quarta-feira, 1 de abril de 2020


Quanto tempo dura a súbita ‘tomada de consciência’ de Bolsonaro?

FERNANDO BRITO, no TIJOLAÇO

É, sem dúvida, melhor que Jair Bolsonaro tenha cedido às pressões que de todo lado lhe vêm e moderado o grau de insanidade de seu discurso, ontem à noite.  Recordemos, porém, que o fez por conveniência e não por convicção.   E, portanto, não vai corresponder com atos concretos à gravidade do momento, o que ele segue desprezando como tragédia.   >>>   Bolsonaro não está apenas deixando de comandar – como deveria – o enfrentamento, mas também atrapalhando quem tenta, desesperadamente, proteger a população.   Se os senhores generais estão, de fato, preocupados com a irrupção de saques e conflitos sociais, deveriam estar, a esta altura, pressionando o presidente a que mandasse Paulo Guedes operacionalizar esta ajuda miserável que anunciou para ontem.   >>>   Na hora da fome, meio quilo de feijão vale mais que dois quilos no “mês que vem”.  Ao contrário, o que aconteceu ontem mostra que o cinismo está forte e presente dentro do núcleo do governo, com a estapafúrdia decisão de limitar aos cadastrados e ao integrantes do Bolsa Família o auxílio-merrecal e, assim mesmo, pagá-lo apenas no dia 16 quando, aliás, será muitíssimo mais perigoso formar filas para recebê-lo.  E Guedes “descobre”, ainda por cima, que seria necessária a edição de um Emenda Constitucional para isso.   >>>   Não é para ser levada a sério, portanto, a aparente “tomada de consciência” do Governo na crise que estamos e vamos enfrentar.   Um valente pode, eventualmente, acovardar-se, mas um covarde jamais de toma da ousadia necessária.   E, creiam, todo aquele que se faz de valentão, como o atual presidente é, antes de tudo, um covarde.

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