domingo, 5 de fevereiro de 2017


Marisa fica onde importa ficar: no coração  de  Lula


FERNANDO BRITO                  

     ultima
Só gente muito egoísta acha que não morre, que o mundo só tem sentido porque ele está ali.
Egoísta e pretensiosa, mesmo quando  fantasia a mesquinhez de generosidade do “vou deixar isto para fulano, aquilo para Beltrano"...
Deixar coisas frias, para pessoas frias?
A gente tem coisa melhor a deixar nesse mundo.
O exemplo que deu, o erro que depois aprendeu, o carinho que dedicou e aquele que se deixou receber.
O amor, se teve a sorte de tê-lo, ou tê-los.
Marisa fica nos filhos e no companheiro a quem ela se dedicou, por quem  sofreu e, quando pôde, com quem riu.
Homens difíceis, estes tais de líderes.
Não sobra tempo para conviver , passear, sobram olhos vigilantes para tirar a privacidade, cuidados a tomar para que o que seria normal não pareça estranho ou não seja aproveitado pelos adversários.
E correndo, correndo sempre, para um trilhão de compromissos, menos aqueles do casal, que estes atrasam ao sabor dos deveres políticos.
Certa noite, enquanto Brizola seguia revirando papéis, fazendo anotações e despachos em processos que se acumulavam sobre a mesa redonda da saleta que fazia de escritório, D. Neusa, que o esperava para sair, impaciente, me falou:
-Brito, nos outros casais o homem fica impaciente enquanto a mulher fica se arrumando para sair. Aqui eu fico pronta, esperando o Leonel acabar de maquiar a mesa. 
Pois Marisa fica em Lula, gravada para sempre, em suas broncas e em sua serenidade, no seu companheirismo de sempre e na renúncia deter de dividi-lo com o Brasil.
Marisa tinha todo o direito de fraquejar, tantas vezes, desde o câncer que acometeu Lula até estes degenerados que o perseguem por ódio e pedir que, agora, finalmente, tivessem um pouco mais de tempo para viver.
Mas ela deixa a ele a resistência, indignada, mas contida, com que enfrentou tudo isso.
Fica também, por isso, como o travo amargo que não pode nos envenenar, o tempo de injustiças, perseguições, sobressaltos provocados pelo ódio político dos que refocilam a vida privada, desenterrando histórias marotas, quinquilharias e suspeitas.
Mas isso é miúdo, e miudeza a gente logo não sabe mais sequer onde está.
Marisa deixa Lula mais forte, porque ele já não vai sofrer com o que a ela fazem e ela vai sustentá-lo para enfrentar não só o que fizeram, mas que ele sabe que precisa, ainda, fazer pelo povo brasileiro.
Enganam-se os pequenos que acham que ficam nas grandes coisas frias.
Onde Marisa sobrevive e prossegue é onde ela queria ficar e se importa em deixar coisas: no coração de Lula.

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