Quem é a ‘Família do Norte’, facção responsável pela rebelião no presídio
do Amazonas
Original do El Pais
Três lideranças da facção criminosa paulista Primeiro
Comando da Capital (PCC) foram brutalmente degoladas entre junho e
julho de 2015 dentro de presídios de Manaus. Era apenas o começo do
episódio que ficou conhecido na capital amazonense como o Fim de Semana Sangrento. Entre a tarde de sexta feira,
dia 17 de julho, e a manhã de segunda-feira dia 20, foram
38 homicídios nas ruas da capital amazonense, boa parte de pessoas
supostamente ligadas ao PCC e a outros grupos criminosos. As ordens para a
ofensiva partiram de dentro de presídios do Estado, e existe a suspeita de que
Policiais Militares tenham participado do crime. Mensagens de celular
interceptadas pela Polícia Federal deixam claro o objetivo da ação: “Mano,
esses cara que vestiram a camisa do PCC aqui [no Amazonas] são uma vergonha
para o crime (…) são todos safados. Esses nós vamos matar é tudo”.
De
acordo com especialistas, os assassinatos ordenados por Barbosa em junho de
2015 estão na origem do rompimento da aliança de quase 20 anos entre
o PCC e o CV. O fim da paz entre os dois grupos já custou a vida de ao
menos 18 detentos em presídios de Roraima e Rondônia no início de
outubro de 2016, a maioria deles ligados à Família
do Norte e ao CV. Além disso, o
caso mostra que a rixa entre as facções e o potencial de conflito dentro das
cadeias já eram conhecidos há mais de um ano pelas autoridades.
De
acordo com a Polícia Federal, o encontro teria ocorrido na biblioteca do
presídio, e Barbosa saiu da reunião satisfeito com o resultado da conversa.
Além de obter do secretário a garantia de que não seria transferido para outro
presídio, de quebra conseguiu nova vitória sobre os rivais do PCC. Em mensagem de celular enviada a
outros traficantes, ele comemora: “Acabamos
com o seguro [área dos pavilhões 1 e 2 destinada ao PCC] do Centro de Detenção
Provisória. Eles [PCC] não têm mais nenhum pavilhão, porque esses vermes tinham
dois pavilhões. Agora nós da ‘Família’ estamos no controle de toda a cadeia”.
A
área conhecida como seguro nos presídios é destinada a estupradores e presos
vulneráveis no sistema carcerário. Como no Amazonas o PCC era minoria dentro das cadeias, por uma questão de segurança
seus integrantes foram confinados nestes pavilhões específicos. Na prática, com
o fim do ‘seguro’, os presos da facção paulista teriam de conviver com os
rivais da Família do Norte, que contam com ampla superioridade
numérica no Estado. Nesta situação teriam duas opções: ou mudariam para a outra
facção ou seriam mortos.
Mensagem
de texto enviada por João Pinto Carioca, vulgo Potência Máxima,
terceiro na cadeia de comando da Família do Norte, confirma a
reunião com o enviado do Governo: “Veja
bem mano, o secretário veio aqui falar com o mano ‘Z’ [Barbosa] para manter a
paz dentro e fora do sistema. Ai o mano Z ganhou o pavilhão 1 e 2 que era dos
PCC e vai ficar pessoal nosso lá”, diz uma das mensagens intecerceptadas pela
PF. Em troca, Barbosa teria que ordenar o fim dos assassinatos. O grupo
criminoso manteve sua parte no acordo com as autoridades. Em mensagem de
celular enviada por João Carioca ele pede o fim das mortes: “Então, agora vou
mandar brecar as mortes nas cadeias todas agora”.
(...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário