Artigo
de Hildegard Angel sobre Dona Marisa derruba o seu blog
A jornalista
Hildegard Angel publicou um artigo, em janeiro de 2011, sobre a Dona Marisa
Letícia. Na última sexta-feira(27/jan), em função da repercussão da internação de Dona
Marisa em decorrência de um AVC, ela resolveu republicar este
mesmo artigo. A procura foi tão grande, cerca de 11 mil acessos simultâneos,
que acabou provocando um “engarrafamento virtual”, tirando o blog do ar, fato
que foi justificado pela própria jornalista. Leia aqui a reprodução do artigo.
Marisa Letícia Lula da
Silva: as palavras que precisavam ser ditas
Hildegard
Angel
Foram
oito anos de bombardeio intenso, tiroteio de deboches, ofensas de todo jeito,
ridicularia, referências mordazes, críticas cruéis, calúnias até. E sem o conforto
das contrapartidas. Jamais foi chamada de “a Cara” por ninguém, nem teve a
imprensa internacional a lhe tecer elogios, muito menos admiradores políticos e
partidários fizeram sua defesa. À “companheira” número 1 da República, muito
osso, afagos poucos. Ah, dirão os de sempre, e as mordomias? As facilidades? O
vidão? E eu rebaterei: E o fim da privacidade? A imprensa sempre de olho,
botando lente de aumento pra encontrar defeito? E as hostilidades públicas? E
as desfeitas? E a maneira desrespeitosa com que foi constantemente tratada, sem
a menor cerimônia, por grande parte da mídia? Arremedando-a, desfeiteando-a,
diminuindo-a? E as frequentes provas de desconfiança, daqui e dali? E – pior de
tudo – os boatos infundados e maldosos, com o fim exclusivo e único de
desagregar o casal, a família? Ah, meus queridos,Marisa Letícia Lula da
Silva precisou ter coragem e estômago para suportar esses oito anos de
maledicências e ataques. E ela teve.
Começaram
criticando-a por estar sempre ao lado do marido nas solenidades. Como se
acompanhar o parceiro não fosse o papel tradicional da mulher mãe de família em
nossa sociedade. Depois, implicaram com o silêncio dela, a “mudez”, a maneira
quieta de ser. Na verdade, uma prova mais do que evidente de sua sabedoria.
Falar o quê, quando, todos sabem, primeira-dama não é cargo, não é emprego, não
é profissão? Ah, mas tudo que “eles” queriam era ver dona Marisa Letícia se
atrapalhar com as palavras para, mais uma vez, com aquela crueldade venenosa
que lhes é peculiar, compará-la à antecessora, Ruth Cardoso, com seu colar
poderoso de doutorados e mestrados. Agora, me digam, quantas mulheres neste
grande e pujante país podem se vangloriar de ter um doutorado? Assim como, por
outro lado, não são tantas as mulheres no Brasil que conseguem manter em
harmonia uma família discreta e reservada, como tem Marisa Letícia. E não são
também em grande número aquelas que contam, durante e depois de tantos anos de
casamento, com o respeito implícito e explícito do marido, as boas ausências
sempre feitas por Luís Inácio Lula da Silva a ela, o carinho
frequentemente manifestado por ele. E isso não é um mérito? Não é um exemplo
bom?
Passemos
agora às desfeitas ao que, no entanto, eu considero o mérito mais relevante de
nossa ex-primeira-dama: a brasilidade. Foi um apedrejamento sem trégua, quando
Marisa Letícia, ao lado do marido presidente, decidiu abrir a Granja do Torto
para as festas juninas. A mais singela de nossas festas populares, aquela com
Brasil nas veias, celebrando os santos de nossas preferências, nossa culinária,
os jogos e as brincadeiras. Prestigiando o povo brasileiro no que tem de
melhor: a simplicidade sábia dos Jecas Tatus, a convivência fraterna, o riso
solto, a ingenuidade bonita da vida rural. Fizeram chacota por Lula colar bandeirinhas
com dona Marisa, como se a cumplicidade do casal lhes causasse desconforto.
Imprensa colonizada e tola, metida a chique. Fazem lembrar “emergentes” metidos
a sebo que jamais poderiam entender a beleza de um pau de sebo “arrodeado” de
fitinhas coloridas. Jornalistas mais criteriosos saberiam que a devoção de
Marisa pelo Santo Antônio, levado pelo presidente em estandarte nas procissões,
não é aprendida, nem inventada. É legitimidade pura. Filha de um Antônio
(Antônio João Casa), de família de agricultores italianos imigrantes, lombardos
lá de Bérgamo, Marisa até os cinco de idade viveu num sítio com os dez irmãos,
onde o avô paterno, Giovanni Casa, devotíssimo, construiu uma capela de Santo
Antônio. Até hoje ela existe, está lá pra quem quiser conferir, no bairro que
leva o nome da família de Marisa, Bairro dos Casa, onde antes foi o sítio de
suas raízes, na periferia de São Bernardo do Campo. Os Casa, de Marisa Letícia,
meus amores, foram tão imigrantes quanto os Matarazzo e outros tantos, que ajudaram
a construir o Brasil.
Marisa Letícia soube
valorizar o artesanato brasileiro na moda como nenhuma outra primeira-dama.
Vejam, nos looks acima, a bolsa é de fuxico e as rendas são tipicamente
brasileiras.
Outro
traço brasileiro dela, que acho lindo, é o prestígio às cores nacionais, sempre
reverenciadas em suas roupas no Dia da Pátria. Obras de costureiros nossos,
nomes brasileiros, sem os abstracionismos fashion de quem gosta de copiar a
moda estrangeira. Eram os coletes de crochê, os bordados artesanais, as rendas
nossas de cada dia. Isso sim é ser chique, o resto é conversa fiada. No poder,
ao lado do marido, ela claramente se empenhou em fazer bonito nas viagens, nas
visitas oficiais, nas cerimônias protocolares. Qualquer olhar atento percebe
que, a partir do momento em que se vestir bem passou a ser uma preocupação,
Marisa Letícia evoluiu a cada dia, refinou-se, depurou o gosto, dando um olé geral
em sua última aparição como primeira-dama do Brasil, na cerimônia de sábado
passado, no Palácio do Planalto, quando, desculpem-me as demais, era
seguramente a presença feminina mais elegante. Evoluiu no corte do cabelo, no
penteado, na maquiagem e, até, nos tão criticados reparos estéticos, que a
fizeram mais jovem e bonita. Atire a primeira pedra a mulher que, em posição de
grande visibilidade, não fez uma plástica, não deu uma puxadinha leve, não
aplicou uma injeçãozinha básica de botox, mesmo que light, ou não recorreu aos
cremes noturnos. Ora essa, façam-me o favor!
O estilo de dona Marisa
Letícia evoluiu ao longo do período em que foi primeira-dama. Na montagem
acima, bons momentos em que demonstrou sua elegância.
Cobraram
de Marisa Letícia um “trabalho social nacional”, um projeto amplo nos moldes do
Comunidade Solidária de Ruth Cardoso. Pura malícia de quem queria vê-la cair na
armadilha e se enrascar numa das mais difíceis, delicadas e técnicas esferas de
atuação: a área social. Inteligente, Marisa Letícia dedicou-se ao que ela
sempre melhor soube fazer: ser esteio do marido, ser seu regaço, seu sossego.
Escutá-lo e, se necessário, opinar. Transmitir-lhe confiança e firmeza. E isso segundo
declarações, dadas por ele, ela
sempre fez. Foi quem saiu às ruas em passeata, mobilizando centenas de
mulheres, quando os maridos delas, sindicalistas, estavam na prisão. Foi quem
costurou a primeira bandeira do PT. E, corajosa, arriscou a pele, franqueando
sua casa às reuniões dos metalúrgicos, quando a ditadura proibiu os sindicatos.
Foi companheira, foi amiga e leal ao marido o tempo todo. Foi amável e cordial
com todos que dela se aproximaram. Não há um único relato de episódio de arrogância
ou desfeita feita por ela a alguém, como primeira-dama do país. A dona de casa
que cuida do jardim, planta horta, se preocupa com a dieta do maridão e protege
a família formou e forma, com Lula, um verdadeiro casal. Daqueles que,
infelizmente, cada vez mais escasseiam.
Este é o meu reconhecimento ao papel muito bem desempenhado por Marisa Letícia Lula da Silva nesses oito anos. Tivesse dito tudo isso antes, eu seria chamada de bajuladora. Esperei-a deixar o poder para lhe fazer a Justiça que merece.
Este é o meu reconhecimento ao papel muito bem desempenhado por Marisa Letícia Lula da Silva nesses oito anos. Tivesse dito tudo isso antes, eu seria chamada de bajuladora. Esperei-a deixar o poder para lhe fazer a Justiça que merece.
Com Michelle Obama. Duas
lindas mulheres. Foto: reprodução
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