Terrível e
inevitável: Brasil terá uma catástrofe. E esse será o 2° tempo
FERNANDO BRITO, no TIJOLAÇO
Não há jeito, porque estamos hoje apontando os doentes e os mortos de ontem ou de anteontem, dada a falta de testes em quantidade e confiabilidade necessárias para sabermos o tamanho do problema. >>> A falta de comando harmônico entre o governo federal e os governos estaduais – inicialmente mais rígidos na política de isolamento social – confundiu a população e está levando a um afrouxamento, por toda a parte, das restrições de circulação justo no momento da disseminação descontrolada – e que jamais foi devidamente controlada – da doença viral. >>> O presidente da República – de novo, nessa última última quarta(8), mandando as pessoas apara a rua e sugerindo que reclamem dos governadores pelas medidas restritivas – foi o elemento-chave para que a sociedade se desmobilizasse da autoquarentena e aumentasse seu grau de exposição, o que cobrará seu preço nos próximos dias. Só que nos acena com uma cura milagrosa que não ocorreu em parte alguma do planeta. >>> Em linguagem futebolística, perdemos no primeiro tempo por um placar dilatado, muito maior do que seria necessário se tivéssemos um técnico capaz do que dizia o lendário Neném Prancha: “arrecua os 'arfe' pra evitar a catastre”. Retroceder, compactar, se juntar num comportamento defensivo que bloqueasse a força do adversário. >>> Mas, em poucos dias estaremos diante do placar aterrador. Que vai se expressar em conhecidos, em amigos e até em parentes. Talvez, num desfile de corpos . Perdoem-me pela metáfora que, em outra situação, poderia ser de mau gosto, pois é de vidas e não de um jogo que se trata. Mas é nossa única esperança ante a um morticínio de grandes proporções. >>> É o horror e só o horror, agora, pode nos salvar, pois faltou-nos a razão e o Estado para fazerem-no antes. Recordem-se: a primeira lei de um ser humano, como a de qualquer animal da Terra, é preservar-se, é sobreviver. Isso é mais forte que qualquer charlatanismo, que qualquer fanatismo, que qualquer ilusão imbecil de que nada nos ocorrerá porque é “só uma gripezinha”, o de que “pulamos no esgoto e não nos acontece nada” ou que os “de menos de 40 anos” devemos ir para o banho viral das ruas cheias. >>> A medicina foi, como antes foi a Justiça, transformada num ambiente onde a convicção supera a razão e a comprovação. Teremos de buscar na dor as forças que nos permitam enfrentar a morte. Que seja, vamos buscá-las, ainda que entrincheirados em nossas quarentenas. A verdade, ainda que a ela com mil mentiras cubram, é a realidade. E ela vai aparecer, terrível, diante de cada um. Para ser enfrentada por cada um de nós.
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