terça-feira, 19 de setembro de 2023

 

Flávio Dino e o hegemônico ‘fogo amigo’ do PT

Aos 55 anos, o maranhense FLÁVIO DINO de Castro e Costa é advogado, mestre em Direito Constitucional e professor da Universidade Federal do Maranhão. 


Filiado ao PT em 1986, coordenou o comitê universitário da campanha de Lula-presidente(1989) no Maranhão. Juiz federal(1º lugar no concurso público, 1994), exerceu a magistratura por 12 anos, a que renunciou em 2006 ao se eleger deputado federal pelo PCdoB, em  cuja sigla e coligação com PSB, PPS e outros partidos, desmontaria em dois pleitos consecutivos a sexagenária oligarquia Sarney, representada por Lobão Filho e a filha Roseana, ex-governadora em dois mandatos. Em 2022, já no PSB, foi eleito senador e, integrante do grupo de transição do governo Lula-3, nomeado ministro da Justiça e Segurança Pública.


Preferido pelas bases locais do PT, Flávio Dino não contou com o apoio oficial do partido de Lula em 2014 e 2018, cuja direção nacional optou pelas candidaturas ‘sarneyzistas’ consecutivamente derrotadas no primeiro turno. O ‘supremo’ comando do chamado ‘paulistério’ petista submeteu-se ao masoquismo político de dois sequenciais tiros no pé, em nome de ‘acordos’ com o  desgastado ex-presidente que manipulara a política do Maranhão por mais de meio século, desde as bênçãos da ditadura que descartou o velho oligarca então dominante, Vitorino Freire. Aos 34 anos, apoiador do golpe de 1º de abril de 1964, o jovem udenista José Sarney foi ungido pelos generais na longeva carreira que o levaria à presidência sob ‘jeitinho brasileiro’, como ‘vice’ (não empossado) do subitamente falecido Tancredo Neves, com quem fora eleito por via indireta no Congresso(1985), nos estertores do regime autoritário. 


Voltemos ao personagem principal de nosso ‘enredo’. Um dos dois proeminentes ministros no terceiro mandato do presidente Lula (o outro é Fernando Haddad, da Fazenda), recém-aventado para a iminente vaga no STF com a aposentadoria da ministra Rosa Weber, Flávio Dino também  já é relacionado como precoce presidenciável, caso o atual governante decline de eventual reeleição(aos 81 anos) em 2026.

Embora se declare ‘feliz’ na Pasta da Justiça, onde opera com singular desenvoltura, Dino não descarta as especulações que o cercam, o que implicou, de pronto, sutil acionamento do ‘fogo amigo’ do Partido dos Trabalhadores, cujo projeto hegemônico, na rota do ‘pós-Lula’, não projeta o debate interno sobre quadros para além dos muros petistas, conquanto do mesmo espectro ideológico, onde viceja, por exemplo, embrionariamente, o nome de Guilherme Boulos(Psol), ora pré-apoiado para a prefeitura paulistana em 2024, dado o compromisso, de ‘porteira fechada’, do atual presidente.


Influentes figuras do PT no governo trabalham pelo titular da Justiça no Supremo, desde que a Pasta seja conferida à presidenta do Partido, deputada Gleisi Hoffmann. A par de outras respeitáveis sugestões, que também envolvem a sucessão na Procuradoria Geral da República, Lula, ressabiado por controversas indicações do passado (Joaquim Barbosa e Tofffoli, por exemplo), esgota todas as alternativas em torno da confiabilidade institucional, apesar dos açodados atiradores de plantão de seu grupamento partidário. Aguardemos os próximos e decisivos capítulos dessa novela, digna de tramas urdidas pelo talento dos finados Dias Gomes e Janete Clair.

(Antônio Manoel Góes)

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