e a alta burocracia estatal
Marcos Pedlowski(*) Blog do Pedlowski
A queda do avião Hawker Beechcraft, modelo C90GT, que
pertencia ao Grupo Emiliano , e que acabou resultando na morte de cinco
pessoas, incluindo o seu proprietário, o empresário Carlos Alberto Fernandes
Figueira, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, nas
águas oceânicas de Paraty é mais reveladora do que se imagina.
Mas antes de explorar melhor as revelações que a
queda da aeronave nos propicia, quero refletir sobre a surpresa que é termos
pessoas ricas ou famosas envolvidas em acidentes com pequenas aeronaves. É que,
convenhamos, esse tipo de veículo é para quem pode pagar ou desfrutar da
amizade de pessoas mais afortunadas. Então, realmente, não sei qual é a
surpresa com o fato de que, novamente, pessoas ricas e poderosas pereceram num
acidente aéreo.
Mas vamos às revelações trazidas por esse trágico
acidente. A primeira é que veio à tona a forte amizade entre um empresário que
possuía entre suas propriedades hotéis voltados para o consumo de alto luxo e
um ministro do STF que, coincidentemente, estava à frente de homologar delações
no âmbito da chamada Operação Lava Jato. Esta não é ao meu ver uma revelação
qualquer. É que, mais uma vez, fica explícito que a alta burocracia estatal
brasileira vive muito próxima dos ricos e ultra ricos. Daí que esperar ou
alimentar a ilusão de que podemos ter uma justiça equânime beira a completa
ingenuidade.
A segunda revelação é que o supostamente austero Teori
Zavascki não via nenhum problema em ter como amigo uma pessoa que não só está
respondendo por crimes ambientais no STF (Aqui), como também era sócio do BTG Pactual, e tinha
pelo menos um dos seus hotéis envolvidos como local de recebimento de propinas
que fazem parte das apurações feitas pela mesma operação Lava Jato da qual ele
era o relator (Aqui e Aqui). Pode-se até dizer que para Zavascki valia o
princípio do “amigos, amigos, sentenças à parte”, mas não há como não fica com
a pulga atrás da orelha em relação à sua suposta austeridade e isenção técnica.
A terceira revelação que surge em minha opinião é
de que na morte todos tendem a ser santificados, especialmente se for um
ministro do STF que colaborou para o impedimento de uma presidente eleita para
que um governo antipopular e antinacional pudesse tomar o poder sem ser eleito.
Daí que qualquer “teoria da conspiração” para explicar a queda do Hawker
Beechcraft em Paraty vai estar apenas contribuindo para que o papel cumprido
por Zavascki na concretização do golpe de estado “light” cometido contra Dilma
Rousseff não seja corretamente analisado. Não custar lembrar que Zavascki
segurou por tempo suficiente o processo de remoção de Eduardo Cunha da
presidência da Câmara de Deputados para que o processo de impeachment fosse
votado.
Mas não se enganem, com ou sem a presença de Teori
Zavascki o desfecho da operação Lava Jato não será mudado. É que toda essa
operação já cumpriu o seu papel que foi retirar Dilma Rousseff do poder e
facilitar o aumento do controle das corporações multinacionais sobre a economia
brasileira, especialmente na área da exploração do petróleo. Em outras
palavras, Zavascki já havia cumprido o papel que lhe cabia nessa trágica fase
da nossa história.
E nós que continuaremos por aqui é que teremos de
conviver com as consequências deste modelo social onde para poucos alguns
sobram todas as benesses geradas pelas riquezas nacionais, enquanto a maioria
precisa se preocupar em saber se terá um teto sobre suas cabeças nos próximos
dias.
Finalmente, agora me respondam, qual é mesmo o padrão
de ética que perdura no STF? É que primeiro tivemos Gilmar Mendes acompanhando
o presidente “de facto” numa viagem a Portugal, usando dinheiro da viúva para
ir a um enterro onde ele nem apareceu. Agora, temos um ministro do STF voando
nas asas de um jatinho de propriedade de réu de uma operação policial da qual
ele era relator. Como podem os mais pobres ter alguma confiança de que a
justiça brasileira serve a todos os cidadãos de forma equânime? A resposta é
simples: não podem.
(*) Marcos Pedlowski é Professor Associado da Universidade Estadual do Norte Fluminense em Campos dos Goytacazes, RJ. Bacharel e Mestre em Geografia pela UFRJ e PhD em "Environmental Design and Planning" pela Virginia Tech.
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