segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Como um dolorido 'par de chifres',   jamais esquecido,  levou Deodoro a proclamar a República em 15 de novembro de 1889

Como aqui já publicado, o marechal Manoel Deodoro da Fonseca, dito 'herói' brasileiro na guerra (genocida) contra o Paraguai (1864-1870), foi exortado pelos conspiradores republicanos, civis e militares, a comandar o golpe de Estado contra o Império, que, por suas convicções monarquistas, relutou em aceitar.  
   
Ironicamente, o  militar alagoano sempre se disse 'devedor' de Francisco Solano Lopez,  contemporâneo na Escola Militar de Realengo e depois presidente do vizinho país, pela rápida ascensão nas fileiras do Exército Imperial, face ao conflito deflagrado pela 'tríplice aliança', com Uruguai e Argentina, que derrotou o pleito (inicialmente diplomático) de Assunção pela internacionalização do Rio da Prata, única rota de escoamento de sua florescente produção algodoeira rumo ao mercado europeu.   

Após as hostilidades, Deodoro e o irmão Hermes Ernesto (pai do marechal e depois presidente Hermes da Fonseca) comandaram guarnições militares no Rio Grande do Sul, onde o futuro proclamador da República também exerceu a vice-presidência da província dos Pampas.

Casado e sem filhos,  cuja falta se atribuía à época, grosso modo, a 'deficiência' da fisiologia feminina, Deodoro buscou os favores extraconjugais de uma dama que lhe contemplassem o nascimento de um 'herdeiro', ainda que 'bastardo', para 'adoção oficial'.                                            

Ocorre que o (quem sabe, estéril?) machão nordestino perdeu a disputa sexual da referida senhora para o jornalista e advogado gaucho Gaspar Silveira Martins (foto abaixo), por óbvio, daí em diante, um assumido e figadal desafeto, cuja trajetória política o conduziria, em 1880, ao posto de senador do Rio Grande no Rio de Janeiro, capital do Império.                         

No cenário da iminente deflagração do golpe militar contra a Monarquia,  Deodoro acabou por abdicar de sua fidelidade ao Imperador que, nos estertores do regime, tentou substituir o gabinete do Visconde de Ouro Preto por uma nova composição, de caráter liberal,  para  cuja presidência foi convocado o citado senador Silveira Martins.

Ferido em seus brios pela odiosa e imorredoura lembrança dos 'chifres' com que foi 'enfeitado', ainda coronel no Sul, o indignado e sexagenário marechal de campo decidiu assinar o termo de sumária destituição de Pedro II, com o prazo de 24 horas para a família imperial deixar o país.

A despeito da gradual fragilização da Monarquia, advinda de crescentes insatisfações militares no pós-guerra do Paraguai,  a campanha da República não dispôs de mobilização que deflagrasse sua instituição através de debate parlamentar, suscitada em tímidas conclamações na imprensa e sem maior repercussão popular.

A opção pelo golpe foi cristalizada na insatisfação das tropas, em função de suposto desprestígio político do monarca aos chefes militares que reivindicavam de longa data participação direta no gabinete imperial, o que fazem até nossos tempos, em flagrante desrespeito a suas específicas atribuições legais.

Passado pouco mais de um século da imposição armada do regime republicano, com a incidência de periódicas interrupções institucionais, generais golpistas,  tradicionalmente ilesos em históricos arreganhos contra o Estado de Direito, finalmente sentirão o peso da lei sobre suas cabeças estreladas, na  perspectiva de mofarem atrás das mesmas  grades em que confinaram  eventuais insurgentes contra o autoritarismo, afora as vidas ceifadas pela tortura nos porões da repressão fardada.  (AMgóes)

Nenhum comentário:

Postar um comentário