quarta-feira, 23 de setembro de 2015

O desabafo de uma (ex-)fascista de praia carioca arrependida    

Mauro Donato                           

Angela, hoje, numa foto ao lado de Suplicy
Angela, em foto recente, ao lado do ex-senador Suplicy(PT)
Nesses tempos de imagens de arrastões nas praias do Rio de Janeiro, no meu modo de ver estranhamente veiculadas logo após a cassação da esdrúxula medida de barrar negros suspeitos a caminho da orla, que despertaram o monstro linchador em jovens da classe média carioca, um outro vídeo começou a rodar nas redes sociais.
Mais antigo, da extinta TV Manchete, o vídeo — postado no Facebook pelo grupo Mariachi — traz depoimentos dessa mesma classe média, média-alta, lá na década de 1990. É de vomitar. Ao assistir ao vídeo, temos vontade de chorar e somos induzidos à indagação: o ser humano tem salvação?
À primeira vista não. Mas…
Ângela Moss, hoje filósofa,  era uma das entrevistadas. É a garota bonita e também a mais raivosa do grupo. Com a repercussão atual daquele registro histórico, Ângela sentiu não só vergonha, como obrigação de pedir desculpas e de expôr sua defesa. Em vez de esconder-se debaixo da cama, pediu a um amigo que havia publicado o vídeo para mantê-lo em seu mural, mas publicasse também sua explicação:
“Sim, este vídeo em parte é verdadeiro. Infelizmente era eu quando tinha 18 anos. Eu era uma criança retardada com pouco conhecimento. Mesmo culta, era uma alienada. Hoje tenho 47 anos e muita coisa se passou."
Quando escrevi, na eleição da Dilma, um manifesto dizendo que já havia sido de 'ultradireita', muita gente não acreditou. Esse manifesto rolou pela internet por mais ou menos 1000 perfis. Fiz campanha ativa para ela. Ontem mesmo postei o hino da internacional comunista e chorei ouvindo.
O Olavo de Carvalho, filósofo como eu, começou como comunista e virou o que é agora. Fiz o caminho contrário. Se tenho vergonha? Hoje em dia, aos quase 50 anos, não tenho mais idade para ter vergonha. Tenho orgulho de ter podido evoluir. Fico feliz em ver que você postou esse vídeo, é importante jogar na cara da sociedade o que ela não quer dizer.
Eu sempre disse, para o bem ou para o mal, o que penso. Sou ‘hipocrisia zero’. Fico feliz que pessoas como você fiquem indignadas com esse vídeo. O que me perturba mesmo são os muitos que me escrevem dando parabéns. Peço portanto que mantenha o vídeo mas que publique minha declaração.
É importante notar que o vídeo foi editado para parecer pior do que é. Como todo meio de comunicação, a Manchete não estava interessada em informar ou alertar, apenas em ter ibope.
Mas não há como negar: essa é a face triste de uma sociedade sem compaixão e egoísta e, sim, um dia já foi a minha face. É triste mas do alto da minha idade atual tenho orgulho de ver como eu era menor e em quem me transformei. Um abraço.”
Angela, até onde se sabe, não chutou meninos favelados que invadiam sua praia como a cinegrafista húngara fez com refugiados que tentavam entrar em seu país mas seu discurso hidrófobo era tão violento quanto. Hoje ela orgulha-se de ter evoluído e não tem medo de assumir o erro.
Quantos daqueles entrevistados terão trilhado o mesmo caminho virtuoso de Angela? E quantos terão gerado filhos que estariam entre os atuais pitboys do Leblon?




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