Blog do AMgóes
sábado, 9 de novembro de 2024
domingo, 25 de agosto de 2024
LULA, O CONCILIADOR NAS ENTRELINHAS NEOLIBERAIS
Quando protagonista nas greves dos metalúrgicos do ABC paulista, fim dos anos 1970, em plena ditadura militar, o sindicalista Lula primou pelo escapismo ideológico ao ser perguntado se era de ‘direita’ ou ‘esquerda’: “Sou torneio-mecânico”.
A
realidade subsequente, que decretou o fim da longeva quartelada de 1964, apelidada
pelos golpistas, fardados e paisanos, de ‘Revolução Redentora’, gerou o confronto
entre recalcitrantes ‘direitistas’, saudosos das benesses do autoritarismo, e ‘neoesquerdistas’,
constituídos por sobreviventes comunistas e sociais-democratas acomodados no recém-nascido
PT de Lula, PDT de Brizola e PSB resgatado pela figura emblemática de Miguel
Arraes, todos a desfraldar bandeiras de perspectiva ‘socializante’(pelo menos
na retórica de suas lideranças).
Quatro
décadas depois, período da vitoriosa eclosão de Luís Inácio à frente do Partido
dos Trabalhadores, com aliados de circunstancial espectro político, a gerar
alentadores resultados nas urnas, projetos de inclusão socioeconômica do ‘andar
de baixo’, ganhos inéditos das elites e proeminente presença brasileira no
contexto internacional, o líder ressurgido de sórdida repressão centrada no
judicialismo canalha, do ‘Mensalão’ à ‘Lava-Jato’,
faz uma inflexão pragmática para se adequar a premissas conciliatórias com o imperial
‘Bigh Brother’ de Washington.
Na
questão específica das recentes eleições venezuelanas, a propalada ‘mediação’
de Lula nos impasses gerados pela encenação da extrema-direita golpista do
vizinho país, apeada do poder em 1998, explicita solene descarte do princípio
universal da autodeterminação dos povos, com forte indício de intromissão nos
assuntos internos de um país soberano.
Na
prática, o Lula ‘conciliador’ (que se contrapõe à lógica da ‘luta de classes’ em
curso, segundo Marx, desde tempos
imemoriais) avaliza com errática sutileza os interesses neocolonialistas
dos Estados Unidos, faz mais de um
século dependentes do petróleo venezuelano na operação do sistema
norte-americano de energia termoelétrica, então beneficiado pelos obsequiosos
custos da ‘commodity’ de nossos vizinhos,
governados por emboloradas oligarquias entreguistas.
A ‘Revolução
bolivariana’ liderada por Hugo Chavez, com renovado aval eleitoral, mudou a
relação de sabujo compadrismo entre a Venezuela e os Estados Unidos, a partir
da reformulação estatal da PDVESA(similar
de nossa Petrobrás), na extração e refino de hidrocarbonetos, cujos resultados financeiros
eram até então inexpressivamente transferidos às demandas socioestruturais da população.
O
petróleo da Venezuela responde por 1/3 do PIB, 80% das receitas de exportação e
mais da metade do financiamento da administração pública. Todavia, advieram, na
segunda década deste século, novecentas sanções dos Estados Unidos, abusivas e
unilaterais, geradoras de devastadora crise econômica decorrente
da escassez de insumos básicos, vitais à subsistência da população venezuelana,
concomitante com insurgências golpistas da oposição, afastadas do secular
processo de exploração do patrimônio nacional, financiadas por poderosas corporações
norte-americanas.
Os
Estados Unidos promovem a asfixia econômica da Venezuela com vista à retomada
dos preços vis que pagavam para garantir sua planta energética baseada em
termoelétricas, minando a resistente estrutura formulada por Chavez e mantida
por Maduro nos últimos 25 anos, suscetível, por óbvio, ao desgaste provocado por
notória perda de qualidade de vida da população.
A
perversa associação dos Estados Unidos a subservientes comparsas europeus e
latino-americanos reproduz midiaticamente a demonização da Venezuela
bolivariana, carimbada como uma ‘ditadura’, na contramão da democracia popular
lá instaurada, submetida a recorrentes consultas aos cidadãos, com um sistema
eleitoral eletrônico mais avançado que o brasileiro, de reconhecida inviolabilidade
por acreditados especialistas internacionais.
Por
fim, a desarrazoada interferência do Brasil e outros governos da América do Sul
que postergam ou rejeitam o reconhecimento da vitória de Maduro, confirmada em
todas as instâncias competentes de poder na Venezuela, na troca de figurinhas
com prepostos de uma elite golpista e desagregadora das instituições do vizinho
país no norte continental.
Em
sua anunciada ‘mediação’, Lula põe em dúvida, sub-repticiamente, a idoneidade
dos mecanismos institucionais de outro Estado, objeto dos arreganhos de
desafetos do atual governante, com os quais interage à distância, sobre o processo eleitoral de 28 de julho, à revelia da constatação de sua lisura por
mais de uma centena de observadores externos.
EM
TEMPO: a posição reticente de Lula no
contexto sul-americano sinaliza, conforme experientes críticos, que o ‘B’ (de ‘Brasil’)
pode proximamente desfalcar a sigla BRICS, afastando-nos do grupo formador da
nova geopolítica planetária, ora em promissora etapa de crescentes adesões. Os
encantos da Disney, de Mickey a Tio Patinhas, teriam, para desalento geral,
atraído a simpatia do ‘Lulinha-paz-e-amor’. A ver. (AMGóes)
terça-feira, 26 de setembro de 2023
O ‘Marco Temporal’ de Bolsonaro e a 'cláusula pétrea' do histórico domínio dos indígenas sobre suas terras
(Imagem: coladaweb.com)
‘Cláusulas
Pétreas’ são regras imutáveis de nosso ordenamento constitucional. Advêm de mecanismos
legais introduzidos pelas Cortes Portuguesas a partir do Brasil-Colônia, afinal reiteradas na vigente Constituição Federal
(art. 60 § 4º), de 1988.
´São
‘Cláusulas Pétreas’: o caráter federativo do Estado brasileiro; o voto direto,
secreto, universal e periódico; a separação dos Poderes da República; os
direitos e garantias fundamentais (individuais, coletivos, sociais e políticos).
Entre
essas prerrogativas fundamentais, o direito territorial dos ‘povos originários’(indígenas),
em toda a sua diversidade étnica e cultural Brasil afora, através de reconhecimento,
proteção e demarcação de órgãos estatais.
(Gravura: Rugendas/Enciclopédia Global)
Desde
os idos coloniais(alvará de 1680, concedido por Pedro II, rei de Portugal,
entre outros documentos), a legislação conferiu direitos irrestritos de nossos
indígenas sobre suas terras, malgrado, no curso dos séculos, brechas ditas ‘legais’
tenham permitido descalabros como a escravização dessas populações nativas e a ocupação
de seus territórios.
No
século 19, o governo imperial outorgou às províncias a legislação da política indigenista, notadamente nas
atuais regiões do Nordeste e Sudeste, com o desencadeamento de conflitos fundiários
e ações genocidas contra os silvícolas, apesar da ‘Lei das Terras’, de
1850, que lhes assegurou o domínio inalienável sobre os territórios tradicionais.
Proclamada
a República, em 1889, os estados continuaram a dar as cartas sobre as terras
indígenas e, em 1908, o Brasil foi acusado de genocídio, no âmbito internacional,
em meio a excrescências de políticas públicas assépticas que previa, no Estado laico
recém-estabelecido, a ‘catequese’ dos povos originários, com fins supostamente ‘civilizatórios’,
através da instituição de tutela do SPI/Serviço de proteção ao Índio.
Em
1967, primeiros tempos da ditadura militar, o SPI passou à designação de FUNAI/Fundação
Nacional do Índio, uma mudança burocrática, sob visão distorcida dos fardados
quanto à amplitude da integração nacional, na gestão segregacionista das demandas indígenas,
concomitante com um programa de assentamento de agrovilas na Amazônia, estágio
predecessor da formidável organização criminosa de grilagem, formação de
latifúndios na floresta devastada e a introdução de pecuária extensiva, até hoje
predominantes na imensa região Norte do país.
(Foto): Observatório do 3º Setor)
No
papel, nossa carta Magna de 1988 consagra, com
os melhores propósitos de cidadania, os direitos originários dos indígenas sobre os
territórios ocupados pela ancestralidade multissecular(ou multimilenar?),
observada a preservação dos recursos naturais inerentes ao bem-estar dos ocupantes e à sua reprodução física e cultural, respeitados usos e costumes, de
cujos perímetros não podem ser removidos, salvo em casos emergenciais de comprovados
riscos a sua convivência ambiental.
Registraram-se,
entre o fim do século passado e começo do atual, expressivos avanços configurados
em tratativas de organismos internacionais, para proteção dos contingentes autóctones
nos quadrantes do planeta, ainda de parca aplicabilidade entre nós, como a ‘Declaração
das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas’, de 2007. Por aqui, foi estabelecida em
2012 a introdução da ‘Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras
Indígenas’.
(Foto: ECOA)
Entretanto,
a inação resultante do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff foi dilatada a
partir de 2020, através de parecer da Advocacia Geral da União, no (des)governo
Bolsonaro, que autorizou/certificou propriedades privadas nos limites de
terras indígenas em demarcações definitivas, proteladas pelos trâmites burocráticos oficiais.
A
colossal invasão do agronegócio e da mineração na Amazônia, respaldada
pela criminosa gestão bolsonarista, restabeleceu
a expansão privada com reedição da
hediondez genocida do período militarista, mais de meio século atrás, fundamentada
em esdrúxulo ‘Marco Temporal’(recém-desconstruído pelo
STF), ao arrepio de (inalterável) ‘cláusula pétrea’ inserida em nosso arcabouço
constitucional.
(Foto: Agência Brasil)
Agora,
no governo Lula-3, o inédito Ministério dos Povos Originários retoma, com
atualizados parâmetros, a citada ‘Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental
de Terras Indígenas’, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, a suscitar promíscua
resistência ruralista, face à perda liminar de investimentos em áreas indígenas.
Ocorre
que o alegado princípio da ‘boa fé’, norteador de ocupações concretamente ilegais,
conquanto eventualmente autorizadas pelo Poder Público, não subsiste às incondicionalidades
da ‘cláusula pétrea’ constitucional, desprovida de anteparos indenizatórios,
face ao preconizado no artigo 3º da Introdução às Normas do Direito Brasileiro(‘a
ninguém é dado desconhecer a lei’).
(Foto: pv.org.br)
Infelizmente,
o oportunista ‘jeitinho brasileiro’ tem propiciado, no curso de nossa História (remota ou contemporânea),
a inclusão de ‘puxadinhos’ jurídicos que, via de regra, contemplam supostas compensações
a transgressores dos preceitos legais.
Dessa forma, pode-se apostar que a derrubada do ‘Marco Tempooral’ bolsonarista implicará acordos no Congresso, majoritariamente conservador, com vista ao reembolso de criminosos ocasionalmente defenestrados de tradicionais reservas indígenas no país. A ver.
(Antônio Manoel Góes)
sábado, 23 de setembro de 2023
O vacilante ministro da Defesa de Lula e o general do Exército que ameaçou prender Bolsonaro por tentativa de golpe
(Foto: Agência Brasil)
A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante-de-ordens de Bolsonaro, começa a revelar detalhes dos bastidores golpistas no pós-derrota da eleição de 2022. Os fatos recém-enunciados corroboram o que todos inferíamos, sem, porém, conhecer seus pormenores.
Premido pela gravíssima circunstância de 'bola ou búlica', na concreta iminência de perder a patente e começar a vida do 'zero', afora a perspectiva de cadeia pelos crimes de que foi (co)protagonista, Mauro Cid passou a especificar o que viu, ouviu e ajudou a construir contra o Estado democrático de Direito.
(Foto: Revista Fórum)
Sobre todos nós pairava a dúvida em torno da iniciativa de golpe: dos comandantes das três armas, face à herança do histórico de insurgências em nossa secular República, ou do deletério (des)governante derrotado nas urnas.
(Foto: Jornal GGN)O delator explicita que apenas o almirante Almir Garnier se dispôs a mobilizar as 'belonaves da Marinha, hipoteticamente ancoradas no 'distrito naval' do lago Paranoá, em Brasília, ocorrência merecedora de um vídeo escrachante do 'sargento Peçanha', do 'Porta dos Fundos'.
O brigadeiro-chefe da Força Aérea ficou calado/constrangido diante do plano de golpe de Jair Messias, mas o general Freire Gomes, do Exército, tirou no ato 'o...dele' da reta, ameaçando até prender o 'ex-imbrochável' se insistisse na tal intentona para continuar no Planalto.
(Foto: DCM)
A bombástica delação levou outra vez à loucura o entorno bolsonarista, decidido a 'processar por calúnia e difamação' o tenente-coronel, em meio às notícias da convocação do (ex-)'mito' pela CPMI do Congresso.
Nesse ínterim, eis que o escorregadio Múcio Monteiro, ministro da Defesa de Lula, especialista em 'panos quentes', declara que as Forças Armadas 'garantiram'(?) a posse de Lula. Já o atual comandante do Exército, general Ribeiro Paiva, profundo conhecedor dos malfeitos dos camaradas fardados, advoga sistemática 'depuração' nos quartéis.
(Foto: Ricardo Stuckert)
Ao conciliar com os subalternos militares(ao invés de lhes impor diretrizes, como lhe cabe), o governo Lula dá sinais de recorrente tibieza, notadamente por ter perdido a capacidade de chamar às ruas a multidão do povo, única a lhe garantir respaldo constitucional, desde a vitória nas urnas.
(Antônio Manoel Góes)
quinta-feira, 21 de setembro de 2023
Biden blefa ao discutir com Lula medidas protetivas e de valorização para os trabalhadores
(Foto: Agência Brasil)
Contrariamente
ao discurso dessa quarta-feira(20) em Nova York, no encontro com Lula, em meio à
enxurrada de intenções voltadas à ‘valorização dos trabalhadores’, o presidente
dos Estados Unidos, Joe Biden, blefa sobre um tema altamente depreciativo para
a História norte americana.
(Imagem: historiadigital.org)
O
país mais rico do planeta foi palco, em 1º de maio de 1886, de violenta repressão policial contra operários
na metrópole industrial de Chicago (seus sindicatos reivindicavam a redução da
jornada de trabalho, de 13 para 8 horas), com mortos e feridos entre os manifestantes,
de cujos líderes 4 foram condenados à morte na forca e outros levados à prisão
perpétua, todos sem culpa formada nos tribunais.
Tanto
que, na esteira das sequelas do massacre de Chicago, o Dia do Trabalho,
convalidado em 1º de maio, na 2ª Internacional Socialista
de 1889, em Paris, foi oficializado nos EUA na primeira segunda-feira de setembro,
pretensamente para escamotear a memória das atrocidades de 1886.
(Foto: anarquista.net)
Todavia,
o memorial às vítimas de Chicago tornou perene a lembrança do assassinato de
operários na frase de seu frontispício: “Um dia, nosso silêncio será mais forte
do que as vozes que vocês hoje estrangulam’.
Embora
Biden reitere, desde a campanha eleitoral, que “o capital humano é o principal ‘ativo’
das empresas, fonte de crescimento e expansão dos negócios”, daí indispensável
a valorização do trabalhador, as práticas neoliberais, implementadas no século
passado e até hoje vigentes, derrubam as ‘bem intencionadas’ declarações do governante
do ‘Big Brother’ do hemisfério norte.
(Foto: Hora do Povo)
A despeito de nossa celebrada Consolidação das
Leis Trabalhistas, promulgada pelo presidente Vargas9foto acima) em 1º de maio de 1943, acabamos
por anular a estabilidade emprego em 1967, na Ditadura Militar, com a instituição
do FGTS e subsequente primado da ‘demissão imotivada’ que prioriza interesses
patronais no confronto com a perspectiva de segurança do trabalhador, daí em
diante submetido a um regime de ‘ou dá ou desce’: ou opta pelo ‘Fundo de
Garantia do tempo de Serviço’ ou vá procurar trabalho noutra freguesia.
(Foto: Agência Brasil)
Os
tempos são outros e as relações de trabalho foram impactadas pelas tecnologias digitais,
repetindo, dois séculos depois, dilemas análogos ao nascedouro da Revolução Industrial.
O sequencial aviltamento das regras trabalhistas desaguou, entre nós, na ‘era
dos PJ’, transformando o clássico ‘assalariado’ em trabalhador ‘por conta própria’,
inclusive escamoteado com as ‘facilidades’ do expediente ‘home office’(Já
pensou? Trabalhar em casa de pijama ou camisola? A qualquer hora do dia, da
noite ou madrugada, sem relógio de ponto? Os invejosos podem até chamar de ‘trabalho
escravo’, mas é chique...)
A
precarização da mão de obra, a partir dos sistemas robotizados, até a ‘inteligência
artificial’, gerou legiões de desempregados nos Estados Unidos e demais países
ditos ‘desenvolvidos’, em cujo interstício de adaptação à nova realidade laboral
afundam nas incertezas da luta cotidiana pela sobrevivência.
(Imagem:IStock)
O ‘capital
humano’, contrariamente à retórica de Biden, não é mais ‘principal ativo’ das
empresas, substituído por parafernálias automatizadas que só param de produzir
na eventual troca de um ‘chip’, ‘alma mater’ de seu funcionamento, sem hora para
almoço nem descanso semanal remunerado e muito menos férias anuais. Diante de qualquer
‘desprogramação’, chame o 'TI' terceirizado, que ele resolve...
(Foto: Blog ESEG)
Enquanto
por aqui nos debruçamos, faz tempo, na cruzada contra o trabalho infantil, 14 dos
50 estados norte-americanos derrubam leis protetivas de crianças e
adolescentes, em particular filhos(as) de imigrantes chegados ao (falacioso) ‘paraíso
da democracia’, a quem impõem até atividades noturnas e insalubres, em troca de
50% do salário mínimo conferido aos adultos.
(Foto: Valor Econômico)
Lula causa espanto ao incensar o colega Biden, subitamente ‘beatificado’(ou
‘canonizado’?) como ‘padroeiro’ dos trabalhadores do planeta. E só não o
proclamou ‘socialista’ porque cairia mal um elogio ‘esquerdizante’, nesta quadra
de guerra híbrida contra malvados chineses comunistas, também(como os russos) ‘devoradores de criancinhas’...
quarta-feira, 20 de setembro de 2023
Do antológico discurso de Lula
na ONU ao ódio estrutural da
extrema-direita
(Foto: Veja)
Não
me atenho aos relevantes detalhes do discurso do presidente Lula na ONU porque já
passaram ao amplo domínio em todas as mídias, mesas de debate acadêmico e rodas
de conversas triviais, aqui e mundo afora.
As
sete interrupções com aplausos à retórica do governante brasileiro sinalizam a enfática
concordância dos representantes de 193 Estados, integrantes do organismo internacional,
instituído no rastro da tragédia do conflito contra o eixo nazifascista que
matou 70 a 85 milhões de homens, mulheres e crianças, equivalentes a 3% da
população planetária na década de 1940 (de 2,3 bilhões de humanos).
(Ricardo Stuckert-Ag.Brasil)
Lula
centralizou sua mensagem na recorrente ‘desigualdade’ que preserva o império
dos 10% mais ricos sobre bilhões de pobres e miseráveis, notadamente em regiões
do sul global, sem perspectiva de concreta alteração nesse quadro de
apropriação das riquezas da Terra. Ele deplorou que promessas de subsídios em
fóruns internacionais, para fazer face à derrocada ambiental e climática em curso, permanecem no papel, sob o controle
de embolorada geopolítica, segregadora e unilateral.
Em
nosso âmbito doméstico, persiste a resiliência do ódio estrutural de expressivos
bolsões de compatriotas contaminados na pandêmica eclosão do destruidor
bolsonarismo, a nova face dos ditos ‘conservadores’, assumidamente de ‘extrema-direita’. Com efeito, todo extremista se declara ‘patriota’,
na alucinada salvaguarda
de ‘princípios cristãos’, sem os quais só nos restariam doloridos e alucinantes
ranger de dentes. Daí, outrora sociáveis de ‘centro-direita’, embora defensores de inconsistentes
e enganosas pautas neoliberais, passarem a radicalizar à luz de segregacionista
intolerância aos ‘contrários’ rotulados como ‘indesejáveis’ e passíveis até de ‘asséptica’
eliminação.
Para
a extrema-direita, a celebração do ódio é pertinente, funcional e lucrativa,
como assevera o deputado-pastor Henrique Vieira(Psol/RJ),
contrapondo-se, entre os seus, ao instigante ‘evangelismo de resultados’.
(Foto: Brasil de Fato)
Enquanto
Lula lava a alma verde-amarela na ONU, a cobrar dos capitalistas a devolução de
nossa usurpada ‘mais-valia’, a extrema-direita expõe, sem cerimônia, seus odiosos
e seletivos instintos, com os quais pretende sentar praça ‘ad eternam’ por
aqui. Assim, urge derrotá-la, na certeza de que um país menos desigual é concretamente possível.
(Antônio Manoel Góes)
terça-feira, 19 de setembro de 2023
Flávio
Dino e o hegemônico ‘fogo amigo’ do PT
Aos 55 anos, o maranhense FLÁVIO DINO de Castro e Costa é advogado, mestre em Direito Constitucional e professor da Universidade Federal do Maranhão.
Embora
se declare ‘feliz’ na Pasta da Justiça, onde opera com singular desenvoltura,
Dino não descarta as especulações que o cercam, o que implicou, de pronto,
sutil acionamento do ‘fogo amigo’ do Partido dos Trabalhadores, cujo projeto
hegemônico, na rota do ‘pós-Lula’, não projeta o debate interno sobre quadros
para além dos muros petistas, conquanto do mesmo espectro ideológico, onde
viceja, por exemplo, embrionariamente, o nome de Guilherme Boulos(Psol), ora
pré-apoiado para a prefeitura paulistana em 2024, dado o compromisso, de ‘porteira
fechada’, do atual presidente.
(Antônio
Manoel Góes)
segunda-feira, 18 de setembro de 2023
Expurgo do ideário golpista na didática dos quartéis
Impossível
dissociar nossas Forças Armadas das raízes que sustentam a estrutura social
brasileira, como se tivessem brotado, por algum sortilégio, à margem do
contexto histórico.
Afinal,
instituições, de qualquer natureza, não se identificam por sua materialidade visual
(edificações, mobiliários e equipamentos): fundam-se nas injunções circunstanciais e na pertinência dos objetivos de sua formulação em alguma quadra de nossa
realidade sociopolítica e econômica.
Como qualquer organização social, desde tempos imemoriais, as militares também decorrem de decisões humanas, em função das perspectivas de cada época, considerando que os conflitos, como nos ensinam os manuais sociológicos, são uma forma (radicalmente persuasória) de interação.
A relevância das Forças Armadas, instituídas no soberano interesse do Estado, esbarra, entretanto, em sua intromissão nos mecanismos de governo eventualmente confiados, por escrutínio popular, a grupamentos político-partidários, únicos autorizados a projetar/promover as demandas vinculadas ao bem-estar social, no bojo das regras nacionais.
Um
seletivo debate interno no âmbito militar do Brasil suscitou como legítima, no curso do século
passado, a subversão do princípio de subalternidade ao poder civil
constitucionalmente eleito, com intempestiva apropriação do governo pelos fardados,
sob a mentira, midiaticamente reverberada, de representarem um ‘poder moderador’.
Com base na coerção das armas, os militares proclamaram-se vida afora ‘patriotas’ e ‘incorruptíveis’, na contramão das notórias permissividades perpetradas pelos paisanos em funções públicas, mas os fatos, idos e recentes, provam o contrário. São exatamente iguais.
O
ideário do golpe alimenta projetos de apropriação do Erário, a exigir, além de severa
penalização por desvios funcionais, profilática correção de rumos nos quartéis e
academias castrenses, cujas medidas saneadoras passam necessariamente por
um plebiscito, para opinarmos sobre o perfil
de Forças Armadas que queremos como guardiãs de nossa soberania territorial,
destituídas do cacoete subversivo de quebra da hierarquia, com recorrentes
atentados à ordem constitucional.
Sem
uma manifestação da sociedade, prevista na lei maior, os militares seguirão se
achando modernos centuriões, pairando ameaçadoramente sobre nossas (desarmadas)
cabeças civis.
(Antônio Manoel Góes)
sexta-feira, 15 de setembro de 2023
Sem Ana Moser, governo Lula-3 patrocinará, em Alto Alegre do Pindaré, primeira edição das 'Fufuquíadas'no Brasil
(Foto: Estado de Minas)
Extraio do Google resumos curriculares da renomada
catarinene de Blumenau Ana Moser, 55 anos, recém-demitida do Ministério dos Esportes,
e de seu sucessor, o pândego e mequetrefe André ‘Fufuca’, na barganha do
governo Lula-3 com Arthur Lira, condestável ‘primeiro-ministro’ do ‘Centrão’:
( Foto: Valor Econômico)
ANA BEATRIZ MOSER (Blumenau, 14 de agosdto de 1968),
descendente de alemães, é uma ex-voleibolista brasileira e
ex-ministra dos Esportes do Brasil, cargo que exerceu
de janeiro a setembro de 2023. / Serviu à seleção brasileira que trouxe a primeira medalha olímpica para o
voleibol feminino. Ela conquistou medalhas nas categorias de base da seleção
brasileira, pela qual também disputou três edições dos Jogos Olímpicos. / Medalhista em Campeonato Mundial, Copa do Mundo, Copa dos Campeões e Jogos Pan-Americanos, foi capitã da seleção principal em várias competições,
com títulos relevantes, entre os quais o tricampeonato do 'Grand Prix' de Vôlei e o bicampeonato
no Mundial de Clubes. Ana Moser foi a primeira mulher empossada no Ministério do
Esporte. / Após 20 anos nas quadras, ela se incorporou a atividades cidadãs e esportivas, liderando a criação da ‘Caravana do Esporte’ pelos grotões do país.
/ Em 2003, eleita vice-presidente da Comissão Nacional de Atletas, no contexto da Comissão Nacional do Esporte do primeiro
governo Lula. / Em 2018, eleita
conselheira do CNE como representante da sociedade civil. / Desde a época de atleta
profissional, foi ativista de movimentos sociais, em especial, como lésbica
assumida, no debate nacional sobre questões de gênero. / Integrou, na equipe de transição
do governo Lula-3, o grupo de avaliação técnica sobre políticas públicas para o
Esporte, empossada no Ministério em 1º de janeiro de 2023.
André Luiz de Carvalho
Ribeiro, 34 anos, conhecido por André 'Fufuca', apelido ‘herdado’ do pai Francisco
‘Fufuca’ Dantas(prefeito de Alto Alegre do Pindaré-MA, nasceu em Santa Inês, do
mesmo estado nordestino. / Formado em Medicina(profissão de jamais exerceu),
foi deputado estadual em 2011/2014 e federal a partir de 2015, transitando pelo
PSDB, PSD, PEN e PP, sigla atual. / Na Câmara, em Brasília, votou
favoravelmente à MP 665 que endurecia as regras do seguro-desemprego e do abono
salarial. / Foi entusiasta defensor do ‘impeachment’ da presidenta Dilma Rousseff,
rejeitando idêntica proposta contra o golpista Michel Temer, voto (vencido) contra
a cassação do deputado Eduardo Cunha. / 'Fufuca' votou favorável à PEC dos Gastos
Públicos e pela Reforma Trabalhista de 2017 (excludente de direitos históricos
dos trabalhadores). / Adepto de Bolsonaro em 2018 e 2022, foi derrotado,
todavia, em sua base eleitoral, nos respectivos pleitos presidenciais.
(Foto:Upaon-Açu/News)
Ativo integrante do ‘Centrão’
e correligionário do poderoso Arthur Lira no ‘ProgreSsistas’, André 'Fufuca' foi incluído
na insólita barganha por cargos do governo Lula(no caso, o Ministério
dos Esportes de Ana Moser e seus anexos), em troca de votos pró-situação na
Câmara, embora o partido insista em se declarar ‘independente’, sinal público de
outras sub-reptícias sacanagens no radar.
Por que Lula e o PT não reagem
com um 'chega pra lá'?
Na ‘lata’, cara pálida: em nome da 'governabilidade de coalizão', Lula, o PT e o conjunto das esquerdas perderam faz tempo a capacidade de mobilizar o povo nas
ruas, burocratizando a luta das idéias, pautados e enquadrados, dia sim e outro
também, pela mídia conservadora (Rede Globo à frente), mestra em chantagear com ameaça de golpes desde tempos
imemoriais.
(Foto: Blog Daniel Aguiar)