segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019


Xadrez  do  incêndio  do

Reichstag  à  brasileira


LUÍS NASSIF, no JORNAL/GGN

Peça 1 – Bebianno e os militares >> Desde os primeiros movimentos do governo de transição, um dos grupos que se posicionou foi dos financiadores de campanha, Gustavo Bebianno, Paulo Marinho e Luciano Bivar. Tentaram emplacar nomes em áreas de grandes contratos, como o Ministério de Minas e Energia, da Infraestrutura. Foram impedidos pelo grupo militar. Esta é a razão para não ter havido esforço para segurar a sua demissão, apesar dos métodos atabalhoados de Jair Bolsonaro e filhos.    |||   O episódio, no entanto, revelou outra fragilidade imensa do governo: o próprio Bolsonaro e família. Tratam as ações de governo com a mesma truculência de disputas de bar, de grupos de rua. Some-se as revelações que estão a caminho, sobre o relacionamento com milicianos, e se terá exposta a chaga maior do governo. O que fazer? 
Peça 2 – Sérgio Moro e a Lava Jato >> Hoje em dia, o Ministro Sérgio Moro é uma figura politicamente exposta. A frente antiLula conferiu-lhe uma procuração para um trabalho específico: liquidar com Lula e o PT. Ao aderir ao governo Bolsonaro, Moro extrapolou, tornou-se vulnerável, especialmente porque sua fama de durão está exposta ao desafio diário de servir a um grupo suspeito de ligações com milícias.    |||  Por outro lado, a fase antiLula conferiu-lhe – e ao seu grupo – um poder absoluto, na qual todas as suspeitas foram minimizadas e todos os pecados foram absolvidos. E Moro tem, no seu entorno, uma esposa ambiciosa e um primeiro amigo, Carlos Zucolotto Júnior, para lá de suspeito, e o mercado milionário das delações premiadas. Caindo a blindagem, a pescaria da mídia encontrará um cardume de operações no mínimo suspeitas. O que fazer? 
Peça 3 – o reinado do terror >> A única saída para ambos – Bolsonaro e Moro – seria ampliar o estado de terror do país. E não bastarão ações espetaculosas contra PCCs e outros grupos rivais das milícias. A pressão maior virá da economia formal, do status quo, da economia, ansiosa por uma trégua política que permita a retomada dos negócios. E o destino de Moro – e do próprio Bolsonaro – é incompatível com a normalidade política. Ambos não se sustentam fora da guerra primária, da construção de inimigos imaginários.  |||  É nessa estratégia que se encaixa a tal Lava Jato da Educação. Permitirá enfrentar simultaneamente o tal “marxismo cultural”, seja lá o que isso signifique, sacrificar grandes grupos educacionais, atendendo à sede de sangue das bestas das ruas, tudo em nome da bandeira sagrada do antipetismo e da promessa de eliminação do sucessor de Lula, Fernando Haddad. Terão fôlego para mais uma Noite de São Bartolomeu sem fim? Esta é a dúvida. 
Peça 4 – Lei da Transparência e Comando Sul >> Como lembra um leitor, enquanto esteve na interinidade, o general Hamilton Mourão assinou o decreto que suspende a lei da transparência e confere a determinados funcionários públicos o poder de declarar sigilo sobre documentos e informações governamentais. Alguns dias depois um almirante estadunidense, chefe do Comando Sul das forças armadas dos EUA, que engloba toda a América Latina, revela que o seu vice comandante é um general brasileiro.    |||  Para completar o ciclo, os serviços de inteligência de Cuba descobrem que os Estados Unidos estão concentrando forças especiais, especializadas em operações de desestabilização, treinamento, apoio e comando de tropas mercenárias. É um pequeno exército de cinco mil soldados profissionais, altamente treinados para atuações pontuais, altamente destrutivas e furtivas, em guerras assimétricas. 
Peça 5 – o incêndio do Reichstag >> Parte significativa do país está cansada de guerra. O próprio Hamilton Mourão, já captou a estratégia correta, de conversar com vários setores. A esta altura não deve haver mais dúvidas sobre o estamento militar dos riscos de um alucinado na presidência. As dúvidas são em relação à própria estratégia dos militares. |||  Nas últimas décadas, apesar das declarações desinformadas de falsos intérpretes do Brasil – como o inacreditável Ministro Luis Roberto Barroso -, houve uma deterioração do sistema partidário, sim, mas o país avançou politicamente. Organizações sociais como o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), quilombolas, organizações sociais populares ou ligadas a grupos econômicos conseguiram canalizar as demandas sociais para os caminhos institucionais. Todo seu trabalho visa preparar trabalhadores para o mercado de trabalho, suprindo a falta de Estado para as populações pobres. E sua manifestação política mais radical são passeatas, apenas isso.  |||  Haverá isenção no estamento militar para entender esse quadro, buscar a pacificação nacional, ou também apelará para a figura do inimigo interno como forma de perpetuação? Haverá a pacificação ou, além de Moro e Bolsonaro, estão preparando um incêndio do Reichstag(*) à brasileira? Não há sinais de que a economia, por si, poderá legitimar o atual governo. Em todo caso, tenho uma breve esperança de que a guerra permanente começa a cansar.

(*) Do AMgóes  >>> Em 27 de fevereiro de 1933, o Reichstag, sede do Parlamento alemão, em Berlim, foi consumido por incêndio, cuja responsabilidade Adolf Hitler, empossado 4 semanas antes na chefia do governo, atribuiu aos comunistas interessados em desestabilizar o 'III Reich'. Líderes e ativistas do Partido Comunista foram presos e condenados, desencadeando uma onda desenfreada contra a oposição no país e alavancando o regime nazista, autor do sinistro, pelo que ficou provado.

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