domingo, 27 de março de 2016

A parábola da Paixão (e da Ressurreição)  de   Silva     

torno
Uma das grandes forças dos textos bíblicos, todos sabem, são as parábolas. Delas, se tiram lições e sabedorias. A do filho pródigo,a dos talentos, a do semeador, a do trigo e do joio, por séculos, nos vêm permitindo entender realidades e comportamentos.
Por isso, o autor arrisca-se a uma sem citar personagens, exceto um “qualquer do povo”, a quem chamou, por isso de 'Silva'.
“O rei entrou na cidade montado num jegue.
Meio milhão de pessoas o aclamava. (Oitenta mil, segundo a PM)
Muitos colheram ramos de árvores e folhas de palmeiras para cobrir o chão da avenida por onde passaria. O cortejo caminhava alegre e transformou a cidade em clima de festa.
Ele era aplaudido, proclamado pelo povo que o tinha visto alimentar multidões.
Então o rei fala: “A gente tem que restabelecer a paz!”
Mas, já havia despertado, nos sacerdotes e mestres da Lei, inveja, desconfiança e medo de perder o poder. Havia uma trama para condená-lo à morte.
Parte do mesmo povo que o aclamou saiu às ruas com vestes em cores que, segundo eles, significavam a riqueza do ouro e o verde das matas. Na verdade, eram pobres fãs de general que sonegava.
As elites imperiais se encarregaram de trazer noticias para denunciar aquele rei pretensioso. Um rei que causava tanta agitação, que tirara milhões da miséria e que suscitava no povo fé e esperança.
O castigo deveria ser exemplar para que nunca mais alguém de sua laia ousasse querer reinar e perturbar a ordem estabelecida.
Na Avenida, o rei foi zombado e achincalhado pelo povo limpinho e cheiroso. Queriam-no crucificado.
O rei foi detido.
Seu caso foi examinado de forma peculiar. (“ao invés de um interrogatório domiciliar particular para contrastar as acusações recebidas ou das suspeitas que haviam sobre os seus ensinamentos”).
O contencioso legal contra o rei é levado perante autoridade federal.
Havia temores de que aquele que falava de um “reino possível” poderia ser, de novo, um perigo aos poderosos.
O procurador tinha duas formas possíveis para enfrentar a situação:
– O coercitio (castigo, medida de força) que lhe outorgava a capacidade de aplicar as medidas oportunas para manter a ordem pública. Assim, poderia infligir lhe um castigo exemplar.
– O coginitio (conhecimento), processo que se formulava a acusação. Haveria um interrogatório e, depois, se ditaria a sentença de acordo com a lei.
Optou, no entanto, pelo “cognitio extra ordinem”. Processo no qual o próprio pretor determina o procedimento e ele mesmo dita a sentença. (O promotor – ou juiz – recebe as acusações e interroga. No tribunal, dita a sentença e a condenação por um delito formal.)
Já viu-se coisa semelhante, escrita em certos versos que dizem:  
 Mas os líderes dos sacerdotes e  todo o   Sinédrio  estavam  tentando suscitar um falso testemunho   contra        aquele homem, para que tivessem o direito de condená-lo à morte./Todavia, nada encontraram, apesar de se terem apresentado vários depoimentos inverídicos. Ao final, entretanto, compareceram duas testemunhas que alegaram:/“Este homem afirmou: ‘Tenho poder para destruir o santuário de Deus e reconstruí-lo em três dias.”  

Assim ele foi justiçado como ex-rei dos pobres.
Começa o difícil caminho.
Condenado à morte, o rei carrega a cruz às costas.
Cai pela primeira vez, encontra a sua mãe.
A mando dos soldados, um homem o ajuda.
Uma mulher – portadora da vitória – limpa seu rosto.
Cai pela segunda vez, terceira vez até o que o deixam nu e o grampeiam na cruz.
Morre.
É descido da cruz.
Sepultado.
Eis que chega o domingo de Páscoa: passagem da escravidão para a liberdade.
O rei ressuscita.”
Feliz Páscoa!

Nenhum comentário:

Postar um comentário