Datafolha oculta vontade
da
maioria nos cenários
sem Lula
MAURO DONATO, no DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
Na
ânsia de mostrar nomes e avaliar suas possibilidades, pesquisas muitas vezes
deixam dados importantes em letras miúdas e inseridos lá no rodapé. ||| O
Datafolha divulgado nesse último domingo(3) sobre a corrida presidencial, por exemplo, dá
a entender que Bolsonaro venceria nos cenários em que Lula não está no páreo. ||| A
verdade é que em todos os cenários sem a presença de Lula, o número de votos
brancos/nulos/nenhum/não sabem vencem Bolsonaro com folga. ||| Sem
Lula e com Joaquim Barbosa, por exemplo, Bolsonaro teria 21% enquanto os votos
brancos/nulos/nenhum/não sabem totalizam 32%. Sem Lula e com Henrique
Meirelles, Bolsonaro apanha por uma diferença ainda maior: 22% para o
extrema-direitista contra 35%. E assim vai, na mesma toada, seja com Doria, com
Marina Silva, com qualquer candidato que não Lula.
Para
efeito comparativo, quando Lula é inserido na disputa, num cenário contra Jair
Bolsonaro, Marina Silva, Joaquim Barbosa, Geraldo Alckmin e Ciro Gomes, o
petista fica em primeiro lugar com 34% enquanto brancos/nulos/nenhum/não sabem
totalizam apenas 14%. E como destacado na manchete da própria pesquisa, Lula
lidera em todos os cenários. ||| Para
os paulistas, esse mesmo dado escondido é igualmente relevante. Na disputa para
governador, o mesmo Datafolha coloca Celso Russomanno em primeiro
lugar em todos os cenários, contra quem quer que seja. Obviamente que o instituto
de pesquisa evitar emitir opiniões e não irá comentar sobre o candidato que
sempre larga na frente em sondagens feitas muito antes das eleições e que
depois repete monótona e previsivelmente seu voo de galinha. ||| Mesmo
assim está lá, para quem queira ver, que Celso Russomanno empata com
brancos/nulos/nenhum/não sabem em todos os cenários. Empate puro em três
cenários e tecnicamente nos outros quatro. Com a presença de Doria e Luiz
Marinho, temos 25% a 25%. Quando estão José Serra e Fernando Haddad, a vantagem
de Russomanno é de apenas um ponto, 25% a 24% para brancos/nulos/nenhum/não
sabem. ||| E há
mais. Quando a pesquisa é feita no modo ‘espontâneo’, ou seja, sem a
apresentação de nomes de candidatos ao entrevistado, nada menos que 65% dos
paulistas afirmaram não saber em quem irão votar e outros 20% cravaram branco
ou nulo. Exatamente, 85% de brancos/nulos/nenhum/não sabem. Mais um dado que
fica lá na rebarba, sem o destaque devido para o retrato da opinião da imensa
maioria. ||| Essas
informações deveriam receber o mesmo peso na hora da divulgação. Da forma como
são apresentadas as pesquisas, nomes já vão sendo incutidos na cabeça do
eleitor sendo que as candidaturas sequer estão definidas. Na cabeça do leigo,
os nomes são esses e se estabelece o nocivo ‘já ganhou’. Ao contrário do que
muitos acreditam, votos em branco e nulos – mesmo quando atingem mais da metade
dos votos – não cancelam uma eleição. ||| Os
votos em branco eram considerados válidos (isto é, eram contabilizados para o
candidato vencedor) antes da Constituição Federal de 88. Hoje só os votos
válidos são contabilizados (os que têm nome e legenda). Portanto, sim,
Bolsonaro venceria mesmo que com apenas 20% da população apoiando-o. Mas
imagine a tensão das ruas em um país cujo presidente não foi escolhido pela
maioria.

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