COMO A GLOBO DÁ A NOTÍCIA DE QUE BANCOU UMA PALESTRA DE LULA INVESTIGADA NA 'LAVA JATO'
Kiko Nogueira
Como a Globo dá a notícia de que pagou por uma
palestra de Lula que, como outras que ele realizou, está sendo investigada pelo
Ministério Público Federal?
Da mesma maneira com que lidou com o escândalo da
Fifa e com a participação no exílio dourado de Mirian Dutra: fazendo de conta
que não é com ela. Como a emissora é intocável, dá um nota protocolar e a Justiça
finge que está tudo bem.
O MPF anunciou que as entidades que bancaram
conferências de Lula serão investigadas. As contratações se deram através da
L.I.L.S., com sede em São Bernardo do Campo, sociedade com Paulo Okamoto,
presidente do Instituto Lula.
Entre as companhias que pagaram para ouvir Lula
falar estão a Odebrecht, Camargo Corrêa e Helibrás.
Embora a lista completa esteja disponível(AQUI) desde agosto, a ideia é criar a sensação de que “aí tem” e
criminalizar qualquer coisa relativa a Lula.
Há poucos meses, o colunista Carlos Alberto
Sardenberg, âncora da CBN e comentarista de economia do Jornal da Globo, onde
serve de escada para William Waack, fez uma crítica ao palestrante num artigo.
“Não é apenas o ex-presidente, mas o líder de um
partido que permanece no governo, sobre o qual ele exerce notória influência.
Além disso, o contratante conhecido neste caso, a Camargo Corrêa, tem notórios
interesses neste governo e na sua política”, escreveu.
“E fez doações ao PT e ao Instituto Lula. É por
isso que não bastam os contratos e as notas fiscais dadas pela empresa L.I.L.S.
contra os pagamentos da empreiteira. Ok, foram pagamentos formais e legais,
mas: para quem foram as palestras? Onde? Quem mais patrocinou? Governos?
Empresas? Quais? Em quais circunstâncias?”
Sardenberg aponta o dilema ético desse tipo de
evento. Compara com a atuação de Bill Clinton. “Ocorre que ele não é apenas
ex-presidente, mas marido de Hillary, que ocupou o cargo de secretária de
Estado no governo Obama, e é candidatíssima a presidente dos EUA. Assim, quem
contrata Bill podia e pode estar querendo mais do que ouvir uma boa conversa.”
Maravilha! Faz sentido.
Mas o jornalista poderia dirigir esse
questionamento a algum de seus colegas ou a seus chefes. Em 2013, a Infoglobo,
guarda chuva corporativo que abriga O Globo, Extra e Expresso, pagou todos os
custos de um colóquio de Lula na Fecomercio-RJ.
Sempre tem uma explicação. Numa nota oficial, a
Globo afirma que “participa de iniciativas que contribuem para o
desenvolvimento e a promoção do Rio de Janeiro”.
Também diz que divulgou o evento “em seus jornais”
— sem que se levante, de resto, nenhuma questão sobre o conflito de interesses
presente no fato de um grupo de mídia noticiar um acontecimento bancado por ele
mesmo. Vide Fórmula 1, Rock in Rio etc.
Toda a explicação é pela metade. Nada é
esclarecido. Fica tudo por isso mesmo.
Desnecessário lembrar que Sardenberg, ao saber que
a Globo está na lista de bancadores de palestras de Lula, nunca mais voltou ao
assunto.
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