quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Quando as imagens explicam 

melhor a política  que 

as palavras    

Blog da Cidadania por Eduardo Guimarães

fotos
Se reunissem todas as análises que têm sido escritas desde o começo do ano sobre o momento político e as razões das manifestações contra o governo Dilma Rousseff, provavelmente esses escritos lotariam as prateleiras da Biblioteca Real de Alexandria.
Há alguns meses, porém, circulam pela internet – a meu ver, timidamente – duas fotos que, justapostas, são muito mais eficientes para explicar o processo político-ideológico em curso no país do que todas essas análises juntas.
foto 2015
51 anos separam a foto tirada neste ano nas manifestações contra o governo de 12 de março da foto tirada em 19 de março de 1964, a menos de duas semanas do golpe militar que instituiu uma ditadura de 21 anos no país.
Antes que alguém venha contra-argumentar que há diferenças fundamentais entre os dois momentos da vida nacional, quero dizer que concordo. O país em que vivemos impede essa gente, que saiu às ruas em 1964 dizendo as mesmas bobagens agoa repetidas, obtenha os mesmos resultados que obteve cinco décadas atrás.
As instituições e as garantias constitucionais são muito mais sólidas, apesar de combalidas pelas prisões arbitrárias e pelo uso da lei de forma seletiva que têm sido vistos nos últimos dois anos e pouco.
Não existe hoje no mundo condições para um país da importância do Brasil sofrer uma quartelada sem se isolar dramaticamente da comunidade internacional. Um golpe militar, aqui, afundaria o país, imediatamente alijado de todas as instâncias multilaterais do mundo.
Então para que serve comparar essas fotos?, perguntará o leitor. Será só pela coincidência perfeita entre as frases que exibem?
Em primeiro lugar, não há coincidência. Quem manufaturou a faixa vista nas manifestações antigoverno deste ano certamente inspirou-se em dizeres que foram levados às ruas nas marchas “da família com Deus pela liberdade” de meio século atrás, as quais, paradoxalmente, levaram o país à maior falta de liberdade que sofreu no século XX.
Uma falta de liberdade que durou 21 anos, diga-se.
Em segundo lugar, a comparação serve para explicar a motivação de quem está protestando contra o governo.
Mais uma vez, outra comparação de imagens mostra que atribuir “repúdio à corrupção do PT” como razão para protestar, não passa de balela.
fotos cunha
Mas se repúdio à corrupção não é a verdadeira motivação dessas manifestações antigoverno, então o que move essa gente?
Aí é que entram as duas fotos que encabeçam este texto. Tanto em 1964 quanto hoje, o que move essa uniformidade étnica e de classe social que quer derrubar o governo é a preservação da desigualdade que essas pessoas conseguiram ampliar ao longo de 21 anos de ditadura.
O aumento da desigualdade durante os anos do Milagre Econômico foi tema de diversos estudos de economistas. Veja o que especialistas escreveram, naquela época, sobre a concentração de renda no país.
Alberto Fishlow, professor da universidade de Columbia(EUA)
Em 1972, escreve artigo publicado na ‘American Economic Review’, mostrando o aumento da concentração de renda no Brasil entre 1960 e 1970. Era o período que a repressão do regime militar alcançava seu auge.
— De certa maneira (Carlos) Langoni replicou meu artigo, mas não utilizou as rendas maiores e mostrou uma situação um pouco melhor dos habitantes — afirma.
Carlos Langoni, doutor pela Universidade de Chicago
A pedido do então ministro da Fazenda Delfim Netto, ele fez um estudo sobre o tema e concluiu que a educação era fator preponderante para explicar a piora na distribuição de renda:
— Todos reconhecem que a educação é um fator fundamental para reconciliar desenvolvimento com melhoria da distribuição de renda — afirma o ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni.
Rodolfo Hoffmann, doutor em Economia Agrária /USP
No Brasil, na mesma época que Fishlow, Hoffmann também constatou o aumento da desigualdade.
—Todos nós deduzimos, matematicamente, que (o aumento da concentração) tinha a ver com a ditadura. O espantoso no livro do Langoni é que ele não fala do golpe. É o erro básico, como se o mercado funcionasse independentemente da política.
Vale ressaltar que quem diz isso não é este blogueiro, mas o jornal O Globo.
Assim, recorremos de novo a uma imagem para explicar por que a extrema-direita, após mais de 50 anos, voltou a protestar com virulência ímpar contra um governo brasileiro.
concentração de renda
Preocupa o autor desta análise o fato de,  quando imagens explicam melhor a política que as palavras, a sociedade terá abandonado o campo do diálogo, mergulhando  no da imposição de vontades.  Simples assim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário