sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Kleber Leite é hoje peça-chave

para  esclarecer  a   corrupção

no  futebol  brasileiro                

Augusto Diniz            


O relatório paralelo da CPI do Futebol explica que o Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª região (Rio de Janeiro e Espírito Santo) paralisou as investigações do MPF e PF do chamado Caso FIFA, impedindo também acesso da comissão aos documentos. Esse assunto já foi tema neste blog em algumas ocasiões (veja aqui).
O problema é que essa quebra inédita de tratado de cooperação internacional entre o Brasil e a Justiça americana, que no ano passado revelou os escândalos de corrupção no futebol envolvendo vários dirigentes, impediu o aprofundamento das investigações aqui no País em torno do tema – e também deixou uma lacuna na CPI.
Pode ser que a CPI não tivesse interesse de que novos fatos fossem revelados. Porém, se no voto em separado, apresentado na última quarta-feira(23) pelo presidente da comissão, senador Romário Farias, e seu colega Randolfe Rodrigues, o assunto ganhasse mais destaque, inclusive questionando a inércia da justiça brasileira no caso, o documento teria peso maior.
O relatório final da CPI do futebol apresentado no meio do ano pelo relator da comissão, Romero Jucá, é duramente desqualificado e chamado de “faz-de-conta” pelo relatório paralelo de Romário. De fato, o documento alternativo do ex-jogador é mais abrangente e sugere indiciamento de nove pessoas.
Porém, um indiciado é a ponte principal para ser dar o desfecho desse caso específico aqui no Brasil sobre corrupção no futebol. Chama-se Kleber Leite. O relatório não diz isso claramente, mas dá todos os indícios de que o dirigente é hoje a peça central a ser investigada – a justiça dos Estados Unidos também acredita nisso, pela denúncia feita ano passado no Caso FIFA, e que se lê traduzida no relatório apresentado por Romário e Randolfe.
Foi a empresa de marketing esportivo de Kleber Leite, a KLEFER Publicidade, que entrou com habeas corpus em setembro do ano passado interrompendo as investigações. O pedido da empresa, aceito pelo TRF (conforme relatado na abertura desse texto), era para anular as decisões da 9ª Vara Federal, que havia autorizado busca e apreensão na Klefer no dia em que estourou o Caso FIFA, em maio de 2015 – os documentos apreendidos enviados às autoridades americanas tiverem que ser devolvidos.
A convocação de Kleber Leite para dar esclarecimentos na CPI do Futebol foi barrada pela bancada ligada à CBF.
As empresas de marketing têm papel preponderante nos “negócios” entre as entidades de futebol e patrocinadores e emissoras de televisão. J. Hawilla, por meio de sua empresa Traffic, foi desde o início dos anos 1990 intermediário da CBF nos acordos comerciais e de direitos de transmissão em competições diversas. Comissões e pagamentos milionários indevidos nas negociações criaram um sistema altamente corrupto, com operações ilegais aqui e no exterior.
A Justiça americana dá conta da entrada de Kleber Leite nesse tipo de negociação com a CBF em 2011, com o objetivo de obter direitos comerciais da Copa do Brasil. O relatório de Romário mostra e-mails trocados por Kleber Leite com a cúpula da CBF sobre o assunto, revelando em uma das mensagens prévio conhecimento da Globo, parceira antiga da entidade, do interesse da Klefer pelo torneio – o ex-homem forte da emissora nos negócios relacionados à transmissão esportiva (deixou o cargo poucos meses depois de tornar público o Caso FIFA) é copiado no e-mail.
Segundo o relatório, essas mensagens entre Del Nero e Kleber Leite, sobre o contrato da Copa do Brasil, tem “sugestivo diálogo sobre pagamento de propinas”.
Posteriormente, a Justiça dos EUA identifica que a Traffic, até então intermediária por anos nos acordos de direitos entre a CBF e empresas e emissoras de televisão, aceita a entrada da Klefer nesse negócio, passando ambas a dividirem o pagamento de suborno à CBF nos contratos relacionados à Copa do Brasil.
Pois essa hora é que se abre uma lacuna no relatório do Romário – e também no Caso FIFA. Com as investigações relativas a Kleber Leite engavetadas pela justiça brasileira, verifica-se que falta esse elo para se fechar o cerco em torno dos grandes nomes e empresas envolvidos nos escândalos do futebol brasileiro.
O próprio documento apresentado pela CPI esta semana sugere isso. Kleber Leite é citado como quinto e último personagem do esquema de corrução na CBF.
O primeiro personagem, J. Hawilla, é réu confesso nos Estados Unidos e principal informante do caso. O ex-presidente da CBF, José Maria Marin, cumpre prisão domiciliar nos EUA. O atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e o ex-presidente da entidade Ricardo Teixeira, já foram indiciados pelo Departamento de Justiça americana.
Mas por onde anda Kleber Leite?
Conheça o voto em separado ou relatório paralelo da CPI do Futebol do Senado a q u i.

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