quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

2016 não seria completo se, depois de Janaína Paascoal, Reale Júnior não desmoralizasse o impeachment

Kiko Nogueira                               

 
Janaína, Bicudo e Reale Júnior
Quando você achava que a falta de noção de Janaína Paschoal já era suficiente para a autodesmoralização do impeachment, eis que surge o jurista tucano Miguel Reale Junior.
Em entrevista ao Valor Econômico, Reale tenta, inutilmente, dar um lustro em sua obra — quando falo em obra, me refiro ao governo que emergiu do golpe, uma constelação de velhos barra suja de dar gosto.
Por cima, são seis ministros a menos em seis meses, além de um “assessor especial”, amigo e conselheiro de Temer, que saiu correndo e uma economia que não dá sinais de recuperação.
Reale faz como aquelas mães que se recusam a admitir que o filho é feio: para elas, o menino é diferente. Ele nem sequer usa mais o argumento técnico para a destituição de Dilma. Esqueceu das pedaladas fiscais.

Não tivesse sido ela impichada, “não haveria os quatro processos contra Lula [são cinco, na verdade]. Se Dilma tivesse permanecido, Lula seria ministro e estaria fazendo manobras, aliado a Renan Calheiros. Renan continuaria com sua audácia.”
O destino de Lula, para ele, “é frequentar escritório de advocacia criminal e banco dos réus. É um destino muito lamentável, triste para um ex-presidente.”
Ora, mas então foi tudo para tirar Lula do páreo? O doutor Reale já julgou e condenou Lula? Quanto ao Calheiros, onde foi que a audácia dele foi interrompida, que ninguém está vendo?
Reale tem certeza de que “não está havendo corrupção.” Isso ficou “no passado”. O caso Geddel é apenas “prevaricação”. Agora “está havendo um controle”.
Temer não praticou tráfico de influência ao interceder junto ao ex-ministro Calero para dar uma mão na liberação do edifício de luxo de Geddel.
A renúncia é impensável. “Precisamos de um presidente, passar esse momento. Seria loucura colocar o país numa insegurança absoluta nesse instante”, afirma.
A segurança jurídica já acabou faz tempo e Reale Junior colaborou decisivamente com uma visão utilitarista, demagógica, de curto prazo, politicamente enviesada e antidemocrática do processo de impedimento. A farsa fez com que, de quebra, nos tornássemos piada no exterior.
Temer é uma mula manca que deve muito a Reale. Falta agora ele se juntar a sua pupila Janaína e denunciar uma invasão de Putin.
É a perversão da formulação de Churchill: nunca tantos deveram tanto a tão poucos.

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