sobre a Operação ‘Carne Fraca’
O problema da Operação Carne
Fraca é o seguinte:
A Polícia Federal esqueceu que a sua
função é proteger o cidadão, as empresas nacionais e o governo. Proteger o
cidadão (e seu emprego!) contra fraudes, as empresas nacionais contra
fraudadores, e o governo contra corruptos.
A PF, ao invés disso, inverteu seu
papel: tornou-se uma espécie de agência adversária da sociedade. Sua meta tem
sido agredir o cidadão, destruir empresas e derrubar governos.
Se a PF identificou, há mais de dois
anos, que havia problemas no mercado de carne, deveria ter alertado o governo,
as empresas e os cidadãos, para que ninguém tivesse prejuízo. O governo não
seria vítima de mais um processo de instabilidade, as empresas não estariam
sujeitas a prejuízos bilionários, e os cidadãos não se arriscariam a consumir
produtos de qualidade duvidosa.
É o mesmo problema que vimos na Operação
Lava Jato. Enquanto os serviços de segurança de outros países entendem que sua
missão é proteger as empresas nacionais e defender os interesses do país, o
nosso sistema de repressão vê tudo com as lentes de um agente inimigo.
E agora, para se defender das críticas,
a PF provavelmente se sentirá forçada a promover uma “campanha” contra o setor
de carne, simulando a mesma estratégia de destruição que fez na Lava
Jato.
Alguns protestaram contra as
preocupações de ordem econômica levantadas por analistas: ora, disseram eles,
vocês queriam que o brasileiro continuasse comendo carne estragada?
Em primeiro lugar, sem exageros. A PF
encontrou problemas em 21
unidades, num total de quase cinco mil empresas, e suspeita de crimes
praticados por 33 servidores, num universo de 11 mil funcionários do Ministério
da Agricultura.Não há notícia, até agora, de que a PF mandou
recolher algum tipo de carne. As denúncias de “carne estragada”, portanto, estão apenas no campo da especulação, com base em conversas reservadas entre executivos.
Uma das denúncias, de que uma empresa misturava
“papelão” às carnes, parece já ter caído por terra(AQUI). Foi “mal entendido” da PF, que divulgou uma gravação, em que um
executivo falava, na verdade, da embalagem do produto. Um "mal entendido" que
custará vários bilhões de dólares à nossa economia…
Do jeito que a PF e a mídia noticiaram
a operação, a população brasileira ficou alarmada e compradores da carne
brasileira, do mundo inteiro, também.
Ficou parecendo que a gente passou dois
anos comendo carne estragada, o que não é verdade.
Os frigoríficos brasileiros, em seu
esforço para ganhar os mercados mais exigentes do mundo, fizeram investimentos
bilionários para aprimorar a qualidade da produção brasileira de carne. As
unidades têm várias certificações internacionais. O processo é inteiramente
monitorado por vários países.
Ninguém é santo e não se deve pôr a mão
no fogo por ninguém. Mas houve sensacionalismo irresponsável, sim. A PF de
Curitiba, notoriamente, queria dar outro “susto” no governo.
Em virtude da personalidade do delegado
responsável pela operação, que já conhecemos da Lava Jato, não seria
nenhuma surpresa se essa violência toda tiver sido motivada pela obsessão
psicótica de pegar Lula. Há anos que circulava a mentira, na internet, de que o
filho de Lula seria um dos proprietários ocultos da Friboi. É possível que o
delegado tenha suspeitado de que havia alguma veracidade nesse boato.
Não houvesse o impeachment, a PF e a mídia estariam usando essa operação como mais um instrumento para “derrubar” o governo.
Não houvesse o impeachment, a PF e a mídia estariam usando essa operação como mais um instrumento para “derrubar” o governo.
Levantar o impacto econômico da
operação e criticar o seu sensacionalismo é, obviamente, importante. Sem
economia, não há cultura, não há política, não há impostos, não há vida.
Sem economia, não teremos nem como
pagar a fiscalização necessária para supervisionar a qualidade da nossa carne.
Pensando nisso, O Cafezinho fez uma
ampla pesquisa, junto a órgãos oficiais do governo brasileiro e dos EUA, para
se ter uma ideia da importância da carne para a economia brasileira.
Não se trata apenas de comércio
exterior. Carne significa proteína, principal nutriente para a vida humana.
Qualquer desorganização do setor pode trazer insegurança alimentar não apenas
para os nossos 206 milhões de habitantes, mas para o planeta inteiro, visto que
bilhões de seres humanos, em todo o mundo, dependem da carne brasileira.
Além disso, a concorrência internacional
é feroz. E o nosso concorrente mais direto são os Estados Unidos, país cujos
órgãos de segurança trabalham afinados para defender os interesses econômicos
de suas empresas. Se você ler os boletins do
Departamento de Agricultura dos 'States', verá que estão repletos de
análises e sugestões sobre como as empresas americanas de carne podem
superar os seus concorrentes.
Vamos às estatísticas, que trazem
números atualizados, compilados com exclusividade pelo Cafezinho.
São três tabelas. A primeira mostra
o ranking mundial de produção, exportação e consumo doméstico
de carne. Note que o Brasil é líder nos três itens. É grande produtor, grande
exportador e grande consumidor.
Com isso, o Brasil é, naturalmente,
alvo da cobiça internacional pelos três motivos. Os nossos concorrentes querem
reduzir a nossa exportação, para diminuir o nosso market share(participação
no mercado) e aumentar o deles. Querem tomar conta da nossa produção,
adquirindo nossas empresas. E querem dominar o nosso mercado interno, um dos
maiores do mundo.
Não estamos falando, portanto, apenas
da nossa exportação de carnes, que gerou $ 14 bilhões de dólares em 2016, ou
mais de 42 bilhões de reais, mas também de um dos maiores mercados do
mundo, que movimenta centenas de bilhões de reais.
Observe, na tabela 2, que as
exportações brasileiras de carnes cresceram fortemente desde 2002: mais de
344%.
Na terceira tabela, note que a carne é
o nosso terceiro item de exportação mais importante. O primeiro é a soja, que
os estrangeiros querem dominar através da liberação, pelo governo Temer, de
vendas de terras a estrangeiros.
O minério de ferro nos foi tomado pela
privatização da Vale.
Falta agora dominar a indústria
brasileira de carnes. Observe que o valor agregado da carne é um dos maiores
entre os produtos básicos exportados. A nossa soja é vendida por 378 dólares a
tonelada. O ferro é entregue lá fora a 41 dólares a tonelada. O ferro é mais
barato que os vagões do trem que o levam ao porto.
A carne, porém, foi vendida em 2016
pelo preço médio de $ 2.121 dólares a tonelada, se considerarmos também o produto
industrializado, e $ 2.053 dólares considerando apenas a carne in
natura. É um produto caro, que gera muitos empregos, impostos e renda no
Brasil.
Se considerarmos apenas a carne bovina,
o preço do produto in natura exportado pelo Brasil é de mais
de $ 4 mil dólares por tonelada! Repare ainda que o preço médio da carne
brasileira cresceu de maneira extraordinária de 2002 até hoje, comprovando que
estamos vendendo carnes de melhor qualidade, e atingindo mercados mais nobres.
A Polícia Federal e o Judiciário, por
isso mesmo, deveriam tratar o setor com muito cuidado, protegendo suas
empresas, defendendo o cidadão, e evitando transformar investigações
importantes em mais um fator de desestabilização política.
O Judiciário, por sua vez, ao reter R$
1 bilhão das empresas, num momento da economia em que não há crédito novo na
praça e o governo aposta num “ajuste” neoliberal que neutraliza os bancos
públicos, dificulta que elas resolvam seus problemas internos, o que pode
levá-las a paralisar suas atividades, com consequências danosas para toda a
cadeia produtiva da carne, que gera milhões de empregos diretos e indiretos.
Essa lógica da “pegadinha”, que o MPF
inclusive quer transformar em regra, em que o objetivo é produzir um vilão e
subsidiar a mídia com um espetáculo, não é o papel da PF ou do Judiciário.
Não se espere, contudo, da imprensa
brasileira, que deveria estimular um debate de ideias fundamental para
evitarmos esse tipo de coisa, nenhum bom senso. A própria mídia fomentou a
subversão da Polícia Federal, do MP e do Judiciário, que se tornaram agências
inimigas do próprio país. A mídia só está pensando em como faturar com a crise.
A matéria mais
lida na Folha de S. Paulo trata do potencial lucro da mídia com as necessárias
operações de marketing que as empresas terão de fazer para
recuperar os terríveis danos causados à sua imagem…
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