, a redução do valor do mínimo garantiria a carteira assinada e protegeria o trabalhador.
Aqui há um segundo equívoco que foi provado pela experiência dos últimos anos, mas principalmente evidenciada durante os governos do ex-presidente Lula. Juntamente com as centrais sindicais o presidente formulou uma regra de reajuste do salario mínimo que é a seguinte: o salário mínimo é reajustado todos os anos de acordo com a inflação do ano anterior mais o crescimento econômico de dois atrás.
A regra garante que o salário mínimo não perde valor real e se a economia crescer, ganha poder de compra. O resultado foi que houve uma extraordinária valorização do salário mínimo (mais que 70% em termos reais). E para causar pesadelo nos conservadores: a informalidade no mercado de trabalho caiu drasticamente durante os governos do PT e seus aliados.
Por último, querem atacar os beneficiários da Previdência Social quebrando uma regra de ouro: nenhum benefício da Previdência Social pode ter valor inferior a um salário mínimo. A Previdência Social paga quase 30 milhões de benefícios por mês. Aproximadamente 70% dos beneficiários da Previdência Social receberiam menos que um salário mínimo se não fosse essa regra de ouro. Os golpistas não aceitam que o valor de piso de um benefício da Previdência seja de um salário mínimo.
Se conseguirem quebrar essa regra de ouro, vão prejudicar 20 milhões de pessoas e suas famílias. Mas dizem que querem salvar a Previdência. Em verdade, querem reduzir gastos na Previdência para ter mais espaço orçamentário para transferir renda para grandes grupos empresariais (financeiros, inclusive).
É muito importante destacar que os benefícios pagos pela Previdência juntamente com o salário mínimo pago no mercado de trabalho são os dois mais fortes instrumentos de distribuição de renda no Brasil. Portanto, ao mirar no valor do salário mínimo e nos benefícios da Previdência Social, o modelo econômico golpista revela a sua face concentradora de renda. E revela sua face ideológica: antipopular.