Tarados por ‘intervenção
militar’
AMgóes >>> Afinal, que
país é este? Se é de meu tempo, na faixa dos setenta e tantos, você conhece o
Brasil a que me refiro, o das oligarquias imemoriais advindas dos marcos da
pré-Independência, dos feudos coronelescos do
engenho-banguê. Não à toa fomos o derradeiro Estado monarquista da
América do Sul, infenso, por um século, à lufada de ventos libertários
advindos da Revolução Francesa de 1789.
Nossa
estrutura oligarca de sesmarias(e escravocrata - fomos os últimos a estirpar,
mesmo que só no papel, essa horripilante chaga social) permitiu a entronização
do Império entre nós, numa associação de interesses díspares que manteve na
prática, país afora, o poder absoluto dos donos de extensas porções de terra,
reizinhos paparicados em meio às sórdidas contradições entre a Casa Grande e a
Senzala.
Nosso
viés autoritário e multissecular manteve-se intocado na República, nascida no
golpe militar de 1889 que sequenciou a disfarçada 'ditadura imperial'
instalada, por 'direito divino’ do herdeiro da coroa portuguesa, em 1822. Dessa
forma, arreganhos de apelos a tanques nas ruas, visando a
'salvadoras' soluções extralegais, face ao caos provocado por um governo golpista, alçado ao poder pelo falacioso
'armamento' parlamentar-judicial-midiático, não nos devem causa estranheza.
Somos
o país surreal, onde avanços trabalhistas(aliás, recém-suprimidos) foram
implementados nos marcos discricionários do 'Estado Novo'. Remendamo-nos
periodicamente em breves estágios como Estado Democrático de Direito via
de regra desmontado por indignados arrufos em suposta defesa da 'lei e da
ordem'.
Nos
cenários de instabilidade aqui descritos, a rotineira presença dos
militares promovidos a 'centuriões da Pátria' oriundos de um canhestro
'Positivismo à brasileira', adaptado ao fundamento filosófico do
francês Auguste Comte que preconizava "o Amor por princípio, a Ordem por base e o Progresso por
fim".
Inscrevemos 'Ordem e Progresso' em nossa bandeira, mas
declinamos do 'Amor' que pressupõe temperança, solidariedade, interação
fraterna e equânime entre os não necessariamente 'iguais'. Preservamos, como
'reserva de mercado', a intolerância e o preconceito em relação aos
'divergentes', elegendo como 'cláusula pétrea' o maniqueísmo tupiniquim sobre o
'bem'(todo 'nosso') e o 'mal'(somente 'dos outros').
Somos uma sociedade majoritariamente conservadora, aqui
incluídos até mesmo segmentos marginalizados da população, induzidos pelo
mandamento do 'cada qual em seu lugar', até hoje repisado no 'marketing'
produzido pela mídia eletrônica(e hegemônica) que chega à esmagadora maioria
dos compatriotas.
A conformista assertIva do 'pobre graças a Deus', por
exemplo, é indutora dessa autossegregação passivamente assimilada
pelo 'andar de baixo' e celebrada com euforia pela 'turma de cima', que não o
quer por perto. Ao longo do século passado, desenvolveram-se mecanismos para
garantir a 'desambição' dos mais fracos sob dissimuladas ameaças de, se assim
não procederem, cair em cabeludo 'pecado mortal' por almejarem ao que
'jamais será para o bico deles'.
Como cereja do bolo, a eventual 'lei de ferro' destinada a
garantir a autocracia dos privilegiados, nos controversos estratos
socioeconômicos. Contra ocasionais 'insurgentes' que postulem uma realidade
equânime(comunistas, socialistas, sociais-democratas), vamos lá: 'intervenção
militar'nesses abusados que projetam tornar 'iguais' os que nasceram em
condições diametralmente opostas, ora vejam só!
Não percebem os obtusos analfabetos políticos(e funcionais),
muitos deles ostentando anéis acadêmicos nos dedos, que, em sua insânia
pestilenta, propõem cortes traumáticos de prerrogativas fundamentais de
cidadania, como aqui ocorrido em passado recente, sob a justificativa de que,
como disse Pelé, para agradar os generais em plena ditadura, 'o brasileiro não
sabe votar'.
A surpreendente paralisação de caminhoneiros, vai-se desmontando em doses homeopáticas, conquanto
ainda com resistências, embora sem serem concretamente atendidas as
reivindicações desses marginalizados autônomos, uma categoria de 'trabalhadores
híbridos', proletários sem carteira assinada, mas com CNPJ, como se
empresários fossem, sem nunca terem sido.
Uma greve de variadas facetas, visto ter sido avalizada, em
seu nascedouro, pelas poderosas corporações transportadoras de cargas, desde
sempre amigas figadais do governo golpista, utilizando os autônomos como 'bois
de piranha' para se distanciarem da quadrilha que ajudaram a entronizar no
Planalto. Mesmo alardeando acachapantes e compreensíveis prejuízos com a
irresponsável e entreguista política sobre preços dos combustíveis, cuja meta
escancarada, via Pedro Parente, é o desmonte da Petrobrás, os empresários
sempre se houveram bem em seus acertos fiscais. Razão de terem saído da
greve(no caso deles, locaute), desautorizando seus motoristas a continuarem
parados.
No meio de campo da crise, supostamente solidária aos
caminhoneiros, eis que emerge do esconderijo em que se meteu faz dois anos, uma
turba de fascistas em verde-amarelo, cuspindo brasa nas redes sociais,
declaradamente tarados por 'intervenção militar'. Temer, o chefe da
quadrilha golpista que querem defenestrar, para tanto conclamando as Forças
Armadas, bem que os merece.
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