quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Dilma, ao Le Monde:  “...uma guerra   suja  e  hipócrita...”   

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Em matéria  com grande chamada de capa (impensável aqui com a mídia que temos) Dilma Rousseff falou a Claire Gatinois, enviada especial do jornal  francês Le Monde:

Este processo de destituição é uma fraude

Cinco dias depois de sua demissão, a ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, recebeu Le Monde, segunda-feira, 5 setembro, na residência presidencial, o Palácio da Alvorada, em Brasília. Na véspera da sua mudança para Porto Alegre, onde ela vai reencontrar sua família, a ex-guerrilheira  continua a afirmar a sua inocência das acusações de manipulações contábeis que são, oficialmente, a origem de sua saída.
“Esse processo de impedimento é uma fraude. Uma ruptura democrática que criou um clima de insegurança nas instituições políticas e afetam toda a América Latina.”
Sua demissão ocorreu em um clima de profunda crise e a corrupção e escândalos econômicos espirrou nos partidos políticos, incluindo o seu, o Partido dos Trabalhadores (PT, esquerda). Qual é a sua opinião sobre o julgamento do Senado?
Os argumentos que levaram à minha demissão são pretextos. Depois de ter sido deposta sem perder meus direitos políticos, isso demonstra que, não há lógica, este processo não tem base jurídica. Para justificar o meu impeachment, tiveram que encontrar outras razões, como “um conjunto de ações” [o conjunto da obra]. Isso não é permitido pela Constituição Brasileira. Não são os oitenta e um senadores que tem de julgar minha política, mas toda a população, por meio de eleições diretas.
Na verdade, eu acho que houve outra motivação por trás disso, que é a de interromper a operação Lava Jato, para interromper todas as investigações relacionadas com a corrupção, a lavagem dinheiro, a existência de caixa dois [para o financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais].
“Eu entendo que os eleitores ficaram desapontados com todos os partidos políticos”.
Para Dilma, “não havia outra motivação” por trás de sua destituição: “Isso foi para interromper a operação Lava Jato, para parar todas as investigações relacionadas com a corrupção, a lavagem de dinheiro, a existência de caixa dois (para o financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais). “O escândalo de corrupção da operação Lava Jato, da estatal petrolífera Petrobrás,  afetou toda a classe política brasileira.
“Eu entendo que os eleitores ficaram desapontados com todos os partidos políticos”, explica a ex-presidente, que defende seu balanço (prós e contras) e também de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.
Para ela, sem as leis adotadas, desde a chegada do seu partido ao poder, o Partido dos Trabalhadores, em 2003, “a polícia nunca conseguiria passar por cima do sistema (de corrupção) na Petrobras”.
“O outro interesse obscuro (dos seus adversários) foi implementar uma agenda neoliberal, que não estava prevista no meu programa”, Rousseff também explica: “Os protagonistas desta destituição são a oligarquia brasileira”.  Um grupo dos mais ricos, como os meios de comunicação (que, de acordo com a presidente, auxiliou para transmitir informações tendenciosas).
Critica um sistema político de 35 partidos onde se é obrigado a fazer alianças. E reconhece a incapacidade de uma reforma em 2013. “É como se você pedisse para uma raposa proteger o galinheiro”.
“Eu já deixei de estar sujeita às observações machistas”.
A ex- chefe de Estado, finalmente, evoca as “observações machistas” que ela tinha que ouvir: “primeiro disseram que eu era dura ( … ) . Em seguida, queriam fazer de mim uma mulher frágil, doente, deprimida.”.
Mas para ela, este revés não é o fim: “A resistência vai acontecer através da crítica, do debate político. Este é o início de uma luta. Estou otimista, a indignação está mais viva hoje no Brasil. O país vai se agigantar.”

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