domingo, 31 de julho de 2016

A  farsa  e  o  "fênix"
- em  15 atos e um epílogo -

 Cláudio Guedes(*), no Facebook           (Sugerido por Julio Villas Boas)


1.  A denúncia oferecida pelo procurador da República contra o ex-presidente Lula, por suposta obstrução da justiça, agora aceita pela justiça federal de Brasília, pode ser o "gran finale" da operação Lava-Jato.


2. Esta que começou como uma meritória investigação para apurar esquemas de corrupção na maior empresa nacional, a Petrobras, aos poucos foi se transformando numa operação mais política do que policial com alvo pré-defindo: o Partido dos Trabalhadores, suas lideranças e o governo da presidente Dilma.

3. A partir das denúncias premiadas de um poderoso ex-diretor da empresa, Paulo Roberto Costa, posto lá por uma aliança entre o PP e o PMDB, partidos da coligação governamental no poder federal, o caminho natural das investigações seria aprofundar o "veio" inicial descoberto e trazer à tona o esquema montado por esses partidos, seus operadores (dentro e fora da empresa) e os políticos que os apadrinhavam. Seria o natural.

4. Mas não foi o que aconteceu. Em determinado ponto, a investigação derivou para o PT, para um ex-diretor ligado ao esquema "petista" no interior da empresa e para o tesoureiro do partido.

5. Por que os tesoureiros do PMDB e PP, partidos que tinham maior participação nos negócios (sic) da empresa, não foram presos? Por que outros operadores conhecidos - e citados nas delações - desses partidos e do PSDB não foram presos? Este partido, na oposição, foi denunciado por ter recebido R$ 10 milhões para barrar uma CPI sobre a empresa no Senado Federal.

6. Por que quando o esquema bilionário montado por Sérgio Machado, ex-presidente de uma subsidiária da Petrobras, ex-senador tucano e ligadíssimo à cúpula do PMDB - ainda hoje no poder, mesmo após o afastamento da presidente Dilma - foi descoberto, nenhuma prisão foi feita, nenhum alarde na imprensa e nenhum vazamento ocorreu nas etapas iniciais da investigação. Por que a delação premiada de Sergio Machado, foi, diferentemente das demais, tratada em sigilo e sem prisões?

7. O que escondem da opinião pública, sob vários mantos, é que quando o juiz de Curitiba, tido como pioneiro na descoberta dos crimes cometidos na Petrobras, começou sua investigação, nenhum dos acusados se encontrava na diretoria da estatal. A presidente Dilma já tinha exonerado todos, anos antes, a partir das suspeitas de participação deles em negócios com fornecedores da empresa. Fez o que tinha que fazer, pois uma coisa são suspeitas, outra é provar - trabalho que só a polícia, com ordem judiciária, pode fazer.

8. Penso que o juiz de Curitiba esperava que as delações dos empresários presos por ele no desdobrar da operação, prisões com rigor inédito na longa história dos processos penais no país, o levasse aos alvos principais pré-escolhidos pelo núcleo duro da investigação (a famosa força-tarefa da Lava-Jato): a presidente Dilma e o ex-presidente Lula.

9. Mas, como um juiz poderoso pode muito, mas não pode tudo, sua ambição não se concretizou. Nenhuma denúncia direta, consistente, envolvendo qualquer um dos dois líderes políticos foi exarada. De tudo foi tentado, inclusive a mais do que inédita, absolutamente inédita, prisão preventiva por mais de um ano de um dos maiores empresários do país, réu primário e com imenso patrimônio pessoal imobilizado em território nacional. Mas nada de delação concreta, direta, que pudesse se transformar na glória das glórias da república de Curitiba. Frustração? Sim, mas a máquina de moer, ampliada, já estava em andamento.

10. Nesse momento, o esquema de cerco jurídico-político ao PT e às suas lideranças já estava acelerado, em várias frentes. Se não vai "por bem", vai "por mal". E passaram a buscar tudo que é picuinha possível para incriminar o ex-presidente Lula. De sítios, a apartamentos, a pedalinhos, a barquinhos … passando pelos filhos, nora, amigos e apenas conhecidos. Uma máquina azeitada, bancada pela Justiça com dinheiro do contribuinte, com a ajuda inestimável dos barões da mídia impressa & televisada - jornalistas velhos sem escrúplos se juntaram a canalhas novos, numa aliança impressionante, bancada pelas poderosas famílias que tudo controlam (Marinho, Frias, Mesquita, Civitas et caterva), para tudo repercutir, tudo ampliar. O cerco ao Governo Federal não foi menos impressionante. Qualquer ação do governo era objeto de críticas duríssimas. No Parlamento: obstrução e pautas-bombas. O objetivo: derrubar o governo legítimo, varrer do país o PT e as suas lideranças mais expressivas.

11. O cerco impressionante foi se fechando. No STF, um juiz, absolutamente partidário, dava as cartas, encurralando os demais não tão acostumados ao jogo bruto, sem rodeios; de Curitiba, grampos telefônicos cercaram o ex-presidente por todos os lados, sendo grampeados e divulgados até as suas conversas com a presidente da República em exercício; na Câmara dos Deputados, um meliante travestido de deputado comandava um processo de impeachment farsesco, viciado, com a anuência de parcela majoritária da mídia de opinião.

12. O primeiro objetivo foi, finalmente, alcançado. O afastamento da presidente eleita pelo povo e a sua substituição por um governo sob a hegemonia da ralé corrupta do PMDB - escanteada do governo pela presidente Dilma e bem representada por Welington Moreira Franco, Geddel Vieira Lima e Eduardo Cunha - e dos derrotados em 2014, os tucanos e os democratas. Uma vergonha. Políticos derrotados pelo voto popular guindados ao poder por manobras deploráveis. Escárnio maior da democracia, uma "cusparada" na Constituição, ela que assegura que todo poder deriva da vontade popular. E só dela.

13. Durante os atos finais do processo de impeachment na Câmara e o início no Senado, estoura a escândalo tão bem guardado das delações de Sérgio Machado, expondo a cúpula do PMDB e o presidente do PSDB, o senador Aécio Neves - figurinha fácil, presente em 9 de 10 delações sobre corrupção nas duas últimas décadas. Alguns dias de movimentação nas TVs e jornais e, depois, o silêncio de sempre, sem atos concretos do judiciário ou da PF, apenas os de praxe … aqueles, os de sempre quando os alvos não são petistas e seus aliados, os que nunca dão em nada.

14. Na interinidade de um governo não engolido pela nação, um governo ilegítimo e assim tratado por grande parte da "inteligência" nacional, mas bem emulado pelos detentores do grande capital e pela maioria montada para governar pelo vice e seus outrora detratores da oposição, as primeiras pesquisas divulgadas visando a corrida eleitoral de 2018 revelam o inesperado: ele, o inimigo linchado, exposto na sua intimidade, escorraçado dos salões onde até ontem era festejado, reaparece com força. Lá está ele, na memória do povo que o elegeu por duas vezes e que destas escolhas nunca se arrependeu.

15. O que fazer? Montar um nova farsa. Se não é possível pegá-lo por corrupção, se não é possível pegá-lo por tráfico de influência, se não é possível pegá-lo por exploração de prestígio … tenta-se uma nova cartada: por obstrução da justiça, por obstrução de uma operação tão criticada por juízes e advogados sérios e honestos pelos seus métodos ao arrepio da Lei.

Epílogo

Acabou. Não, não acabou.
VARGAS, Getúlio. Tentaram acabar com ele, não pelos seus erros - inúmeros, principalmente o desprezo à democracia - mas pelos seus acertos na modernização do país e em defesa dos mais explorados (instituição do voto feminino, criação da CLT, liberdade sindical, voto secreto e universal, criação da siderurgia nacional) no final da década de 40. Não conseguiram. Elegeu-se em 1950, contra tudo e contra os poderosos - os donos do capital industrial e financeiro, os latifundiários e os barões da mídia.

LULA está na memória do povo brasileiro como um presidente que olhou para a maioria. Um presidente que governou com os poderosos, que não buscou tensões, mas que fez escolhas que trouxeram a questão da desigualdade social para o centro da agenda política do país.

Por isso não o perdoam, por isso querem destruí-lo.  Não podemos permitir!





 (*) Cláudio Guedes é físico e ativista político.

Um comentário:

  1. Exatamente oque eu penso na parte do Sérgio Machado! Como podemos achar que esse é um país sério depois de, até agora, não ter nenhuma prisão após ouvirmos aquelas gravações da cúpula do PMDB!

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