terça-feira, 16 de outubro de 2018


A “Escola com Partido” de
quartel  projetada  pelo general de Bolsonaro
FERNANDO BRITO, no TIJOLAÇO
O general escalado por Jair Bolsonaro para gerir o quartel da Educação, Aléssio Ribeiro Souto, que já fala com a desenvoltura de quem foi “nomeado”, repete e amplia, no Estadão, as barbaridades que já havia dito à Folha sobre o programa inacreditavelmente primário e autoritário que tem para as escolas brasileira.   |||  Num país que gastou anos na elaboração, por professores, especialistas e gestores, da recém concluída Base Nacional Curricular, ele quer, numa penada, uma “revisão completa dessas questões curriculares”,  usando como critério a “verdade” (ele é dono da dita cuja) para “não termos absurdos que vimos na TV, como a distribuição de livros que deixam qualquer mãe estupefata”.  O general, decerto,refere-se a um livro sobre sexualidade que jamais(AQUI foi distribuído nas escolas, como ficou claramente provado, mas, neste estranho critério de verdade, se Jair Bolsonaro diz que foi, então foi.   |||   Mas o general amplia as barbaridades.  A “prioridade” para o professor não é melhorar sua  remuneração – “a remuneração é quinto ou sexto tópico a se considerar” – mas dar-lhe mais “autoridade”. Mas é curioso que a sua proposta já seja absolutamente igual ao que já acontece em situações extremas:  Tem de ter a ideia de que, depois dos pais, reverenciamos os professores. É absolutamente inaceitável a agressão ao professor e aos pais. Tem de ser reprimido.  Como fazer isso?  Dentro dos meios democráticos e legais. Aquele que ameaçar agredir o professor, aquele que dirigiu uma palavra mal dita ao professor, tem de haver repressão. Democrática.  E como é?  Tem de ser retirado da sala. Se agredir, polícia. A polícia leva as crianças e atua através do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Para adultos, polícia pura e simples. Delegacia. Não pode haver dúvida.   |||   General, qual a novidade?  Nenhuma, a não ser que o aluno com desvio de conduta, num governo fascista e “caçador de ideologias” terá sempre a saída de dizer que o professor que ele quer atacar “é comunista”, que estava tentando incutir propaganda esquerdista, etc, etc… Bom, aí ele já entra na cota do “metralhar os petistas”, certo? O dedurismo vai virar uma maneira simples de intimidar o magistério, pois imagine o que é usar, numa aula de português, um escrito de Graciliano Ramos, “aquele escritor comunista”…   |||   O raciocínio medíocre e autoritário do general Aléssio não passa, claro, por tornar a escola um local agradável, de convívio amigo e respeitoso, mas por uma visão meramente militar da relação entre professor e aluno: um manda, o outro obedece.  Isso, general, não funciona mais nem mesmo dentro de casa, com um ou dois filhos, o que dirá numa turma de 40 adolescentes e qualquer professor sabe disso. Sou filho de uma mulher que foi professora primária, alfabetizadora, por 20 anos. Nem ela, nem suas colegas jamais fizeram isso por uma simples e básica razão: não funciona.   |||   Ao contrário do que ocorre nas escolas privadas ou nas de acesso restrito, levar as coisas ao ponto da exclusão do aluno é o mesmo que dizer: “vá ser um pária ou um criminoso”.  A abordagem que ele faz do sistema de cotas, em lugar de sugerir aprimoramentos, é querer invalidá-lo pela exceção.  Pobre branco de olhos azuis não tem direito?”, pergunta.  A pergunta poderia, também, usando como exemplo garotos negros filhos de pais bem-sucedidos: “...mas o neto do Pelé não tem direito?”   |||    É o melhor caminho para que nada nunca mude, porque reduz tudo à questão do mérito individual, como se o mérito fosse uma característica dos cromossomos, não predominantemente do ambiente em que uma criança se desenvolve.  O general, como educador, é pior que um zero à esquerda.  É o vetor de um pensamento que, ao encarar o aprendizado como um dever e não um prazer, torna a escola triste e ineficaz.   |||   A propósito, General, a publicação de sua entrevista nesta segunda-feira-15, Dia do Professor, é uma crueldade inominável que o magistério brasileiro, já tão sacrificado, não merecia.

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