O ‘coiso’
quer
ver sangue,
muito sangue
A maioria de nossos 150 mil
soldados que lutaram no curso de seis anos da genocida Guerra do Paraguai era
de negros escravos. Como recompensa, cada um deles seria alforriado, caso
voltasse vivo. Morreram mais de 50 mil. ||| Agora, em supostas ações armadas contra a
Venezuela, por certo a maioria dos combatentes também será de gente pobre, de preferência
afrodescendentes. E aí – quem sabe? - morram os 30 mil que o candidato pregador da
morte disse que precisa matar no Brasil, por variados interesses de seu programa
de governo. ||| Haveria, porém, uma grande diferença: quem declarou o conflito do século 19, foi o nosso vizinho, diante da asfixia imperialista liderada pelo Brasil, já se sabe faz tempo, e, agora, quem está promovendo a guerra são os
Estados Unidos. Seremos, mais uma vez, bucha
de canhão, como ocorreu em nossa despropositada expedição à Itália, na segunda
guerra mundial. ||| O Brasil não tem qualquer remoto motivo pra um confronto militar com a Venezuela e, caso isso venha a se consumar,
nada nos ensejará a tanto por injunções de hostilidades diplomáticas. Seremos um braço
a serviço do domínio geopolítico estadunidense na América do Sul. E só teríamos
a perder com essa contenda. A começar pelo suprimento da hidrelétrica
venezuelana de Guri, que abastece o estado de Roraima, com projeto de expansão
até Manaus e boa parte do Amazonas, que
será – claro! - sumariamente interrompido.
E o acesso por terra ao Caribe, por óbvio, também bloqueado por conta de nossa eventual
agressão. ||| Ademais, oportuno lembrar que o principal rio venezuelano, o Orinoco, é um dos
formadores do Negro e, por consequência, do Amazonas. O Cassiquiare, deflunte
do Orinoco, encontra-se com o colombiano Guainía na área conhecida como Cabeça
de Cachorro, tríplice fronteira de
Brasil, Colômbia e Venezuela. ||| Ali está a planície Amazônica, que tem mais de 1.000 km de extensão no sentido
oeste-leste, até chegar ao Sistema Parima de Serras, parte montanhosa da
fronteira, onde se situam o Pico da Neblina e o Monte Caburaí, ponto extremo
da região Norte do Brasil. ||| A fronteira é bem mais extensa, toda ela terrestre e habitada por nações
indígenas – entre os quais os Yanomami – e outras populações aborígenes. Esse
contingente, por certo, tomará partido da Venezuela. ||| Dessa forma, a passagem da rodovia asfaltada pela cidade roraimense de
Pacaraima é mais um detalhe, digamos, estratégico na região fronteiriça. ||| E vamos ao que é mais grave: as forças militares da Venezuela, equipadas a
partir do projeto bolivariano de defesa, proposto por Hugo Chavez, dispõem de estrutura bélica de primeiro mundo,
consolidada com seus petrodólares, que
deixam a brasileira lá no chinelo. ||| Tirando o Equador, os demais sete territórios
nacionais da Amazônia são limítrofes ao Brasil e, em maior ou menor escala,
serão afetados por um eventual conflito. Especialmente a Guiana, o Suriname e a
Guiana Francesa. ||| A hoje esfarrapada diplomacia brasileira vai acabar se metendo na histórica
disputa territorial da Venezuela com a Guiana e pode acabar sobrando também pra
Guiana Francesa, que é um território além-mar da França. Ou seja, o governo francês
com certeza vai retaliar. ||| É certo que uma guerra na região envolveria também a marinha e a aeronáutica de
ambos os países, até porque Caracas, a capital bolivariana, está bem longe, lá
do outro lado, à beira-mar. E quase um terço da população do país, de 32
milhões de pessoas, vive na região metropolitana. ||| Há, por trás de tudo, os interesses geopolíticos dos Estados Unidos e das
indústrias bélicas que financiaram as campanhas do presidente Donald Trump e de
Bolsonaro. São por demais conhecidas, por exemplo, as relações do candidato d
extrema-direita com a Taurus, principal fabricante de armas o Brasil. ||| Prevalece, porém, a pretensão norte-americana em controlar fisicamente o Caribe
e toda a área Norte da América do Sul. Fazem parte dessa estratégia o cerco a
Cuba e o domínio sobre o Canal do Panamá, importante ligação dos oceanos
Pacífico e Atlântico. ||| No entanto, vale repetir, o Brasil nada tem a ver com isso.Todavia, em caso de possível desgraça eleitoral nesse domingo-28,
poderemos esperar pelo pior. Afinal, a plataforma de Bolsonaro prevê violência como solução
para todos os males do país e do mundo. E sangue, muito sangue derramado em
nome da tal ‘mudança contra o sistema’ que
abertamente apregoa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário