quinta-feira, 31 de março de 2016

The  Guardian:  a   mídia  e   o nazismo;   o  acordo   entre  a AP,  dos  EUA,  e  o   III Reich 

FERNANDO BRITO               

     apnazi
A agência de notícias norte-americana Associated Press cooperou formalmente com o regime de Hitler nos anos 30, fornecendo a jornais americanos material diretamente produzido e selecionado pelo ministério de propaganda Nazi. A revelação foi feita por uma historiadora alemã, Harriet Scharnberg.  A reportagem é da edição desta quarta-feia(30) do jornal inglês The Guardian e a tradução, em cima do laço, é da amiga jornalista Florencia Costa, a quem agradeço em nome dos leitores.
É uma lição sobre o que ocorre quando aqueles que controlam a mídia, por seus interesses econômico, se associam ao autoritarismo. Tivemos aqui nossas lições, mas parece que não aprendemos.

Como a Associated Press colaborou

com os nazistas

Quando o partido Nazista conquistou o poder na Alemanha em 1933 um de seus primeiros objetivos foi dar o tom aos jornais nacionais e internacionais. O The Guardian foi banido em um ano e em 1935 até grandes agências britânicas-americanas como Keystone e Wide World Photos foram forçadas a fechar seus escritórios depois de serem atacadas por empregar jornalistas judeus.

Associated Press, que sempre se descreveu como “o corpo de fuzileiros navais do Jornalismo” (“a primeira a entrar e a última a sair”) foi a única agência de notícias ocidental que conseguiu ficar de portas abertas na Alemanha de Hitler.
Assim a AP, como é chamada a Associated Press, se beneficiou e tornou-se o principal canal de notícias e fotos do Estado totalitário.
Em um artigo na publicação acadêmica Studies in Contemporary History, a historiadora alemã Harriet Scharnberg mostra que a APsomente foi capaz de manter seu acesso firmando uma cooperação de “mão dupla” com o regime Nazista.
A agência, com sede em Nova York, cedeu controle de sua produção assinando o chamado Schriftleitergesetz (editor’s law), prometendo não publicar qualquer material “que enfraquecesse o Reich”.
Este compromisso fez com que a AP contratasse repórteres que também trabalhassem para a divisão da propaganda nazista. Um dos quatro fotógrafos empregados pela AP nos anos 30, Franz Roth, foi membro da divisão de propaganda da unidade paramilitar SS, cujas fotografias eram pessoalmente escolhidas por Hitler.
AP removeu as fotos de Roth de seu website a partir do momento em que Scharnberg publicou o resultado de sua pesquisa.
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A AP também permitiu que o regime nazista usasse seus arquivos de foto para sua virulenta literatura de propaganda antissemita.
As publicações ilustradas com fotos da AP incluem brochuras de sucesso da SS como “Der Untermensch” (“O Sub-Humano”) e o manual “Os Judeus nos EUA”, que pretendiam demonstrar a decadência dos judeus americanos com a foto do prefeito de Nova York , Fiorello LaGuardia ,comendo com as mãos em um buffet (veja ao lado).
A descoberta acontece pouco antes do aniversário de 170 anos da AP, em maio, e levanta questões complicadas sobre o papel que a AP desempenhou ao permitir que a Alemanha Nazista escondesse sua verdadeira face durante os primeiros anos de Hitler no poder e também sobre a relação da agência de notícias com regimes totalitários contemporâneos.
O acordo da AP  com o regime nazista permitiu que o Ocidente entrasse em uma sociedade repressora e isso permaneceu escondido. A invisibilidade produzida por este acordo fez com que, por exemplo, o fotógrafo P. Lochner, correspondente da AP em Berlin, ganhasse o Prêmio Pulitzer em 1939. O arranjo possibilitou aos nazistas também encobrirem alguns de seus crimes.
Scharnberg, historiadora da Universidade Martinho Lutero de Halle-Wittenberg, explicou que a cooperação da AP com o regime de Hitler permitiu aos nazistas “retratar a guerra de extermínio como uma guerra convencional”.
Em junho de 1941, as tropas nazistas invadiram a cidade de Lviv, no Oeste da  Ucrânia . Depois de descobrir evidências de assassinatos em massa praticados por tropas soviéticas, forças de ocupação alemãs organizaram 'pogroms' de “vingança” contra a população judia da cidade.
As fotos dos corpos dentro das prisões de Lviv, de Franz Roth, foram selecionadas por ordem pessoal de Hitler e distribuídas para a imprensa americana via AP.
No lugar de imprimir fotos dos pogroms de Lviv , com suas milhares de vítimas, foram fornecidas à imprensa americana apenas fotos mostrando vítimas da polícia soviética e dos criminosos de Guerra ‘violentos’ do Exército Vermelho”, disse Scharnberg ao Guardian.
“Estas fotos contribuiram para disfarçar o verdadeiro caráter da Guerra liderada pelos alemãs”, disse a historiadora. “A decisão sobre que eventos iriam se tornar visíveis e quais permaneceriam invisíveis no fornecimento de fotos da AP seguiu os interesses alemães e a narrativa de guerra da Alemanha.”

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