sábado, 19 de novembro de 2016

 Prisão de Anthony Garotinho é grotesca e grave ao Estado de Direito
Imagine se fosse o Lula. Imagine se fosse o Aécio, Marina Silva ou Bolsonaro. Fosse a Luciana Genro ou seja lá qual político com o qual você se identifique. Ou então, se sua repulsa for absoluta, imagine, ainda, se fosse um amigo, uma amiga arrastada de maca, aos berros, à prisão.
Mas não precisa imaginar. Aconteceu com Anthony Garotinho, um evangélico(ele não é pastor), envolvido historicamente em episódios políticos absurdos, como também em repressão a minorias. Foi uma pessoa que durante seu mandato se aproveitou enormemente do aparato policial e que caso fosse espectador de uma cena dessa envolvendo algum adversário seu, não duvido que comemoraria.
O ex-governador foi arrastado de maca, aos berros, rumo à prisão em Bangu, para a felicidade das estratégicas câmeras da TV, à busca do melhor ângulo da insólita cena. Ele foi servido à espetacularização da Justiça e sua imagem está estampada em memes, notícias e comemorações pela internet.
Por ter perdido a popularidade nos últimos anos, tende-se a entender a prisão dele como merecida. O gozo de muitas pessoas absortas no prazer em ver a desgraça alheia seria justificável tendo em vista a figura política.
Não. Mil vezes não.
Justamente na prisão de supostos “inimigos”, a humanidade é testada. Se não reconhecemos a dignidade em pessoas que não gozam de nossa empatia, por que raios esperaremos tratamento diferente quando formos nós mesmos os arrastados?

A prisão de Garotinho acontece em um contexto de banalização de prisões preventivas, no uso da mídia pelo aparato policial, acusatório e judicial para trucidar o direito de defesa e inviabilizar a recuperação do indivíduo. Se fosse com o Lula, mídias progressistas estariam em choque com a violação ao Estado de Direito. Já as tradicionais não suportariam a cena de José Serra arrastado aos urros. Nada deveria mudar quando a figura política é um Anthony Garotinho.
Como se não bastasse, Garotinho não está condenado judicialmente a nada. Presunção de inocência deve contar algo em um país que se diz uma Democracia. Pena que ela está tão em baixa.

(*) Breno Tardelli é diretor de redação do 'Justificando'
(**) Por decisão judicial superior, Garotinho passou à prisão 'domiciliar' e conduzido para cuidados médicos em hospital particular do Rio de Janeiro, na expectativa do julgamento de mérito quanto ao 'habeas corpus' impetrado nessa sexta-feira(18).


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