Tempo de más
intenções

(Original no CONVERSA AFIADA)
Intervenções desonestas não precisam ser respondidas, a menos que haja necessidade real de fazê-lo, por motivo à parte. Em geral, não valem nem o mínimo trabalho de responder. Entre o besteirol mal informado e oportunista e, no outro extremo da falta de boa-fé, atos que surgem com novas formas, os tantos exemplos não permitem dúvida: são tempos de más intenções.
No âmbito oficial, por exemplo, o novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão,
guardou um silêncio inteligente sem por isso ficar na passividade. A divulgação
da megalista de doações ou pagamentos da Odebrecht a políticos consistiu em
óbvia provocação. A lista em si não vale nada, por não distinguir recebedores
de doações declaradas à Justiça Eleitoral, portanto legais, e doações
convertidas por candidatos em caixa dois de campanha e em dinheirão no seu
bolso. Uma salada venenosa e uma divulgação mal intencionada, como ação
policial. Só pode ser entendida como represália, senão desafio, à ameaça do
ministro de punir vazamentos de investigações com afastamentos.
O juiz Sergio Moro decretou o sigilo da megalista -só um dia depois da
divulgação pela PF. Sempre desejados pelos jornalistas, os vazamentos da
polícia e do Ministério Público são ilegais. Dão a condutores de investigações
um modo de direcionar os efeitos dos inquéritos, o que influir até na sentença
judicial. A dificuldade de reprimir os vazamentos começa por serem os próprios jornalistas
a acobertá-los, como seus primeiros beneficiários. É o obrigatório resguardo da
fonte.
Mais importante, a PF considera-se um poder autônomo e quer essa condição
inscrita na Constituição, com orçamento próprio e diretor eleito pelos
policiais. Suas ambições incluem mesmo a equiparação a ministros do Supremo. A
disposição do novo ministro da Justiça, com fundamento legal, e a advertência
da PF de que não aceitará punições são, mais do que prenúncios, já indícios de
um aspecto a mais na crise. E não pequeno, mas talvez necessário.
As ameaças ao ministro Teori Zavascki e à casa gaúcha de seu filho são mais do
que aparentam. Sóbrio, sem discurseiras políticas nem pedantismos jurídicos, de
sua chegada até agora é um ministro exemplar do que deve ser o Supremo. Acima
da orientação de cada um dos seus votos está a seriedade aplicada a todos. Se
os odientos começam por Zavascki a extensão da violência que cometem nas ruas,
a alternativa é clara: ou as polícias locais agem logo com eficiência e rigor,
identificando-os para o processo adequado, ou em pouco não terão mais
possibilidade de controle. As ameaças e as ofensas a Zavascki, na frente do
Supremo, não revelam más intenções: são péssimas.
"Estamos vivendo e sofrendo as consequências desta crise que tem três
componentes: político, econômico e ético e moral, e os três estão
interligados". Quem expõe essa lucidez? Ninguém, claro, entre os
identificados com Aécio, Gilmar Mendes, a Fiesp-PMDB, Eduardo Cunha e demais
astros do buraco negro. Ninguém, a rigor, que dissesse ainda, entre aqueles
citados e outros bolsonaros, que "o Exército é uma instituição de
Estado", ou seja, não está à mercê do jogo político. E, além de só admitir
qualquer ação se convocado por um dos Três Poderes, apenas o faria "absolutamente"
de acordo com a Constituição.
Quem diria? O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, antecipa a
resposta aos mal intencionados que começam a falar em militares.
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