sexta-feira, 29 de maio de 2020


Os  números  de  um  vírus
que migrou para os pobres
FERNANDO BRITO, no TIJOLAÇO
Ontem, escreveu-se aqui que a epidemia do novo coronavírus, que começou com pessoas das classes mais altas que viajaram ao exterior, migrou, sensivelmente, para os mais pobres.   Hoje cedo, a Globonews mostrou números da Fundação Getúlio Vargas que expressam, sem sombra de dúvidas, como as mortes, agora aos milhares, recaem sobre os mais pobres e com muito mais crueldade.   >>>   Reparem que, no gráfico acima, não é do número de casos do que se trata. Se fosse, seria explicável, pelo fato de que os mais pobres são em muito maior número entre a população.   Trata-se, porém, da chance de sobrevivência de uma pessoa que contraiu a Covid-19 fortemente sintomática (que leva, por isso, à internação).   >>>   Um paciente de nível de educação superior – portanto, tendendo a ter maior renda – tem três vezes menos chances de morrer (16%) do que os sem escolaridade ou analfabetos e duas vezes e meia menos do que quem tem apenas o ensino fundamental.   De forma menos acentuada, há uma prevalência de mortes entre pretos e pardos sobre os brancos – o que repete o recorte racial da renda no Brasil – e um número apavorante: entre os indígenas, metade dos que são internados, morrem.   >>>  É claro que os índices de letalidade do novo coronavírus não se devem a escolaridade, renda ou cor da pele de per se. Mas guardam estreita relação entre o acesso imediato a assistência médica, a suporte hospitalar e, até, ao fato de que parte deles tem acesso a vagas de UTI sem as agruras da fila de espera que se formou nos grandes centros urbanos.   Num país socialmente cruel, até a morte – a grande igualdade humana – é mais cruel com os pobres.

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