sábado, 23 de abril de 2016

A viagem de Aloysio Nunes a 

Washington prova: os EUA

apoiam o golpe no Brasil

Obama golpe a golpe
A diplomacia  do  "apito  de 
cachorro" dá sinais de apoio
ao   golpe  no  Brasil
Mark Weisbrot - original, em inglês(AQUI), no Huffington Post
No dia seguinte à aprovação do impeachment pelo Congresso Nacional brasileiro, um dos líderes dessa iniciativa, o senador Aloysio Nunes, embarcou para Washington. Entre seus encontros agendados com autoridades, um deles era com Thomas Shannon, no Departamento de Estado dos Estados Unidos.
Shannon, uma pessoa relativamente obscura para a mídia, é o terceiro homem mais importante na escala hierárquica do Departamento de Estado. E mais significativo, para este caso, ele é a pessoa mais influente na política dos EUA para a América Latina. Será ele que aconselhará o Secretário de Estado, John Kerry, sobre a atuação dos EUA no desdobrar do processo de destituir a Presidente Dilma Rousseff.
A disponibilidade de Shannon para um encontro com Nunes logo depois da votação do impeachment é um forte sinal de que Washington embarcou com a oposição brasileira neste episódio. Como podemos estar seguros disto? Simplesmente porque Shannon não tinha qualquer obrigação de fazer a reunião. Se ele quisesse demonstrar neutralidade de Washington na briga acirrada e extremamente polarizada do Brasil, não faria reunião com nenhum representante, de nenhum dos lados, principalmente neste momento crítico.
O encontro de Shannon com Nunes é exemplo do que podemos chamar de "diplomacia do apito-de-cachorro". Um fato que o radar da mídia que ora cobre o conflito não acusa, então muito provavelmente não irá gerar repercussão negativa. Mas todos os protagonistas entenderão exatamente o que significa. E é precisamente por este motivo que o PSDB de Nunes divulgou o encontro.
Para ilustrar com outro exemplo a diplomacia do apito-de-cachorro: em 28 de junho de 2009, os militares hondurenhos sequestraram o presidente Zelaya e o levaram para fora do país. O pronunciamento  da Casa Branca não condenou o golpe e em vez disso conclamou "todos os atores políticos e sociais de Honduras" a respeitar a democracia.
Esse apito-de-cachorro funcionou perfeitamente porque o mais importante era que os líderes do golpe e seus apoiadores de Honduras, assim como todos os diplomatas em Washington, entendessem exatamente o que significaria - mesmo depois que vários pronunciamentos condenando o golpe e exigindo um retorno à democracia foram crescendo mundo afora. Todos sabiam que havia, em código diplomático, um claro sinal de apoio ao golpe. Os acontecimentos dos seis meses seguintes, com Washington fazendo todo o possível para ajudar a consolidar e legitimar o governo golpista, foram absolutamente previsíveis, baseados no sinal inicial. Hillary Clinton mais tarde admitiu em seu livro de 2014, “Hard Choices,” que ela foi bem sucedida em evitar o retorno do presidente democraticamente eleito.
Tom Shannon é conhecido entre os diplomatas latino americanos como pessoa afável, funcionário de carreira qualificado e experiente, sempre disposto a sentar e negociar com governos que estão interpondo obstáculos à política norteamericana na região. Mas ele tem muita experiência com golpes. E alguns dos e-mails de Hillary Clinton elucidam bem seu papel na consolidação do golpe hondurenho. Shannon também era funcionário de alto nível no Departamento de Estado dos EUA durante a tentativa de golpe na Venezuela, em abril de 2002, episódio em que constam documentalmente inúmeras evidencias de envolvimento dos EUA.
Quando ocorreu o golpe parlamentar do Paraguai, em 2012 - semelhante ao que ora acontece no Brasil [mas um processo que derrubou o presidente em apenas 24 horas] - Washington também contribuiu para a legitimação do balanço final. (Por contraste os governos da América do Sul suspenderam a participação do governo golpista no MERCOSUL e UNASUL). Shannon era embaixador dos EUA no Brasil à época e uma das pessoas mais influentes na política hemisférica de governo dos EUA.
Perguntado a respeito da visita de Aloysio Nunes, o Departamento de Estado disse que "este encontro foi planejado há meses e agendado por solicitação da Embaixada do Brasil". Mas é uma resposta irrelevante, significa apenas que havia funcionários da embaixada brasileira envolvidos no agendamento, para fins protocolares. Não implica possível consentimento da administração Rousseff, ou qualquer alteração na mensagem política que a reunião com Shannon envia à oposição no Brasil.
Tudo isso é coerente com a estratégia de Washington, como resposta aos governos de esquerda que vem governando a região na maior parte do século. E eles raramente perdem uma oportunidade de sabotar, ou se livrar de qualquer um deles. O desejo de tirar o PT do governo brasileiro e substituí-lo por algo mais flexível e de direita, é óbvio e evidente.
(*) Mark Weisbrot é codiretor do Centro de Pesquisas de Política e Economia em Washington e presidente do "Just Foreign Policy". É também autor do livro “Failed: What the ‘Experts’ Got Wrong About the Global Economy“ (2015, Oxford University Press).
Tradução: André Klotzel.

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