quarta-feira, 10 de agosto de 2016

"Senador   Cristovam   Buarque deve  ganhar cargo na  Unesco após impeachment"

 

O senador Cristovam Buarque definiu como votará no julgamento do impeachment de Dilma Rousseff. Segundo entrevista à Folha, Cristovam vê pedaladas fiscais da presidente comprovadas pelo relatório de Antonio Anastasia (PSDB), mesmo com o Ministério Público Federal apontando em sentido contrário. De acordo com o jornalista Paulo Henrique Amorim, o que teria ajudado Cristovam, até então indeciso, a definir que "impeachment não é golpe" foi a promessa de ocupar um cargo na Unesco.
"(...) o ansioso blogueiro soube que alguém teria sugerido que Cristóvam fosse o chanceler do novo Governo Dilma [caso a presidente retorne ao poder]. Para ele poder continuar a voar de primeira classe ao exterior. Mas, aparentemente, ele preferiu um golpe mais seguro. Fonte do ansioso blogueiro assegura que Cristóvam será o embaixador Golpista na Unesco, órgão da ONU com sede em... Paris!", disparou PHA, no Conversa Afiada, nesta terça (9). 
Na tribuna do Senado, Cristovam disse que fracassou ao se juntar com um grupo de senadores para levantar a bandeira das novas eleições. Não houve, de acordo com ele, simpatia do governo Temer para fazer aprovar a medida. Ele também disse que "perdeu a confiança" de que a volta de Dilma seria benéfica para o Brasil. "Esteve claro para mim que a volta de Dilma significaria o retorno dos erros na economia. Não votaria de maneira a ser simpático para meus eleitores, mas pelo que será mais benéfico pelo Brasil, mesmo que seja um suicídio eleitoral."
Nessa terça(9), o Senado começou a a fase de pronúncia do impeachment de Dilma, isto é, definiu, por maioria simples dos votos que  a presidente deve ser julgada pelo crime de responsabilidade fiscal. A equipe do interino Michel Temer, que vem assediando senadores com promessas de cargos e recursos, quer demonstrar força e emplacar já 59  votos contra Dilma nessa rodada inicial, numa tentativa de dizer que o jogo já está perdido para a petista.
Os senadores contrários ao impeachment tentaram suspender o processo após a Lava Jato revelar que a Odebrecht citou em delação premiada o pagamento de R$ 10 milhões em espécie para Michel Temer, a pedido do então vice-presidente. O ministro Ricardo Lewandowski, que presidiu o julgamento de Dilma, negou essa demanda.
Para Cristovam, dificilmente Temer cairá após o impeachment ser consolidado. Tampouco sofrerá o mesmo processo por também ter assinado decretos suplementares sem autorização do Congresso, exatamente como teria feito Dilma. "É muito raro ter dois terços contra quem está no poder. A presidente Dilma só conseguiu isso porque não soube fazer o trabalho parlamentar. Faltou ter o respeito ao Parlamento. Ao desrespeitar, paga-se o preço."
Ex-ministro de Lula, Cristovam ainda negou que tenha alguma mágoa do PT ou de Dilma. Ele disse que nos encontros que teve com a presidente afastada, sugeriu a ela que renunciasse.
"Eu tenho certeza de que se o voto fosse secreto, o PT votaria pelo impeachment. Porque é a chance do PT de se reconstruir. Ele vai jogar a culpa de tudo o que fez de errado nos ombros do Temer. Inflação, desemprego, dívida, deficits da Previdência. Aí vão para a oposição onde ficam em uma posição cômoda. E tentando fazer valer a bandeira do golpe. É um papel dentro de uma estratégia eleitoral da bandeira do golpe em que vão dizer que brigaram até o fim.
Nessa terça, intelectuais enviaram ao senador uma carta pública pedindo que ele reconsidere seu voto a favor do impeachment.
Leia a íntegra da carta:
Senador Cristovam Buarque,
Os sonhos humanos é que justificam as vidas humanas. Por isso, essa matéria invisível como alicerces de orvalho, que sustenta e prefigura os passos com que desenhamos nosso destino, resiste. Resiste como uma luz acesa em cada escolha com que a História nos interpela. E nos cobra, depois, por cada escolha feita.
Os segmentos democráticos da sociedade no Brasil e no mundo voltam os olhos para o Senado Federal nesse agosto de 2016 para acompanhar o julgamento final da Presidente eleita Dilma Rousseff. Rigorosamente, chegamos a este agosto, quando ocorrerá o desfecho do processo sem que nenhuma instituição da República sustente a acusação inicial: o crime de responsabilidade que teria sido cometido pela Presidente eleita Dilma Rousseff. A acusação ruiu. Nem a própria assessoria técnica do Senado, nem o Ministério Público Federal lhe deram suporte. Não restou nada de pé. Na verdade, as pessoas já nem se lembram mais do que ela está sendo acusada. Outros preferem não se lembrar.
Se não houve crime de responsabilidade tal como tipificado na Constituição da República, cumpre buscar outras razões. As medidas anunciadas nessa longa interinidade que se aproxima dos 90 dias e já parece eterna, contribuem por si mesmas para esclarecer: o programa exposto pelo governo interino não é outro senão aquele que foi derrotado em quatro eleições sucessivas. Ora, governo interino não pode sequer ter programa próprio. É interino. É substituto. É provisório. Portanto, está agindo como se interino não fosse. Ou seja, atropela as instâncias de julgamento: o Senado Federal, ao qual pertence V. Exa. e a Suprema Corte. É, dessa forma, um governo usurpador. Se apropria de forma indevida de um poder conferido democraticamente pelo voto à Presidente afastada. No conteúdo e na forma afronta a "Soberania Popular" e as instituições a quem a Constituição atribui a condução do processo. Trata-se, portanto, de um governo golpista.
Os signatários desta Carta Aberta militaram ao seu lado travando batalhas em torno de bandeiras democráticas – os Programas "Bolsa Escola", "Saúde em Casa", "Paz no Trânsito", "Temporadas Populares" e outros – e seguem acreditando naquele sonho humano que justifica vidas: não há invenção mais imperfeita nem mais generosa, como forma de governo, do que a Democracia. No entanto, dessa vez, nos demos conta de sua ausência entre nós.
Nós todos e o senhor sabemos que as elites brasileiras não se distinguem por estimar o que as Constituições ocidentais definiram como "Soberania Popular". Sabemos também que lançaram mão do golpe de Estado todas as vezes em que verificaram sinais de emergência dos setores populares escravizados na Colônia e no Império, saqueados, reduzidos à extrema pobreza, mantidos à margem de qualquer oportunidade de alcançar uma vida digna, ao longo da mal chamada República, proclamada no fim do século XIX e nunca efetivamente construída. Neste momento assistimos, estarrecidos e indignados, em pouco mais de 60 dias à frente de um governo interino, um extrato político abjeto - que envergonharia os traficantes de escravos do século XIX - assumir uma ofensiva contra a soberania nacional e contra os direitos sociais conquistados a partir da Constituição de 88, fazendo com que o Brasil retroceda à barbárie da "Apartação Social", denunciada pelo senhor em seus livros e ao longo de sua vida pública.
Há certos olhares do passado que se perpetuam na História porque foram capazes de projetar, como desenho, a nação que desejamos e, por isso mesmo, nos ajudam a elucidar o presente: não é ocioso indagar como reagiriam Paulo Freire, Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro diante dos rumos tomados pelo Ministério da Educação do governo interino, orientados agora por uma gestão privatista e inspirada pelas reflexões da "Escola sem Partido" defendida por um ilustre educador que até pouco tempo dedicava seu talento pedagógico ao ensino em estúdios de gravação de filmes pornográficos.
Como em outros momentos de crise política no Brasil, teremos agora em agosto aqueles senadores que, inspirados no perfil de Auro de Moura Andrade, buscarão alterar os ponteiros do relógio do Congresso para declarar vago o cargo de Presidente da República. Imaginam eles, com esse gesto, alterar os tempos da História. Da memória e do esquecimento. Outros vão preferir a inspiração de Teotônio Vilela no final de sua vida, pouco antes de se desatar o mais impressionante movimento de massas já visto na sociedade brasileira, a campanha das "Diretas Já": "... não temos outra saída senão uma representação política capaz de reorientar a vida deste país. É quase que algo milagroso, é como se eu tivesse falando de coisas messiânicas, mas é assim mesmo que está vivendo hoje o brasileiro, (...). Se alguém ainda hoje vai para a urna votar, vai, sobretudo, tocado deste sentimento messiânico, da existência de uma mudança que ele não concebe, como não dá para concretizar exatamente, não sabe ainda porque aquele voto vai ter alguma valia. Mas ele vai votar. O brasileiro vai votar. Vai definir a vida deste país..." Romper com esse princípio básico: o voto. Romper com a soberania popular reconquistada a partir de 1988. É disso que vai tratar o Senado Federal ao definir sobre o impedimento, sem prova de crime de responsabilidade, da Presidente eleita com 54 milhões de votos, Dilma Rousseff, no julgamento de agosto. A História nos dirá, quais serão as consequências.
Com seu voto no julgamento final do Senado da República sobre se há ou não consistência nas acusações que se oferecem contra Dilma Rousseff, o senhor trilhará o caminho da cinza, da abjeção e, por fim, do esquecimento que dissolveram a figura de Auro de Moura Andrade ou, ao contrário, reforçará a luz que a coragem de Teotônio Vilela acendeu no declínio da mais feroz tirania que vivemos na História do nosso país.
Senador Cristovam Buarque, a História o interpela com os olhos dos cidadãos que buscam pela Justiça.
Assinam:
1. António Ibañez Ruiz – É professor do Departamento de Engenharia Mecânica da UNB, ex-Reitor da Universidade de Brasília e foi Secretário de Educação do Governador Cristovam Buarque;

2. Arlete Avelar Sampaio – Médica e foi Vice Governadora do Governador Cristovam Buarque e foi Deputada Distrital;
3. Boaventura de Sousa Santos – Sociólogo, Professor Catedrático Jubilado da Universidade de Coimbra e Diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra;
4. José Geraldo de Sousa Júnior - Professor de Direito, ex-Reitor da Universidade de Brasília;
5. Pedro Tierra (Hamilton Pereira da Silva) - Poeta, escritor, foi Secretário de Cultura do Governador Cristovam Buarque;
6. Roberto Aguiar - Professor de Direito, ex-Reitor da Universidade de Brasília e foi Secretário de Segurança Pública do Governador Cristovam Buarque;
7. Swedenberger Barbosa – Foi Secretário de Governo do Governador Cristovam Buarque.

Nenhum comentário:

Postar um comentário