O general Mourão enfia a
faca na imagem de Bolsonaro, mas, se assumisse, seria pior que o presidente trapalhão que aí está
Todos os generais de hoje foram iniciados na carreira com a lavagem cerebral do autoritarismo castrense, nos 'anos de chumbo' da ditadura militar
LUÍS NASSIF, no JORNAL/GGN
O general Hamilton Mourão é dúbio, mas pratica a dubiedade com talento. Não veio para contestar abertamente Bolsonaro agora. Tergiversa, provavelmente aguardando a possibilidade de Bolsonaro cair de maduro sem desmanchar a aliança de poder que o levou ao cargo. >>> Ao mesmo tempo, faz uma defesa-acusação, que expõe completamente o defendido. É um exercício interessante entender o jogo de defende-entrega em relação a Bolsonaro, em sua entrevista deste domingo(29) à Folha de S. Paulo(AQUI), confirma sua habilidade em defender o chefe sorrindo, enquanto enfia a faca sem dó. Substituindo Bolsonaro, seria um Bolsonaro com razoabilidade, versão muito pior do que o Bolsonaro trapalhão. >>> SOBRE O TESTE DE CORONAVÍRUS DE BOLSONARO - Justifica o fato de Bolsonaro não revelar seu teste de coronavirus, ao mesmo tempo que o entrega. “Acho que tem de confiar na palavra do presidente. Seria o pior dos mundos o presidente chegar e declarar que testou e deu negativo e depois aparecer que deu positivo”. Quando aparecer o resultado, será o pior dos mundos. >>> E antecipa como será o julgamento militar para chefe que falta com a verdade. “Parto do princípio, e isso é uma coisa que é muito cara para nós que viemos do meio militar, a questão que sua palavra tem fé de ofício. A gente só trabalha no meio militar assim. Se eu falei A, é porque é A. A partir do momento em que vou estabelecer uma desconfiança com o subordinado ou com um superior, morre o relacionamento. Acho que, se o presidente disse que deu negativo, OK. Deu negativo”. >>> SOBRE A 'GRIPEZINHA' - Indagado sobre a “gripezinha”, admite que o caso é sério, mas o presidente, quando fala em gripezinha, “é o linguajar dele”. Em qualquer linguajar, gripezinha é uma forma de minimizar problemas graves. No linguajar tosco de Bolsonaro, a expressão correta para pandemia seria “uma puta gripe, talkei?”. Ao longo da entrevista, Mourão insistiu várias vezes que Bolsonaro não tem jeito. Ele tem 65 anos, não pode mais mudar. >>> SOBRE A SOCIOPATIA FAMILIAR - “É uma família muito unida, que atravessou problemas ao longo de sua evolução do núcleo familiar”. >>> SOBRE O FATO DE BOLSONARO SER UM TOSCO - “Todo mundo coloca que ele está totalmente errado e é um tosco. Não é isso. Ele tem a visão dele e se expressa, vamos colocar assim, de forma clara”. Ou seja, Mourão confirma, com todas as letras, embora sofismando, o que todo mundo sabe desde sempre: Bolsonaro é realmente um tosco.
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