Por que não houve uma 'Lava Jato' para FHC?
(Luis Nassif)
O primeiro se vale de um moralismo
rasteiro, primário e de uma falsa indignação. O segundo tenta se mostrar o
homem de Estado, frio e calculista, dominando as regras da 'real politik'.
Pelos trechos até agora divulgados,
as memórias de governo de Fernando Henrique Cardoso - frutos de gravações que
fez durante sua gestão - visam à História. Dê-se o devido desconto para algumas
passagens repletas de indagações hamletianas sobre dar e receber. Essas cenas
FHC provavelmente gravou olhando-se no espelho e fazendo pose. Nas demais,
emerge o político esperto, o homem de Estado cujo maior papel foi ter garantido
a governabilidade para que seus economistas implantassem o modelo neoliberal.
Acomodado, pouco ambicioso na
implantação de políticas de corte, com baixíssima capacidade de entender os
fenômenos do desenvolvimento ou da massificação das políticas sociais, FHC
cumpriu competentemente o papel que lhe caiu no colo, de viabilização política
de um modelo neoliberal de economia.
Ele admite, então, que em 1996 foi
alertado por Benjamin Steinbruch, dono da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional)
sobre a corrupção na Petrobras, então presidida pelo notório Joel Rennó. Havia
a necessidade de intervenção na empresa mas, apesar da gravidade dos fatos, ele
nada fez. Segundo ele, não queria mexer no vespeiro antes da aprovação da lei
do petróleo.
Em relação ao presidencialismo de
coalizão, tem a honestidade de admitir que, sem as concessões, não se governa. É curioso analisar o discurso atual
de FHC, enfático contra o loteamento político, e suas alegações na época,
enfáticas na defesa do loteamento político.
“A
responsabilidade é minha, a decisão é minha, mas não vou fazer um ministério
sem levar em consideração a realidade política. Com a experiência dos últimos
anos sei que, se não existe base de apoio político, é muito difícil o governo
fazer as modificações de que o Brasil necessita”.
"Não
estou loteando nada. Estou simplesmente fazendo o que disse que faria: buscaria
o apoio dos partidos políticos, das forças políticas da sociedade, e o faria
para poder governar tendo em vista a competência técnica”, relatou.
É o mesmo presidente que loteou a
Petrobras para o grupo de Joel Rennó e admitiu que nada faria para mudar a
situação.
É igualmente curiosa sua indignação
contra uma CPI dos Bancos, preparada por José Sarney e Jader Barbalho para
investigar as jogadas com o Econômico e o Nacional. Taxou a CPI de "falta
de juízo absoluto (...) Foi uma manobra para abalar meu poder, para me limitar
politicamente, me atingir indiretamente".
É retrato de outros tempos, a maneira
como enfrentou as denúncias da Pasta Rosa - com documentos comprovando o
financiamento de campanha de vários políticos pelo Banco Econômico. A Polícia
Federal intimou o presidente da Câmara, Luiz Eduardo , filho do senador Antônio
Carlos Magalhaes. A reação de FHC foi imediata: "A Polícia Federal
foi além dos limites desse tipo de mesquinharia (...) Em todo caso, o
procurador Brindeiro colocou um ponto final nisso".
Por tudo isso, não se tenha dúvida de que, em um ponto ele foi nitidamente superior a Lula: na capacidade de entender
o jogo dos demais entes do Estado - Polícia Federal, Ministério Público,
Justiça - e saber conservá-los sob rédea curta.
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