Fim de linha? Com Lula preso, esquerda rachada perde rumo e bonde da
História
No blog do RICARDO KOTSCHO
Em fevereiro deste ano, as fundações de estudos políticos do PT, PDT, PSOL, PCdoB e PSB lançaram um manifesto propondo a formação de uma frente de esquerda em torno de programa mínimo comum. O tempo passou e, de lá para cá, nada aconteceu. Cada um tomou seu rumo, cada vez mais distante um do outro. ||| Com Lula preso há mais de cem dias e o PT se recusando a discutir qualquer outra opção de candidato comum, não havia acordo possível para a formação de uma frente. Do outro lado, a direita, também dividida, não conseguia encontrar um candidato competitivo para enfrentar a esquerda e o outsider Jair Bolsonaro, da extrema-direita de manicômio. ||| Na semana passada, tudo mudou. De uma hora para outra, percebendo o perigo, a direita se uniu em torno do tucano Geraldo Alckmin, que venceu o leilão do Centrão de Michel Temer e Eduardo Cunha. Numa só tacada, Alckmin fez strike: isolou Bolsonaro e Ciro Gomes, o candidato mais bem colocado da esquerda(ou cengtro-esquerda, tanto faz). Ambos vinham cortejando os partidos fisiológicos em busca de alianças para aumentar seu tempo de televisão. ||| E a esquerda o que fez? Nada, nenhum movimento para reagir à ofensiva da direita unida. Sem nenhum partido aliado e sem 'vice', Ciro se lançou oficialmente numa convenção esvaziada, em que procurou dar um cavalo de pau para a esquerda, depois de fracassar na guinada à direita. ||| Guilherme Boulos, do PSOL, o jovem líder do Movimento dos Sem Teto (MST), também foi lançado no fim de semana, mesmo não tendo nenhuma chance eleitoral, só para marcar posição. Ao mesmo tempo, o Comitê Central do PCdoB, reunido no domingo, reiterou a manutenção da candidatura de Manuela D´Ávila, também só para marcar posição. ||| Único partido a ainda insistir na formação de uma frente de esquerda, o PCdoB conclamou os demais partidos a “construírem a unidade, já no primeiro turno, para vencer as eleições, derrotar a agenda neoliberal e neocolonial de Alckmin, Temer e Bolsonaro e retirar o Brasil da crise”. Muito bonito, mas agora é tarde. Acabou o tempo para construir essa unidade da esquerda. ||| Já avisando que o PT “irá com Lula até onde der”, e repetindo que não há qualquer outro plano, Fernando Haddad anunciou o programa de governo do PT. Entre os principais pontos, Haddad destacou que o partido irá atacar como prioridade a concentração dos meios de comunicação (leia-se Grupo Globo) e do sistema bancário, para mudar o perfil tributário do país, aliviando a carga sobre os pobres e cobrando mais dos ricos. Nada de novo. ||| Em resumo: os outros partidos de esquerda têm candidatos sem programa, apenas algumas vagas ideias e o PT continua sem candidato. Esquecem-se todos que só faltam 76 dias para as eleições e o prazo para o registro de coligações termina no dia 15 de agosto. E a campanha na televisão foi reduzida este ano para apenas 35 dias. ||| Sobra muito pouco tempo para o PT tornar competitivo um candidato capaz de herdar os votos de Lula, que não abre mão da sua candidatura e continua empenhado mais no 'front' jurídico do que no político. Desta forma, o PT também não conseguiu fechar nenhuma aliança até agora nem se mostra disposto a bancar nenhuma candidatura de outro partido. ||| Sem esperanças de conseguir o apoio do PT e sem fechar com o PSB, que deverá se manter neutro na eleição, Ciro ficou falando sozinho. Em resumo: a esquerda desunida está entregando de bandeja a eleição para a direita unida e perdendo o bonde da História. ||| Depois de chegar ao poder em 2003, liderando uma frente de centro-esquerda, e ser derrubado pela ampla aliança golpista em 2016, o PT corre o risco de pela primeira vez ficar de fora do segundo turno. Do jeito que as coisas andam, não será impossível que o segundo turno seja disputado entre a direita e a extrema-direita, como aconteceu na França de Macron. ||| Agora que a direita encontrou um candidato, pelo menos já não corremos o risco de melarem as eleições de outubro. Mas, em compensação, poderemos ter apenas a continuidade do governo de Michel Temer, sem Temer. E Vida que segue.
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