quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O melhor da entrevista de

Lula aos blogs? Escapar da

"pauta-ditadura” 

babel
Respondo na hora a quem me perguntar qual foi o ponto mais importante da entrevista de Lula a blogs e sites independentes nesta quarta-feira(20): poder falar o que ele quer falar, não o que querem que fale.
Alguém tem dúvida do que seria a “pauta-ditadura”  se a coletiva fosse uma “convencional”, só com os jornalistas da grande imprensa?
Anotem aí: Bumlai, Cerveró, Zelotes, Lava Jato e por aí…
Todos claro, pontos abordáveis, mas, como brincou ele ao final, foram daquilo  que o “filósofo” Vicentinho dizia: que o importante é o principal, o resto é “secundário””
Falando aos blogueiros e – com a transmissão ao vivo diante também da imprensa dita “convencional” – Lula escapou do tema e do “lead” combinado, que reduz suas declarações ao que a pauta da imprensa impõe.
Inverteu o jogo: ele produz as afirmações, a imprensa – “convencional”, inclusive – as reproduz.
É sempre, eu sei, inferior a uma boa entrevista, onde o entrevistador pode  ajudar a tornar idéias mais claras e profundas.
Mas é possível hoje isso no Brasil, quando todos os jornalistas estão quase sob o controle – seja pelo emprego, seja pela reputação “de mercado” – do partido único da imprensa brasileira?
Se toda a discussão vai ficar centrada em comentar papeluchos de supostos delatores e procurar intrigas com Dilma? Evidente que divergências existem e foram expostas  de forma clara e absolutamente respeitosa.
Então, o que acontece é o que se viu: os jornais publicando o que Lula quer falar, da maneira que quis falar e todo mundo pôde ver.
Sem poderem, como é praxe, “combinar” tacitamente o que – pela sua peneira – passaria como sendo aquilo que “Lula falou”.
É o caso de o ex-presidente pensar: porque não usar este recurso, que faria hoje o velho Brizola delirar com esta “Mayrink Veiga” cibernética de que se dispõe.
Porque não pensar, talvez, numa videocoluna semanal, disponibilizada via web, que milhares de sites e blogs, gratuitamente, reproduziriam, circulando pelos youtubesfacebooks e tuítes de milhões e que, por isso, também a grande imprensa teria de registrar?
Com sinceridade e simplicidade – suas grandes armas – e não com aquela coisa de pronunciamento “feito” por marqueteiro.

  lulablog

Sob o aspecto político-judicial (triste ter de tratar da política judicializada como está, com o futuro do país submetido à ilegitimidade política do único poder sem-voto da República) houve pouca novidade.
O dado novo já estava dado, com a entrada de Nilo Batista na defesa do ex-presidente, que significa, ao mesmo tempo, uma postura ativa e profissionalmente prudente que, combinada ao novo ânimo lulista – “vou processar todo mundo (que o caluniar)”.
A reafirmação na crença de uma recuperação do PT, embora possível e ser dever como presidente de honra do partido proclamar também não é o que está em questão. Lula é maior do que o PT e 2018 pode ser bem sucedido  sem que o PT seja – e nunca foi – a única força a sustentá-lo.
O 'novo' na entrevista de Lula foi a economia
Nela, Lula foi explícito, direto:
"O que nós estamos vendo: se em algum momento se acreditou que fazendo discurso para o mercado a gente ia melhorar, o que a gente percebeu é que não conseguimos ganhar uma pessoa do mercado. Nem o Levy, que era representante do mercado no Ministério da Fazenda, não virou governo. Não ganhamos ninguém e perdemos a nossa gente. (…) em algum momento neste mês vão precisar anunciar alguma coisa para a sociedade brasileira. Então o Levy saiu, e o que vai mudar?”
E que tipo de “alguma coisa” pensa Lula que será anunciada?
“O que a gente percebe é que tá faltando crédito, financiamento. Penso que a presidenta e o (Nélson) Barbosa precisam pensar, não sei pra quando, uma forte política de crédito para investimento e para consumo.”
“Infraestrutura é central, não apenas ferrovias, mas muitas coisas que você precisa investir. Eu se fosse a Dilma, fazia como os russos: chamava a China e pactuava um grande projeto de investimentos e dava como garantia o petróleo. Eles precisam e nós temos. Uma crise cria a oportunidade que você faça tudo que não dá para fazer na normalidade”.
Reforma na previdência e aumento de impostos, ambos necessários, são partos encruados: demoram meses e provocam dores políticas de alta intensidade.
Lula pensa em respostas rápidas, embora não radicais .
“Tem de ter uma política de financiamento de infraestrutura com mais rapidez, e o consumo. Se não tem consumo, ninguém investe. Poderia se tentar ver como está o crédito consignado e fazer uma forte política de crédito consignado, acertado com o movimento sindical e os empresários.
Se a gente fizer tudo isso, a gente faz a roda da economia girar. Aí o governo vai arrecadar mais, e ter mais capacidade de investimento”.
Está aí, para mim, a parte “pouco ouvida” e “pouco lida” da entrevista de Lula.

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