sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Alteração da idade  para aposentadoria pode ser compra de gato por lebre

Do AMgóes  >> Faz quase uma década que a  professora Denise Lobato Gentil, do Instituto de Economia da UFRJ, provou, em sua tese de doutorado, tratar-se de uma farsa a 'crise' recorrentemente alardeada, de nossa Previdência Social.

O mercado ao invés  do Bem-Estar Social

Resultado de imagem para Fotos  da doutora denise gentil-A  idéia de falência dos sistemas previdenciários públicos e os ataques às instituições do 'welfare state'(Estado de Bem- Estar Social) tornaram-se dominantes em meados dos anos 1970 e foram reforçadas com a crise econômica dos anos 1980. O pensamento liberal-conservador ganhou terreno no meio político e no meio acadêmico. A questão central para as sociedades ocidentais deixou de ser o desenvolvimento econômico e a distribuição da renda, proporcionados pela intervenção do Estado, para se converter no combate à inflação e na defesa da ampla soberania dos mercados e dos interesses individuais sobre os interesses coletivos. Um sistema de seguridade social que fosse universal, solidário e baseado em princípios redistributivistas conflitava com essa nova visão de mundo. O principal argumento para modificar a arquitetura dos sistemas estatais de proteção social, construídos num período de crescimento do pós-guerra, foi o dos custos crescentes dos sistemas previdenciários, os quais decorreriam, principalmente, de uma dramática trajetória demográfica de envelhecimento da população. A partir de então, um problema que é puramente de origem sócio-econômica foi reduzido a um mero problema demográfico, diante do qual não há solução possível a não ser o corte de direitos, redução do valor dos benefícios e elevação de impostos. Essas idéias foram amplamente difundidas para a periferia do capitalismo e reformas privatizantes foram implantadas em vários países da América Latina(Jornal da UFRJ).

Sobre o conceito de crise e financeira da Previdência no Brasil, propagado sem tréguas nos últimos 20 anos, a pesquisadora assevera tratar-se de um artifício contábil, em flagrante distorção dos cálculos oficiais.

Resultado de imagem para Fotos  da doutora denise gentil-Tenho defendido a idéia de que o cálculo do déficit previdenciário não está correto, porque não se baseia nos preceitos da Constituição Federal de 1988, que estabelece o arcabouço jurídico do sistema de Seguridade Social. O cálculo do resultado previdenciário leva em consideração apenas a receita de contribuição ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) que incide sobre a folha de pagamento, diminuindo dessa receita o valor dos benefícios pagos aos trabalhadores. O resultado dá em déficit. Essa, no entanto, é uma equação simplificadora da questão. Há outras fontes de receita da Previdência que não são computadas nesse cálculo, como a Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) e a receita de concursos de prognósticos. Isso está expressamente garantido no artigo 195 da Constituição e acintosamente não é levado em consideração(Jornal da UFRJ).

Previdência superavitária

-Fiz um levantamento da situação financeira do período 1990-2006. De acordo com o fluxo de caixa do INSS, há superávit operacional ao longo de vários anos. Em 2006, para citar o ano mais recente, esse superávit foi de R$ 1,2 bilhão.
O superávit da Seguridade Social, que abrange o conjunto da Saúde, da Assistência Social e da Previdência, é muito maior. Em 2006, o excedente de recursos do orçamento da Seguridade alcançou a cifra de R$ 72,2 bilhões.
Uma parte desses recursos, cerca de R$ 38 bilhões, foi desvinculada da Seguridade para além do limite de 20% permitido pela DRU (Desvinculação das Receitas da União).
Resultado de imagem para Fotos  da doutora denise gentilHá um grande excedente de recursos no orçamento da Seguridade Social que é desviado para outros gastos. Esse tema é polêmico e tem sido muito debatido ultimamente. Há uma vertente, a mais veiculada na mídia, de interpretação desses dados que ignora a existência de um orçamento da Seguridade Social e trata o orçamento público como uma equação que envolve apenas receita, despesa e superávit primário. Não haveria, assim, a menor diferença se os recursos do superávit vêm do orçamento da Seguridade Social ou de outra fonte qualquer do orçamento.
Interessa apenas o resultado fiscal, isto é, o quanto foi economizado para pagar despesas financeiras com juros e amortização da dívida pública.
Por isso o debate torna-se acirrado. De um lado, estão os que advogam a redução dos gastos financeiros, via redução mais acelerada da taxa de juros, para liberar recursos para a realização do investimento público necessário ao crescimento. Do outro, estão os defensores do corte lento e milimétrico da taxa de juros e de reformas para reduzir gastos com benefícios previdenciários e assistenciais. Na verdade, o que está em debate são as diferentes visões de sociedade, de desenvolvimento econômico e de valores sociais(Jornal da UFRJ).
Aymoré Roque Pottes de Mello é vice-presidente de Assuntos Legislativos da AMB. / Foto: Débora AmorimDepreende-se, dessa forma,  que o déficit de nossa Previdência é "um mito construído por setores financeiros que postulam a privatização da seguridade dos serviços públicos no país', segundo o ex-diretor da Associação dos Magistrados do Brasil, Aymoré Pottes de Mello(ao lado), corroborando o discurso da dra. Denise Gentil.

Dessa forma, face à recente proposta do Governo para alteração da idade mínima de aposentadoria, urge a formulação de amplo debate, sob pena de, submetidos a sedutores(quão falaciosos)  argumentos relacionados à crescente elevação de nossa expectativa de vida,  acabarmos comprando gato por lebre.

>>> LEIA MAIS sobre o tema no 'post' de José Carlos Peliano(CARTA MAIOR):  O gato, a lebre e o capitalismo...


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