segunda-feira, 18 de setembro de 2023

 

Expurgo do ideário golpista na didática dos quartéis

Impossível dissociar nossas Forças Armadas das raízes que sustentam a estrutura social brasileira, como se tivessem brotado, por algum sortilégio, à margem do contexto histórico.

Afinal, instituições, de qualquer natureza, não se identificam por sua materialidade visual (edificações, mobiliários e equipamentos): fundam-se nas injunções circunstanciais e na pertinência dos objetivos de sua formulação em alguma quadra de nossa realidade sociopolítica e econômica.


Os Estados nacionais organizaram suas corporações armadas na esteira de tratados clássicos como, entre outros,  ‘A arte da Guerra’, do estrategista chinês Sun Tzu(século IV a.C) e ‘ De Re Militari’(‘Da coisa militar’, em tradução literal) do escritor Flavius Vegetius(Império Romano, século IV d.C), autor do conhecido lema ‘Si vis pacem, para bellum’(‘Se queres a paz, prepara a guerra’).

Como qualquer organização social, desde tempos imemoriais, as militares também decorrem de decisões humanas, em função das perspectivas  de cada época, considerando que os conflitos, como nos ensinam os manuais sociológicos, são uma forma (radicalmente persuasória) de interação.

A relevância das Forças Armadas, instituídas no soberano interesse do Estado, esbarra, entretanto, em sua intromissão nos mecanismos de governo eventualmente confiados, por escrutínio popular, a grupamentos político-partidários, únicos autorizados a projetar/promover as demandas vinculadas ao bem-estar social, no bojo das regras nacionais.

Um seletivo debate interno no âmbito militar do Brasil suscitou como legítima, no curso do século passado, a subversão do princípio de subalternidade ao poder civil constitucionalmente eleito, com intempestiva apropriação do governo pelos fardados, sob a mentira, midiaticamente reverberada, de representarem um ‘poder moderador’.


Com base na coerção das armas,  os militares proclamaram-se vida afora ‘patriotas’ e ‘incorruptíveis’,  na contramão das notórias permissividades perpetradas pelos paisanos  em funções públicas, mas os fatos, idos e recentes, provam o contrário. São exatamente iguais.

O ideário do golpe alimenta projetos de apropriação do Erário, a exigir, além de severa penalização por desvios funcionais, profilática correção de rumos nos quartéis e academias castrenses, cujas medidas saneadoras passam necessariamente por um  plebiscito, para opinarmos sobre o perfil de Forças Armadas que queremos como guardiãs de nossa soberania territorial, destituídas do cacoete subversivo de quebra da hierarquia, com recorrentes atentados à ordem constitucional.

Sem uma manifestação da sociedade, prevista na lei maior, os militares seguirão se achando modernos centuriões, pairando ameaçadoramente sobre nossas (desarmadas) cabeças civis.

(Antônio Manoel Góes)

 

 

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