quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Como a tensão  entre  EUA  e Rússia faz a  agenda  nuclear retroceder ao século passado


Mais de 90% das armas nucleares do mundo estão concentradas nos dois países, que vivem um momento de crescente hostilidade com os conflitos internacionais recentes...

  • Rafael Iandoli
  •                      
    Nexo jornal

                                                                                   FOTO: KEVIN LAMARQUE/REUTERS VLADIMIR PUTIN, DA RÚSSIA, E BARACK OBAMA, DOS EUA, SE CUMPRIMENTAM
    O presidente russo Vladimir Putin suspendeu, no início de outubro (dia 3), o acordo nuclear firmado entre seu país e os EUA. Em vigor desde 2000, e renovado em 2009, o tratado é um projeto do período pós-Guerra Fria, e considerado importante no caminho para a não-proliferação desse tipo de arma.

    O acordo previa que cada país destruísse 34 toneladas de plutônio, matéria-prima para a construção de 17 mil armas nucleares. EUA e Rússia são os dois maiores detentores no mundo desse tipo de arsenal, com 93% de todas as armas, segundo a Federação de Cientistas Americanos.

    Putin justifica a suspensão acusando os americanos de “alterarem radicalmente o ambiente” entre os dois países, com operações militares na Europa próximas à fronteira russa.

    As ações recentes do presidente russo preocupam por utilizar seu poderio nuclear como barganha política internacional. Especialmente quando um acordo pelo fim da guerra na Síria(AQUI) parece distante, aumentando o antagonismo das duas nações.

    A suspensão do acordo vai na contramão dos esforços internacionais(AQUI), empregados há pelo menos quatro décadas, para evitar a proliferação de armas nucleares. Elas são definidas como dispositivos explosivos que possuem potencial destrutivo baseado em reações nucleares.

    CONCENTRAÇÃO NUCLEAR

    Os motivos da Rússia

    Putin acusa(AQUI) os EUA de criarem um ambiente hostil à população russa ao aumentar sua presença militar(AQUI) em seus países vizinhos sob a bandeira da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

    Bulgária, Letônia, Polônia, Romênia e Estônia são citados pelo governo russo como locais onde os americanos se posicionaram de forma mais intensiva desde 2015.

    A Rússia também aponta os americanos como líderes de um processo de isolamento do país no ocidente. O embargo(AQUI) econômico imposto aos russos depois da anexação(AQUI) da Crimeia, em 2014, liderado pelos EUA, contou com a adesão de diversos países da União Europeia.

    Mesmo a exclusão(AQUI) de mais de 110 atletas russos da Olimpíada do Rio foi vista pelo governo como um exemplo da crescente “russofobia” na política internacional.
    Visão dos americanos

    Do outro lado, as reclamações contra a Rússia cresceram quando surgiu a suspeita de que o governo Putin teria hackeado(AQUI) os candidatos à presidência, Hillary Clinton e Donald Trump. O republicano diz em sua campanha que não tem problemas com Putin, enquanto Hillary prega ações mais fortes contra a Rússia.

    Em 2011, Hillary era secretária de Estado dos EUA e negociou com a Rússia uma área de proteção aérea na Líbia, que estava em guerra. No acordo, ela afirmou que não pretendia, com isso, intensificar a caçada a Muammar al-Gaddafi, apoiado pelos russos e rival dos americanos. Logo depois, ações da Otan resultaram na morte do ditador por forças rebeldes, e Clinton aparece em um vídeo fazendo piada sobre o caso.

    As Nações Unidas se opõem à anexação da Crimeia, fazendo coro aos EUA. Além disso, o apoio militar russo ao ditador sírio Bashar al-Assad constantemente resulta em ataques aéreos a posições não militares, matando pessoas não envolvidas na guerra.

    Armas nucleares como barganha
                                                                                               YURI MALTSEV/REUTERS 
    SUBMARINO NUCLEAR RUSSO EM EVENTO MILITAR NA CIDADE DE VLADIVOSTOK 

    A preocupação com relação à atitude russa é justificada com a percepção de que Putin tem se mostrado disposto a utilizar seu poderio nuclear como barganha internacional.

    Rússia e EUA evitam esse tipo de ação desde a Crise dos Mísseis em 1962, no meio da Guerra Fria, quando o plano soviético de instalar armas nucleares em Cuba quase foi colocado em prática, o que significaria um perigo iminente de guerra nuclear.

    Do episódio de Cuba em diante, mesmo em momentos de discordância, os assuntos são tratados separadamente. Putin, agora, rompe com a tradição.

    Em março, o presidente russo boicotou a cúpula internacional de segurança nuclear que foi sediada nos Estados Unidos. Na época, também(AQUI) afirmou que o país estava pronto para utilizar armas nucleares para proteger a Crimeia, caso fosse necessário.

    Agora, após suspender o tratado no início do mês, deslocou (AQUI)potentes mísseis nucleares do tipo Iskander-M a Kaliningrado, enclave russo localizado entre a Polônia e a Lituânia, na região dos países bálticos.
                                                                                  INTS KALNINS/REUTERS 
    TANQUES AMERICANOS FAZEM EXERCÍCIO NA LETÔNIA, VIZINHA DA RÚSSIA 

    Segundo a revista “Foreign Policy”, Putin afirmou que pretende repensar a suspensão do tratado caso os americanos diminuam sua presença militar em regiões próximas a sua fronteira, além de pagar uma compensação pelas perdas econômicas resultantes do embargo comercial.

    A Rússia(AQUI) também afirma que o tratado sobre plutônio não está relacionado aos compromissos de não-proliferação de armas nucleares, e que continua comprometida com a causa.

    Em 1947, o Boletim dos Cientistas Atômicos criou o “Relógio do Dia do Juízo Final”, no qual os ponteiros se movem de acordo com a iminência de um ataque nuclear, sendo a meia noite o momento da explosão. Em 2015, o ponteiro saiu das 23:55 e foi para 23:57. Desde sua criação, o relógio mudou de posição apenas 21 vezes.

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