Herdeiros de falidas oligarquias apagam História do Rádio em cidade multissecular do interior alagoano
A autofágica intenção dos herdeiros de falidas oligarquias políticas de Penedo em apagar a História contemporânea da multissecular cidade, lenientes com sua progressiva degradação urbana, oficializa o desmonte de um marco exponencial da comunicação radiofônica no estado de Alagoas.
Na postagem do site ‘aquiacontece.com.br’(AQUI), a concelebrada infâmia - com foros de judicializada politicalha, para
justificar suposta ‘deterioração do
imóvel que tem excelente localização e valor histórico inestimável...’ -
configura-se com o propósito(não especificado) de transformar o casarão em sede
de ‘atividades da Secretaria Municipal de
Cultura, Lazer e Juventude (SEMCLEJ)’.
Medida pertinente se
destinada, por exemplo, a um ponto de referência histórica sobre o Rádio alagoano,
em parceria com a Capital e outras cidades do estado, a integrar a capilaridade
da Comunicação que, além do convencional e ‘hertziano’ espectro eletromagnético, majoritariamente em ‘frequência modulada’, hoje
navega, via ‘aplicativos’, na rede mundial da internet.
Indigna-me, para além
do discutível (des)propópsito de serventia do imóvel, a deletéria decisão do
Executivo de Penedo, com a majoritária cumplicidade de vereadores, em disseminar
‘fake news’ para entronizar o falecido ex-prefeito
Hélio Lopes, pai do atual, como o ‘pioneiro’ do Rádio no interior de Alagoas, creditando-lhe,
com fraude histórica(por ele jamais avocada, oportuno lembrar), o mérito na
concessão radiofônica supostamente entregue, de mão beijada, à Mitra diocesana.
Deslavada e sórdida
mentira! A Emissora Rio São Francisco Ltda, no ar, em fase experimental, às 15 horas do sábado 25
de abril de 1959(este AMgóes, aos 16, estava lá, com outros pioneiros), foi um projeto
idealizado pelo quarto bispo de Penedo, d. José Terceiro de Souza, assessorado
pelo jovem Padre Hildebrando Veríssimo Guimarães, jornalista formado na PUC de Porto
Alegre, único à época, na imprensa de Alagoas, com essa prerrogativa acadêmica,
concomitante com os estudos do presbiterato
eclesial.
D. José Terceiro,
chegado a Penedo em 1957, procedera de Salvador, bispo-auxiliar de D. Augusto
Álvaro da Silva, cardeal primaz da Bahia. Amigo pessoal do presidente Juscelino
Kubitscheck, viabilizou, em curto prazo, a concessão de uma frequência de rádio,
em ondas média(AM) e tropical(curta). Contrapartida: a transmissão do programa ‘Escolas Radiofônicas’
para alfabetização(remota) de adultos, originário da Colômbia e implantado na
Arquidiocese de Natal(RN) por d. Eugênio Sales, sob auspícios do Ministério da Educação.
As ‘Escolas Radiofônicas’ foram um
sucesso, até sua desativação compulsória(e criminosa) pelo golpe de 1964, tidas
como ‘nefasta propaganda comunista’, por estruturadas nas revolucionárias premissas
socioeducativas de Paulo Freire, nosso laureado pedagogo nas mais renomadas
universidades do planeta e patrono da Educação brasileira.
A Emissora Rio São
Francisco, sob o epíteto de ‘voz da unidade nacional’(alusivo ao ‘Velho Chico’),
foi um divisor de águas nas seculares manifestações culturais de Penedo.
Transmitimos tuuudo naqueles distantes tempos: missas, procissões, futebol, carnaval,
jornais-falados, esquetes teatrais, política, cotidiano, uma miscelânea do caráter
eclético e polidimensional de nossa neófita(e pretensiosa) programação.
Através dos dois mais experientes comunicadores
de nosso ‘cast’, Haroldo Lessa e Andrade Filho, incorporo emocionada referência
a todo o grupo de versáteis companheiros daqueles primórdios, fazedores, com
engenho e arte, de ‘coisas’(boas) das
quais ‘até Deus duvida’.
Nas décadas subsequentes,
já sem D. José Terceiro e Padre Guimarães(que seria pró-reitor na Universidade
Federal de Alagoas), adveio recorrente inépcia gerencial dos prepostos da
Diocese, com imersão da Emissora Rio São Francisco na areia movediça de fortuitos
arrendamentos(ilegais, mas delituosamente usuais no Brasil, sob omissão fiscalizatória
do poder concedente), até outras graves infringências que implicaram o fim da
outorga.
Concessionário de uma
rádio FM em Penedo, integrante de controverso grupo político dissociado das
demandas locais, a exemplo de outros pretensos(e pranteados) ‘grandes líderes’
nativos, coincidentemente gestados nas sinecuras autoritárias, quase 60 anos
atrás, o atual prefeito de Penedo quer reescrever a crônica citadina à luz de fugaz
ideário cartorial dos ‘seus’, no rumo inverso à expectativa dos bolsões
periféricos que o elegeram.
Todavia, dialeticamente
predisposto a acreditar nos insondáveis bons propósitos dos circunstantes, compete-me
a espera de salutar contraditório que afinal confira à Emissora Rio São Francisco,
diluída pela insipiência dos que testemunharam seu nascedouro e a deixaram soçobrar, uma póstuma
e reconhecida lembrança de seus marcantes dias de glória, em patamar oposto às incongruências comportamentais de quem quer que seja.
(AMgóes)
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