Especial para os cegos que não querem ver...
TEREZA CRUVINEL, no JB, via TIJOLAÇO
As advertências sobre
o risco Bolsonaro para a democracia não são choro antecipado de perdedor ou
artifício de petistas desesperados para virar o jogo. O ‘democraticídio’ virá, não apenas porque condiz com a natureza
autoritária do deputado-capitão, mas porque, se eleito, não será capaz de dar
outra resposta aos impasses que enfrentará. ||| Os avisos vêm até dos que ajudaram a semear o antipetismo, um dos mais fortes
nutrientes da candidatura favorita. Outros, que poderiam falar mais alto, justificam a omissão com a
bazófia de que, ainda que ele tente, nossas instituições terão força para
evitar qualquer ruptura(como escreveu o ombudsman da Folha de S. Paulo na última segunda, dia 15). ||| Em 1964 também tínhamos instituições que pareciam funcionar, mas elas
não apenas cederam ao primeiro movimento de tanques. Fizeram mais, ajudando a
executar a parte civil do golpe. Bolsonaro e seu entorno, a começar do ‘vice’
troglodita, nunca esconderam o pendor autoritário e a saudade da ditadura, nos
elogios da tortura e nas homenagens ao grande torcionário, Brilhante Ustra. E sempre expôs com sinceridade brutal seus preconceitos contra
mulheres, gays e negros. ||| A partir de 2013, a nostalgia da ditadura foi legitimada pelos
manifestantes que passaram a pedir ‘intervenção militar’. E ele foi crescendo, como estuário de ressentimentos, do antipetismo,
do incômodo dos conservadores, das vítimas da recessão, dos revoltados com a
corrupção (insuflados pela ‘Lava Jato’) e dos ansiosos por uma promessa de
segurança. ||| Sejamos francos: de forma implícita, os
militares já estão dando as cartas. Está em curso uma
tomada de poder por eles, facilitada por Temer, ao nomear um general para a
Defesa e fazer de outro o homem forte do Palácio do Planalto. O presidente do STF, Dias Toffoli, também arranjou um general para
chamar de seu. Um grupo de militares ligados à campanha de Bolsonaro atua com toda
desenvoltura em Brasília, elaborando projetos de infraestrutura e desenhando a
ocupação do governo. Militares e policiais eleitos para a Câmara formarão uma bancada
importante. ||| Foi percebendo a militarização do poder que o guarda de Campinas disse
nessa última terça(15), ao prender estudantes que panfletavam por Haddad: “...a ditadura militar
voltou, graças a Deus”. Então, é lorota esta conversa de instituições que vão resistir. Elas já
estão em frangalhos. E ainda que o capitão, se feito presidente, seja forçado ao comedimento
pelo banho sagrado do voto popular, outros fatores o empurrarão para soluções
autoritária, tais como seu indiscutível despreparo para governar, sua inaptidão
para lidar com os cânones do presidencialismo, que pressupõem a divisão do
poder com o Congresso. O que ele fará quando sofrer a primeira grande derrota parlamentar? ||| Daqui para o dia 28, debate não haverá, como se depreende da grosseira
resposta que ele deu ontem a Haddad, por rede social: “quem conversa com poste
é bêbado”. Nesta linha, falando das famílias que buscam os corpos dos mortos no
Araguaia, ele já disse que “quem procura osso é cachorro”. Sem debate, receberá um cheque em branco, em relação à democracia e às
políticas que adotará. Ignorante confesso de economia, delegará os problemas a seu “posto
Ipiranga”, o economista Paulo Guedes, já previamente nomeado ministro da
Economia (uma superpasta que Collor também entregou à sua superministra Zélia
Cardoso de Mello). ||| Por ser um neoliberal extremado é que o mercado abraça Bolsonaro. Para resolver o problema da dívida pública, Guedes quer uma
privatização generalizada, vai manter a emenda que congela o gasto público e
proporá reformas tributária e previdenciária. Bolsonaro terá que entregá-las. Seu PSL elegeu 52 deputados, fazendo a segunda maior bancada, mas para
aprovar uma emenda constitucional serão necessários 308 votos. Será preciso buscar 256 votos em negociações com os partidos, mas ele
já disse que não negocia, não barganha. ||| Em algum momento, haverá trombada. Direitos serão suprimidos, ele já
avisou, e haverá resistência nas ruas, ninguém duvide. E ele vai mandar as
tropas, ninguém também duvide. Não enxerga quem não quer os sinais do que virá.
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