segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

O irresistível apelo homoerótico

do  fascismo  de  Bolsonaro         

Kiko Nogueira                                 

O "Mito" em Blumenau
'Bolsomito' em Blumenau, na 'Octoberfest 'do ano passado

Algumas coisas chamam a atenção na legião de seguidores de Jair Bolsonaro, o deputado que emergiu com mais força depois do último protesto antigoverno.

A primeira, óbvia, é o fanatismo. Bolsomito, como eles o chamam, é incorruptível, infalível, inteligente, a encarnação do profeta.
A segunda é a truculência. Eles gostam de porrada, eles rejeitam qualquer crítica, eles xingam o que vêem pela frente, especialmente se as vítimas forem mais fracas.
A terceira, e esta é a mais interessante, é que são todos homens. Não propriamente homens — meninos. Há raríssimas fãs do sexo feminino.
Os rapazes idolatram o jeito de ele falar, a boca torta num esgar que fica mais estranho quando ele está nervoso, o jeito de ele andar, o jeito dele ser. Bolsonaro gosta de ficar entre esses machos e os machos gostam de estar com Bolsonaro.
A cada artigo sobre ele no DCM, essa meninada aparece aos magotes, revoltadíssima com qualquer coisa que conspurque a imagem de seu ídolo, e descrevendo um sujeito imaculado de alma e corpo.
Ele é um pop star do extremismo político, o homem dos sonhos para garotos plenos de testosterona. “Eu amo ele, sim!”, escreveu um bolsonarista em resposta a um artigo, no meio de ofensas pesadas.
Bolsonaro exerce um intenso apelo homoerótico sobre seu eleitorado. É o fascínio homossexual do fascismo, disfarçado sob a homofobia.
Os jihadistas de JB gostam de ficar entre si, de se amassar nos eventos do mito. Eles suam e se roçam e gritam em louvor ao chefe. Dispensam namoradas e esposas. Parte é misoginia, mas outra parte enorme é vontade mesmo de estar apenas entre homens exaltados.
Após a guerra, a parafernália nazifascista foi adotada por praticantes do sadomasoquismo. Artistas embarcaram nisso. David Bowie, em sua 'fase gay' no início dos anos 70, chegou a colecionar uniformes de oficiais da SS e foi preso na Polônia com eles.
Os membros da Escola de Frankfurt descreveram um “tipo de personalidade homossexual” entre os nazifascistas. As tendências de submissão masoquistas desse tipo o tornaram vulnerável ao apelo sedutor da causa.
Na Alemanha de Hitler, uma elite de homens firmemente unidos entre si e aduladores de um 'deus' de bigode esquisito era a condição necessária para uma nação forte, pura, honesta e viril.
Segundo a professora Elizabeth D. Heineman, era o “Mannerbund” — que pode ser traduzido como “coletivo do sexo masculino” —, a união homens disciplinados física e mentalmente, sem distrações femininas, transformando seus laços profundos uns com os outros e com seu líder em potência. O eventual sexo entre eles era considerado um vínculo a mais.
É evidente que não há problema algum no hemoerotismo dos bolsonaristas. Ninguém tem nada a ver com isso. A questão é a histeria homofóbica deles e como esse caldo é transformado em virulência, intolerância e ditadura.
Bolsonaro, seus mancebos e o país que querem salvar só têm a ganhar quando se aceitarem como são.

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