terça-feira, 15 de dezembro de 2015

'Obsedado'   ou    'obcecado'?       O caso do MP com Lulacom ajuda do Veríssimo

     verissimo
Momento Michel Temer de análise etimológica da Operação Lava-Jato em relação a Lula, se me perdoam.
Obsedado e  obcecado são palavras diferentes e, quase-quase, com o mesmo valor semântico.
O primeiro vem do latim obsidere, pelo francês  obséder, que é, segundo o Houaiss, “atormentar sem cessar”.  Pode ser, também, escrito como outras palavras quase iguais, mas com outras acepções: obsediar ou obsidiar, que equivalem a armar ciladas e espiar a vida doméstica de alguém.
Já obcecado é de outra raiz latina, occaecō ou oboccaecō, que é ficar cego, ter a razão obscurecida, desvairar-se.
Ambas servem para descrever o estado de ânimo  do Ministério Público em relação ao ex-presidente Lula.
Há mais de um ano, desde quando o “eu acho que ele sabia” de Alberto Youssef, produzido e vazado na hora certa para interferir no resultado eleitoral, este é o “grande prêmio”  pelo qual se compete em Curitiba.
Os “delatores” – que a esta altura já são em número capaz de lotar um ônibus, com gente sentada e em pé – também competem para ver quem pode oferecer “a cabeça” do ex-presidente e, na falta de quem tenha algo contra ele, pessoalmente, vale filho, nora, amigos.
Porque, dar ao MP o que sabem que o MP quer, passou a ser, também, o preço de sair da cadeia e arrumar uma pena “camarada” para seus crimes.
Ninguém, é claro, está livre da lei  por ser parente ou aderente de Lula.
Mas está evidente que não se está investigando fatos, mas pessoas e das pessoas é que se vão obter os fatos, sejam reais ou “ajeitáveis” à realidade.
Tudo o que está sendo provado até agora, porém, é que nenhum dos pesos-pesados  detidos pelo Dr. Sérgio Moro aos magotes pode dizer, para livrar-se, que Lula  lhe pediu dinheiro, para si ou para o PT.
O que, neste último caso, até poderia ter acontecido num país onde o financiamento eleitoral era feito por empresas, essencialmente, e devem ser contados nos dedos de uma só mão os políticos que não pediram ajudar financeira a eles.
Não passa pela cabeça obscurecida destes senhores – e nem na dos jornalistas  que se dedicam a reproduzir esta ideia fixa – que um  Presidente da República, com todo o seu poder, vá se corromper por um apartamento no Guarujá ou por um valor destes mixurucas  para a empresa de seu filho.
Mas tudo só mira neste objetivo.
Ou melhor, nesta obsessão, a dos obcecados.
Então, me socorro do texto “Segurança”, do mestre Luís Fernando Veríssimo – no seu popular “Comédias para se ler na escola” – para ilustrar o que faz com a liberdade a ideia fixa dos cegos.
“O ponto de venda mais forte do condomínio era a sua segurança. Havia as belas casas, os jardins, os playgrounds, as piscinas, mas havia, acima de tudo, segurança.
Toda a área era cercada por um muro alto. Havia um portão principal com muitos guardas que controlavam tudo por um circuito fechado de TV. Só entravam no condomínio os proprietários e visitantes devidamente identificados e crachados.
Mas os assaltos começaram assim mesmo. Ladrões pulavam os muros e assaltavam as casas.
Os condôminos decidiram colocar torres com guardas ao longo do muro alto. Nos quatro lados. As inspeções tornaram-se mais rigorosas no portão de entrada. Agora não só os visitantes eram obrigados a usar crachá. Os proprietários e seus familiares também. Não passava ninguém pelo portão sem se identificar para a guarda. Nem as babás. Nem os bebês.
Mas os assaltos continuaram.
Decidiram eletrificar os muros. Houve protestos, mas no fim todos concordaram. O mais importante era a segurança. Quem tocasse no fio de alta tensão em cima do muro morreria eletrocutado. Se não morresse, atrairia para o local um batalhão de guardas com ordens de atirar para matar.
Mas os assaltos continuaram.
Grades nas janelas de todas as casas. Era o jeito. Mesmo se os ladrões ultrapassassem os altos muros, e o fio de alta tensão, e as patrulhas, e os cachorros, e a segunda cerca, de arame farpado, erguida dentro do perímetro, não conseguiriam entrar nas casas. Todas as janelas foram engradadas.
Mas os assaltos continuaram.
Foi feito um apelo para que as pessoas saíssem de casa o mínimo possível. Dois assaltantes tinham entrado no condomínio no banco de trás do carro de um proprietário, com um revólver apontado para a sua nuca. Assaltaram a casa, depois saíram no carro roubado, com crachás roubados. Além do controle das entradas, passou a ser feito um rigoroso controle das saídas. Para sair, só com um exame demorado do crachá e com autorização expressa da guarda, que não queria conversa nem aceitava suborno.
Mas os assaltos continuaram.
Foi reforçada a guarda. Construíram uma terceira cerca. As famílias de mais posses, com mais coisas para serem roubadas, mudaram-se para uma chamada área de segurança máxima. E foi tomada uma medida extrema Ninguém pode entrar no condomínio. Ninguém. Visitas, só num local predeterminado pela guarda, sob sua severa vigilância e por curtos períodos.
E ninguém pode sair.
Agora, a segurança é completa. Não tem havido mais assaltos. Ninguém precisa temer pelo seu patrimônio. Os ladrões que passam pela calçada só conseguem espiar através do grande portão de ferro e talvez avistar um ou outro condômino agarrado às grades da sua casa, olhando melancolicamente para a rua.
Mas surgiu outro problema.
As tentativas de fuga. E há motins constantes de condôminos que tentam de qualquer maneira atingir a liberdade. A guarda tem sido obrigada a agir com energia.

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