Meus
fugazes contatos com Nelson Pereira
dos Santos, celebrado ícone do ‘Cinema
Novo’, que se vai
Do AMgóes >>> Conheci Nelson Pereira dos Santos
em 1962, à época com 33 anos,( eu, aos 19), quando cheguei a Palmeira dos
Índios(AL) para ingressar no Banco do Brasil. Nelson, jovem diretor de cinema,
chegara dias antes, para a filmagem de 'Vidas Secas'(do romance homônimo de
Graciliano Ramos) com três atores, egressos do Rio de Janeiro - Átila
Iório('Fabiano'), Maria Menezes('Sinhá Vitória') e Orlando Macedo('soldado
Amarelo') -, além do pessoal da produção e cinegrafia chefiado por Luiz Carlos
Barreto(ex-repórter-fotográfico da revista 'O Cruzeiro'), com José
Rosa(assistente de fotografia) e Geraldo José(som). O assistente de direção de
Nelson era Ivan de Souza.
O jovem cineasta Nelson Pereira dos Santos |
Nenhum dos nativos
jamais se apresentara diante de uma câmera cinematográfica, todos adstritos às
sessões dos cinemas de Palmeira, Palácio, Ideal e São Luiz, a que vez por outra compareciam para assistir preferencialmente a 'faroestes',' policiais de Dick
Trace e comédias nacionais de Oscarito e Grande Otelo.
A equipe carioca de
'Vidas Secas' ficou hospedada no Hotel Comercial, o 'hotel de seu Mário', na Praça de São Pedro, de acomodações precárias, todavia o 'melhor' que havia por lá.
Conheci Nelson Pereira dos Santos ao lado de meu colega Ruy Sampaio,
jornalista e literato de Maceió, chegado em 1961 a Palmeira também para o Banco
do Brasil.
À noite, nos bancos da Praça de São Pedro, em frente ao Hotel Comercial, conversas triviais dos 'de fora' com alguns 'locais'(eu, entre estes) curiosos para conhecer detalhes da filmagem, cujas locações eram realizadas na zona rural de Palmeira e na área urbana de Minador de Negrão, um vilarejo do semiárido que no fim daquele ano se emanciparia, como sede municipal (cuja população atual gira em torno de 6 mil habitantes). Falei, respeitoso, a Nelson ter assistido, dois anos antes, no Cine São Francisco, de minha Penedo, a 'Rio-40 graus'(de 1955), seu primeiro sucesso de bilheteria e de crítica, um painel urbano da então capital do país.
Cena de 'Vidas Secas', filmada em Minador do Negrão(AL) |
À noite, nos bancos da Praça de São Pedro, em frente ao Hotel Comercial, conversas triviais dos 'de fora' com alguns 'locais'(eu, entre estes) curiosos para conhecer detalhes da filmagem, cujas locações eram realizadas na zona rural de Palmeira e na área urbana de Minador de Negrão, um vilarejo do semiárido que no fim daquele ano se emanciparia, como sede municipal (cuja população atual gira em torno de 6 mil habitantes). Falei, respeitoso, a Nelson ter assistido, dois anos antes, no Cine São Francisco, de minha Penedo, a 'Rio-40 graus'(de 1955), seu primeiro sucesso de bilheteria e de crítica, um painel urbano da então capital do país.
Ao lado de Ruy
Sampaio, Luiz Torres e outros, recém-amigos de Palmeira, presenciei filmagens
de algumas cenas em dois sábados à tarde(até 1962, os bancos tinham
meio-expediente sabatino, pela manhã, extinto a partir de 1963 pelo governo
João Goulart, talvez um dos tantos motivos das classes dominantes para avalizar
o golpe civil-militar de 1964).
Genivaldo, ator-mirim, hoje cinquentão, com a cachorra 'Baleia' |
A cachorra 'Baleia',
integrada ao elenco de 'Vidas Secas', transformada a partir em 1963 em
'celebridade internacional'(o filme de Nelson, em preto e branco, foi premiado
mundo afora), pertencia aos pais dos garotos Givanildo e Gilvan, ambos hoje
cinquentões.
O diretor voltaria a
filmar outro romance, igualmente famoso, de Graciliano, em 1984('Memórias do
Cárcere'), com locações em Maceió, onde passei a morar(dezembro/1981),
contratado pela TV Alagoas, depois de uma década de Rio(no BB, com 5 anos
concomitantes de Rádio Globo) e intervalo de dois anos em Londrina, norte do
Paraná. Cumprimentei Nelson na Praça Deodoro, certo domingo pela manhã, no
intervalo de uma locação, quando, em minutos,
identifiquei-me com a referência a sua estada de 1962 em Palmeira dos Índios e
trocamos alguns rápidos minutos sobre sua experiência profissional no
agreste-sertão alagoano(plenamente vitoriosa nas duas décadas subsequentes) que lhe rendeu a relevante repercussão internacional de 'Vias Secas'.
Ícone do cinema
brasileiro, Nelson Pereira dos Santos se vai, quase nonagenário, deixando a
marca indelével de seu talento agregada às nossas históricas contradições
sociopolíticas a que Graciliano Ramos se reportou em magistral bibliografia
mundialmente reverenciada.
Em tempo: Nelson
Pereira dos Santos militou no Partido Comunista do Brasil, entre 1945 e 1958,
quando enveredou por inteiro, aos 30 anos, pelos sinuosos e apaixonantes caminhos da
‘sétima arte’, brindando-nos(e aos que advirão) com um acervo de tramas
cruentamente magistrais.
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