Não foi nas recentes eleições municipais que as esquerdas evidenciaram a perda de sua capacidade mobilizadora de massas populares.
A partir do governo Lula-1, em 2003, o PT e seus aliados à esquerda afrouxaram o cinto e, no primeiro momento, baixaram a guarda diante da farsa do 'Mensalão', trama inicial da arrancada golpista cujo objetivo foi defenestrar José Dirceu do cenário político, eliminando a o líder petista do rol de eventual presidenciável.
Oportuno recordar que Dirceu foi o articulador do nome de José Alencar, senador mineiro do PMDB e bem sucedido empresário da indústria têxtil, para a vice-presidência em 2002, sem cuja composição, com a centro-direita, a dita 'esquerda-raiz' morreria na praia pela quarta vez consecutiva, no embate das urnas para presidente.
Refestelados à sombra dos exitosos programas sociais, os partidos governistas, PT à frente, não cuidaram de institucionalizar a força das ruas, indispensável no referendo às ações governamentais, inclusivas do 'andar de baixo'.
Embora cassado o mandato parlamentar de José Dirceu, então poderoso ministro-chefe da Casa Civil, por conta da artimanha jurídica da 'teoria do domínio do fato', pinçada do Direito alemão pelo ministro do STF Joaquim Barbosa, Lula teve fôlego para se reeleger em 2006 e, na esteira de avanços socioeconômicos, bancou o sucesso eleitoral de Dilma Rousseff em 2010, em meio a uma crise planetária que, na jocosa explicação do presidente, por aqui teve efeito de inofensiva 'marolinha'.
Em 2014, a direita golpista foi de Aécio Neves, mas a presidenta logrou se reeleger, motivo de subsequente deflagração de seu 'impeachment' no Congresso, por conta de novo artifício, depois amplamente desmentido, das 'pedaladas fiscais'.
Justamente em 2016, em meio à famigerada mobilização midiática contra Dilma, a esquerda, PT à frente, apelou para o reativo apoio das ruas que, todavia, já tinham aderido ao golpe, em verde-amarelo, subsidiando o confisco do Planalto pelo 'vice' arrivista Michel Temer e seus comparsas. Daí foi um passo para a prisão de Lula, nos marcos perversos e criminosos da 'Operação Lava-Jato'.
O discurso apoplético e 'antissistema' do ex-milico Jair Bolsonaro, obscuro deputado federal do 'baixo' clero' e nazifascista de carteirinha, foi absorvido por majoritária opinião pública, que o conduziu à presidência e ao negacionismo da pandemia da covid-19 , ceifadora da vida de 700 mil brasileiros, tragédia condimentada por generalizada improbidade na administração pública.
Apesar da vitória garantida no 'photoshop' em 2022, o redivivo carisma pessoal de Lula, incoercível mobilizador de massas, a despeito da sedimentada inércia da esquerda, livrou-nos do segundo mandato de Bolsonaro, agora inelegível por comprovados crimes eleitorais e na perspectiva de outras condenações em série, por apropriação indébita do Estado e comando de ação golpista que culminou com as atrocidades predatórias dos 'bolsominions' nas sedes dos Poderes da República em Brasília, no domingo-8 de janeiro de 2023.
Dois anos depois da posse de Lula e da retomada de seu protagonismo, nos âmbitos nacional e internacional, os partidos de esquerda sucumbiram diante do sucesso eleitoral municipalista da direita 'não bolsonarista' que, à base das 'emendas secretas' gerenciadas pelo abominável Arthur Lira, na Câmara dos Deputados, pavimentou o irrestrito domínio do 'Centrão', de cujo viés corruptor depende a aprovação de projetos do Executivo Federal.
Enquanto isso, os partidos de esquerda, PT à frente, seguem em sua ultrapassada metodologia de contato com as ruas, de quarenta anos atrás, com panfletagem nas esquinas e 'palavras de ordem' no megafone, além de eventos 'clandestinos' intramuros, inversamente à realidade de uma individualizada Comunicação intimista e veloz de redes sociais, que chega, nos centros urbanos e nas periferias, através do celular. (AMgóes)
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