sábado, 7 de janeiro de 2017

Morre  Mário  Soares:    um 

socialista, amigo do Brasil,

de Brizola e Lula

     soares
Quem via o Mário Soares “importante”, três vezes primeiro-ministro e Presidente de Portugal, não  sabe que o que foi a vida do grande líder que morreu neste sábado(7) aos 92 anos já enfrentou a prisão uma dúzia de vezes e um exílio na numa ilha africana (São Tomé) e na França, por combater a ditadura salazarista em seu país.
Subiu ao governo com a Revolução dos Cravos, liderou o processo de descolonização na África e se tornou primeiro-ministro em 1976. Teve o cuidado imenso de acolher exilados brasileiros e foi com o seu apoio que Leonel Brizola, expulso do Uruguai pelos militares golpistas de lá,  voltou a ter um passaporte e pôde organizar o PDT (ainda com a sigla PTB) , em Lisboa.
Por conta de sua amizade ao Brasil e a Leonel Brizola, com que participava da Internacional Socialista, o vi várias vezes: jovial, brincalhão, sem rancores. Cometo até uma inconfidência aqui, destas que hoje causariam escândalo.
Encantado com a visão do mar do Rio de Janeiro, Soares cismou de ir à praia. Mas como levar um Primeiro-Ministro à praia no Rio de Janeiro? Brizola já era governador e deu um jeito: lá se foi Mário Soares rumo à Prainha, uma pequena praia deserta no Grumari, a que não se tem acesso de  carro, apenas por uma longa trilha na montanha. Ainda bem que não tinha celular com câmera, senão ia ter reclamação moralista, ainda que tenha sido tudo mais simples e barato do que organizar uma “diplomacia do banho de mar” para levar o dirigente português à praia.
O último encontro entre Soares e Brizola se deu no também  finado (acho)  restaurante Nino’s, em Copacabana, com o português se esforçando para aparar as arestas entre o velho amigo e Lula, há pouco tempo no governo.
Sua morte me dói menos pela relação de conhecimento – nada além de cumprimentos e algumas trocas de palavras, como compete a um simples assessor manter-se – mas pela sensação que se vai mais um dos tempos em que políticos e governantes tinham trajetórias de luta, histórias de vida e olhar no futuro. Em que eram estadistas, não picaretas.
PS. A foto lá em cima, de Ricardo Beliel, faz parte do acervo de Fernando Rabelo e foi tirada em 1983. Na calçada do Galeão, Brizola, governador, Soares, primeiro Ministro, ao fundo Alfredo Sirkis, o jornalista José Maria Rabêlo e Darcy Ribeiro.

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