sexta-feira, 15 de julho de 2016

De   nada   adianta apenas 

uma   rosa  vermelha

na  lapela


Luciano Siqueira (*)                


Resultado de imagem para Imagem de uma rosa na lapelaAinda garoto, chegou-me às mãos de leitor quase compulsivo um livro desses hoje ditos de autoajuda, de autor americano, se não me engano, em que numa determinada passagem é recomendado a alguém às voltas com muitas dificuldades (inclusive sem emprego) botar uma rosa na lapela e ir à rua como se tudo estivesse bem.


Seria uma fórmula para atrair — segundo o autor — boas novas oportunidades.  
Isso jamais me convenceu. — É coisa de americano!, comentei com o amigo que me emprestara o livro.

No Brasil de hoje, envolto em múltipla crise - econômica, política e institucional -, obviamente não é suficiente um cartaz de protesto e fazer de conta que a luta contra o impeachment já se encerrou, que a presidenta Dilma inexoravelmente está fora da cena política e que resta preparar a campanha presidencial de 2018. 

Seria o mesmo que simplesmente pôr uma rosa na lapela e sair de casa com ares de falso otimismo.

Pois é o que ocorre com parte das forças que se batem pela democracia e denunciam o golpe. Implicitamente assumem a consigna "que cada um cuide de si e nos reencontraremos depois".
Um erro político primário. 

Resultado de imagem para Imagens do governo golpista e interino de TemerSubestimação da gravidade do que ocorre sob o governo interino
 (que se julga definitivo) de Temer, que rapidamente desmonta opções estratégicas, políticas públicas, direitos e conquistas alcançadas pelo povo e pela nação brasileira a partir de 2003.

Sequer pode haver segurança da permanência da atual legislação eleitoral e partidária. Ou seja: Temer e sua maioria parlamentar ultraconservadora e fisiológica podem vir a impor uma reforma política que restrinja mais ainda as regras vigentes, levantando novos obstáculos às condições de disputa por parte das forças populares.

Por exemplo, a proibição de coligações proporcionais e a adoção de uma cláusula de desempenho exageradamente alta. 

Então, todo gesto exclusivista e prejudicial à construção de uma frente ampla, suprapartidária e socialmente plural resulta em favorecer, na prática, a coalizão reacionária que ocupa o governo central.

A peleja na esfera parlamentar, nas redes sociais e nas ruas não pode deixar escapar absoluta necessidade de se combinar firmeza de propósitos com amplitude e flexibilidade que possibilitem superar o isolamento das forças de esquerda. 

Nesse contexto, a derrota do deputado Rogério Rosso (aliado de Eduardo Cunha e sorrateiramente ungido por Temer), na disputa pela presidência da Câmara deve ser valorizada. 

Rodrigo Maia votou pelo impeachment e faz parte da base do governo, porém assume a presidência da Casa com o compromisso de restabelecer a normalidade legislativa — o que interessa à atual oposição.

Como bem nos ensinava João Amazonas, em política nunca se deve colocar sinal de igualdade entre coisas distintas. Rosso e Maia não são a mesma coisa.

Demais, há que se perseverar no esforço para conquistar os votos necessários entre senadores minimamente abertos ao debate, na tentativa de evitar os 2/3 necessários à confirmação do impeachment.

E nas ruas não se deve confundir a Caravana pela Democracia e iniciativas afins com campanha eleitoral de alguma corrente política em particular. 

Do que mais se necessita agora é de combatividade e bom senso.

(*) Luciano Siqueira é médico, vice-prefeito do Recife e membro do Comitê Central do PCdoB

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