quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Desembrulhando o

“presente de Natal”

de  Temer                 

noel
Escrevi, em 'post' anterior, que não existe “economia de gogó”.
Talvez seja preciso detalhar mais isso.
Sim, existe um componente de expectativa e confiança na economia, porque a economia é uma atividade humana, social e, portanto, sujeita aos humores de uma comunidade.
Mas isso é parte de um conjunto de fatores econômicos  que repousa, essencialmente, no binômio consumo (entendido aí no sentido amplo, não apenas no “consumista”) e produção.
Por mais que haja um descolamento da área financeira destas atividades, isso só é suficiente para ser hegemônico e sustentável em  economias pequenas, onde os fluxos de capitais são capazes de manter uma burocracia que, afinal, responde direta e indiretamente pela manutenção de suas populações.
Isso não pode, por óbvio, se sustentar num país das dimensões do Brasil, exceto se pensarmos o Brasil – não é raro que isso ocorra – como uma parcela de 25% ou 30% de sua população. Embora isto nos faça, mesmo assim, mercado superior à maioria dos países europeus, por exemplo, não é viável historicamente, pois significa manter dezenas de milhões de párias, um volume de gente que inviabiliza qualquer pretensão de um tecido social capaz de resistir às tensões que isso provoca.
O raciocínio medíocre de nossas elites – inclusive e principalmente da generalidade dos nossos empresários, economistas e analistas de economia na mídia – tem esta porção suicida: como seu único norte a “meritocracia”, que creem tê-los levado ao que são. Não compreendem que a exclusão é uma condenação deles próprios à estagnação e, no caso de muitos, à extinção, seja pelo fechamento – no caso dos menores – seja pelas vendas e fusões que, praticamente, já desnacionalizaram quase toda a nossa indústria.
O “demônio” predileto a levar as culpas das dificuldades econômicas, claro, é o Estado, que arrecada muito e gasta mal.
Frequentemente é verdade, embora este “muito” de arrecadação seja geralmente não dos poucos que ganham muito, enquanto nas despesas gasta-se muito com poucos que recebem os juros pagos pelo Estado e muito menos com os que precisam dos serviços e da assistência estatal.
O quadro que se está pintando para o Natal – que responde, em muitos setores, por nada menos que 30% de todo o movimento comercial –  e, por suas encomendas um expressivo naco da produção industrial – é um retrato muito mais fiel dos nossos problemas que – e aí volto ao tema – os nossos “economistas de gogó” alardeiam com base em “expectativas empresariais”.
O “vai melhorar” é quase um mantra que – agora que o país se livrou daqueles nefastos esquerdistas –  que é obrigação entoar.
Mas, na hora de botar mais um no balcão, porque haverá gente para comprar o que vende ou de colocar mais um a produzir o que o comércio venderá, ouve-se o bolso e olha-se a planilha de encomendas, não as colunas econômicas.
E o resultado é este que se vê na manchete de O Globo que reproduzo: só 23% dos empresários crêem que, no país que “está saindo do fundo do poço com uma responsabilidade fiscal que é arrocho para quase todos , o Natal “da retomada” vá ser melhor do que o “Natal do desastre” de 2015.
Os embrulhos dourados, laceados e drapejados são muito bonitos, é verdade.
Mas a realidade, o que está dentro deles, alguma hora aparece.

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