terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Sobre a  singular

 (im)popularidade

de Michel Temer

Os grupos políticos e empresariais que derrubaram Dilma dizem que a baixíssima popularidade do presidente não os preocupa  e  não   é um problema. Mas é...
Marcos Coimbra                             CartaCapital
 Temer
Oito meses depois de assumir o governo,  Temer é o presidente mais impopular de nossa história, em período comparável.   Em setembro de 1990, 34% das pessoas consideravam que    Fernando Collor fazia um governo “ótimo” ou “bom”,  enquanto apenas 20% achavam que era “ruim” ou “péssimo”.
performance de Itamar Franco, seu sucessor imediato, era parecida no início de março de 1993: 24% da população avaliava seu governo positivamente e 18% de maneira negativa, sempre de acordo com pesquisas do Datafolha.
Vale sublinhar: mesmo tendo iniciado o mandato confiscando a poupança e armando uma enorme confusão no País, Collor, aos oito meses de governo, era reprovado somente por uma em cada cinco pessoas, o mesmo que Itamar, vice que assumiu com elevado nível de desconhecimento e sem a legitimidade do voto popular.
A desaprovação de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma, em setembro do primeiro ano de seus governos, era de 15%, 11% e 11%, respectivamente. Sabemos que o tucano despencou em momento semelhante do segundo mandato, o inverso do que ocorreu com Lula, que chegou a setembro de 2007 em condições iguais às de quatro anos antes. São, no entanto, situações incomparáveis à de Temer.
Esse só é menos mal avaliado que Dilma no oitavo mês do segundo mandato, o que seria surpresa apenas para quem não presenciou o massacre a que ela foi submetida.
Em agosto de 2015, a proporção dos que achavam que ela fazia um mau governo chegou a 71%, taxa que o atual ocupante do Planalto, por enquanto, não atingiu: em dezembro passado, na mais recente pesquisa CUT/Vox Populi, a soma dos que avaliavam negativamente o governo estava em 55%, tendo subido de 34% em outubro. No fim de 2016, apenas 8% dos entrevistados manifestavam opinião positiva a respeito do trabalho que fazem Temer e sua turma.
Atravessamos os 16 meses do segundo mandato de Dilma sob o coro de que ela não tinha condições de governar, tamanha sua rejeição nas pesquisas. E Temer, que nunca contou com aprovação significativa e perde apoio em velocidade crescente? Parece que se esqueceram do argumento que invocavam para justificar a derrubada de um governo legítimo.
O governismo, em especial a imprensa governista, costuma tratar a impopularidade de Temer quase como se fosse uma virtude, uma decorrência natural de estar “fazendo a coisa certa”, mesmo tendo de enfrentar a incompreensão de uma sociedade inculta e mal-acostumada. Eles acham que a opinião pública, se fosse “racional”, aplaudiria Temer.
Lula
Enquanto Temer ganha na impopularidade, Lula se fortalece para as eleições de 2018 (Ricardo Stuckert/PR)
Um de seus amigos chegou a sugerir, em reunião solene do Palácio do Planalto, que ele deveria usar sua impopularidade abismal de maneira “produtiva”, aproveitando-a para não ser como os governantes “normais”, que querem ser aprovados e procuram atender às reivindicações da população.
Somente alguém como ele, sem qualquer perspectiva de popularidade, poderia realizar o projeto de que foi incumbido. Nem se precisa dizer que a recomendação foi mal recebida.
De três coisas podemos estar certos:
1. Temer e seu grupo não ficarão de braços cruzados, assistindo estoicamente ao avanço da impopularidade, em nome de uma agenda que subscrevem por mera conveniência. Abraçaram a que lhes foi dada, como defenderiam a teoria da existência das fadas se lhes tivesse sido solicitado. Ao longo de 2017 e no começo de 2018, vão querer fazer mágicas, procurando cacifar-se para não repetir o José Sarney de 1989, com isso minando a sustentação de que ainda desfrutam na coalizão que os levou ao poder.
2. Por mais que ele e seus patrocinadores na política e na mídia tentem, será impossível tornar Michel Temer uma figura respeitável, apoiada pela população. Não apenas pelos problemas que o País enfrenta, propor uma agenda “difícil” ou estar imerso em um oceano de irregularidades, mas por ser a figura medíocre que é. A tendência dos números de sua popularidade é de queda contínua.
3. Em um cenário de impopularidade persistente e à medida que nos aproximarmos da eleição presidencial, Temer será um fardo cada vez mais pesado. O agrupamento de interesses que o colocou no governo é instável, não tem bons candidatos e nenhum vai querer arcar com o ônus adicional de carregá-lo. Enquanto isso, na oposição, Lula se fortalece a cada dia.
Tudo isso, é claro, se Temer permanecer no cargo, algo que já foi menos provável, mas que continua longe de ser uma certeza. Sua saúde política é tão frágil que até um resfriado pode matá-lo.
A “saída Temer”, que as elites inventaram achando-se muito hábeis, está se mostrando uma ideia ruim. Até o fim deste ano será consenso que foi péssima.

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